Erro é o de quem parte como missionário e a certeza de que “vai ajudar os velhinhos e as crianças”. Rapidamente ao chegar a Vale de Cavalos o grupo de jovens dos Salesianos do Estoril que integrou a Missão Anima em Vale de Cavalos, Chamusca, Santarém, se apercebeu que tinha muito mais para aprender do que as pessoas que nos receberam. A verdade é que Vale de Cavalos precisava somente de luz, de esperança, de sorrisos e de reacender a chama da felicidade diária, tal como nós também inconscientemente precisávamos.
De 24 de fevereiro a 1 de março, o tempo em que decorreu a missão, os dias eram passados na alegria mais genuína. Começávamos com o abençoar do pequeno-almoço. De seguida, a oração na capela. Ficávamos a conhecer o santo desse dia e tentávamos viver o dia à sua imagem. Cantávamos o hino. Com tudo o que tínhamos. Mesmo que com a voz já rouca do quarto dia e a guitarra com menos uma corda, o sentimento de cantar o hino, de gritar o hino sabendo que aquele mesmo hino une corações, almas e pessoas, era de arrepiar.
O meu momento preferido foi o da partilha. Quando abrimos o nosso coração e, enquanto grupo, como um, contámos o que mais nos marcou. Que lavrámos a terra com o Senhor António, chorámos com a Senhora que não cantava desde a morte do marido, ou passámos uma tarde a ouvir o Senhor Zé contar a história do seu casamento. Também proporcionámos à comunidade momentos especiais connosco: uma noite de cinema, a via sacra, uma noite de talentos.
Às 18 horas do domingo, dia 1 de março, os nossos corações doíam de ver tanta gente tão querida a despedir-se de nós e a agradecer-nos por termos aparecido. “Sabes Maria Ana? O céu tem de ser como Vale de Cavalos”. Hoje, agora, redimo-me a guardar com calor no coração aquilo que vivi nos sete dias e a tentar ser essa mesma missionária no dia a dia. É reconfortante ir recebendo mensagens de miúdos especiais que agora nos dizem que se vão batizar e adormecer na certeza de saber que fomos efetivamente instrumentos de Cristo.