Contemplemos a beleza da memória e deixemos que ela revele o que a vida disseminou na história de cada um de nós. Fazer memória é trazer ao coração os acontecimentos do passado.
Rememoremos três factos de que fui testemunha:
Sé do Porto, 12 de julho de 1970, Ordenação sacerdotal. Pela nave central entrava uma figura maior: D. António Ferreira Gomes. Despojado das insígnias episcopais, permanecia envolvido da aura de homem superior. Naquela manhã, o Bispo do Porto impôs as mãos ao diácono Joaquim de Sousa Teixeira, tornando-o sacerdos in aeternum.
Grande foi aquele dia para a Família.
Ferreirinha, 2 de agosto de 1970, Missa Nova. Capela decorada com primor. O povo reunido celebrou a Missa Nova do Pe. Dr. Joaquim Teixeira com a felicidade de quem vê um dos seus atingir tão sublime meta.
Grande foi aquele dia para o Povo.
Lisboa, 13 de janeiro de 1995, Doutoramento em Filosofia Moderna e Contemporânea, Universidade Católica Portuguesa. Frente a um prestigiado júri, o padre Joaquim Teixeira, na defesa da tese, agigantou-se à altura do Bispo António Ferreira Gomes que, 25 anos antes, o tinha ordenado sacerdote e também ele, curiosamente, doutorado em Filosofia. Assembleia douta e ilustrada vibrou feliz quando foi lida a decisão do júri: “Aprovado com distinção e louvor, por unanimidade”.
Grande foi aquele dia para os Amigos.
“Nos muitos anos em que trabalhou no ensino superior, não foi menos do que um farol. A vida académica é complexa. Quando derivava para a má língua, o Prof. Doutor Joaquim Teixeira atalhava o diálogo, redirigindo-o para uma questão relevante em Filosofia. Quando derivava para uma conversa em que se insinuava a inveja pela ocupação de cargos, declarava com desconcertante simplicidade que nada daquilo lhe interessava porque, e cito, fui educado para não ter ambições. Quando uma reunião derivava em conflito agreste, procurava chamar os belicosos à razão e acalmar os ânimos. Quando algum colega se queixava da tibieza intelectual ou da falta de empenho de alguns alunos (estudantes que o Prof. Doutor Joaquim Teixeira tinha igualmente reprovado), manifestava a sua concordância, mas logo sublinhava a sua preocupação pela debilidade daqueles espíritos. Cito novamente: São jovens muito débeis. O que será deles vida fora? Quando, num evento científico, os palestrantes se afastavam da verdade, aderindo a modas científicas inconsistentes, declarava-o com serenidade e desassombro, mesmo que com escândalo dos adeptos”. As palavras são de Maria Inês Bolinhas, Professora de Filosofia na Universidade Católica e Professora Secretária da Faculdade de Ciências Humanas. E acrescenta: “Aulas meticulosamente preparadas. Bibliografias cuidadas. Avaliações rigorosas e minuciosas. O serviço à Escola e aos alunos. A procura da Verdade como meta”.
Grande é este ano 2020: 50 anos de sacerdócio, 25 anos de doutoramento.
Recordações várias, a mesma pessoa: culta, afável, salesiana.
Ad multos, caríssimo Pe. Joaquim Teixeira.