Tem 45 anos e entrou nos Salesianos já depois do serviço militar. Desde 2012 é administrador de diversas fundações que se ocupam da recolha de fundos para as missões salesianas. É também o responsável pelo programa de doações à distância da Fondazione Opera Don Bosco de Milão, que financia os estudos e as necessidades básicas e médicas de milhares de crianças em vários países.
Chamo-me Giordano Piccinotti, nasci em Manerbio, na região da Lombardia, a 23 de fevereiro de 1975, filho de Serafim e Maria. Salesiano desde 1998 e sacerdote desde 2006. Venho de uma família simples, os meus pais sempre me ensinaram a ser autêntico e a ganhar o pão com o suor do rosto. Passei os anos da minha infância na minha terra, Faverzano, entre família, oratório e igreja. Aqui aprendi o amor ao oratório e a Dom Bosco, graças ao meu pároco de então, padre Gianni. O desejo de ser padre, a vontade de estar num ambiente alegre, levaram-me aos Salesianos, ao Dom Bosco de Bréscia, onde frequentei os cursos de formação profissional e, no fim do percurso formativo, encontrei logo um ótimo trabalho. O passo seguinte foi o do serviço militar, experiência dura, mas profundamente enriquecedora para um rapaz da província como eu. No fim do serviço militar, pedi ao Provincial de então, padre Francesco Cereda, para entrar nos Salesianos de Dom Bosco. Desde aquele momento começou uma aventura fantástica e o Senhor mostrou-me de forma concreta o que significa receber o cêntuplo.
O meu percurso prosseguiu no pré-noviciado em Bolonha, onde terminei os estudos superiores, depois em Pinerolo no noviciado, o pós-noviciado em Nave, o tirocínio em Sesto San Giovanni, a teologia em Roma, concluída com a licenciatura em teologia espiritual. Depois da ordenação sacerdotal, a primeira obediência foi no Istituto Elvetico de Lugano, como administrador, depois em 2011 administrador provincial, e desde 2012 também de diversas fundações que se ocupam da recolha de fundos para as missões salesianas. Sou um salesiano feliz.
Sem dúvida alguma, a minha vocação nasceu em contacto com pessoas felizes por servir o Senhor. Penso no meu avô Piero, falecido aos 98 anos, que me ensinou o valor da oração. Penso no pároco diocesano da minha terra, padre Gianni Piovani, no amor que sempre teve por
São João Bosco. Passava os cálidos verões na baixa de Bréscia a organizar as atividades de verão e os campos de férias para nós rapazes. Penso nos meus pais e no testemunho de amor e fidelidade, vividos no quotidiano. Eles ensinaram-me o valor do sacrifício, da caridade, do serviço gratuito aos pequenos e aos pobres. A minha vocação está profundamente ligada às pessoas e à minha terra.
Atualmente ocupo-me da gestão de três fundações: a Opera Don Bosco nel mondo de Lugano (Suíça), a Fondazione Opera Don Bosco onlus de Milão, e a Fondazione Don Bosco in Der Welt Stiftung di Schaan (Liechtenstein), fundações que recolhem fundos para as missões salesianas do mundo inteiro.
«Continuai a fazer o bem e a fazê-lo bem!», o lema da Fondazione Opera Don Bosco nel mondo
Este mote era muito querido ao padre Arturo Lorini, salesiano fundador na Lombardia do apoio à distância para milhares de rapazes pobres no mundo. Parece-me que espelha bem o nosso modo de trabalhar. Não basta fazer o bem, é preciso fazê-lo bem, criando possibilidades de desenvolvimento para o futuro. Para muitos é uma segunda e última chance. Este era o pensamento educativo do nosso pai Dom Bosco.
Cada projeto, um milagre
Cada realização é um milagre tornado possível por benfeitores, estruturas, salesianos, rapazes e muita oração. Uma das mais belas realizações é certamente a do apoio à distância que nos dá a possibilidade de apoiar vários milhares de rapazes em todo o mundo. O apoio concreto de inúmeras famílias que desde há muitos anos, algumas há mais de 20, garantem aos rapazes a possibilidade de frequentar a escola e ter até um pequeno apoio alimentar.
Em dezembro, inaugurámos a nova padaria de Dekemhare na Eritreia, onde 500 rapazes poderão não só ter o pão de cada dia, mas também aprender a confecioná-lo. Em janeiro, dei a bênção à escola infantil das Filhas de Maria Auxiliadora em Hlaling Thar Yar, na periferia de Yangon, em Mianmar, onde as irmãs salesianas trabalham num bairro budista ortodoxo, caraterizado por uma grande pobreza e por muitos outros problemas. No Sri Lanka, está já concluído um projeto muito bonito e em sintonia com os tempos. Graças a um importante grupo industrial, os jovens da região de Metiyagane poderão frequentar os cursos de engenharia no novo instituto, construído com tecnologias modernas. Haveria muitos outros projetos…
Cada viagem é uma ocasião de novas histórias, experiências de vida e, sobretudo, de pessoas com o coração cheio de esperança, muita esperança! Dezenas de encontros, dezenas de rostos que nunca esquecerei. Cada pessoa ocupa no meu coração e na minha oração um lugar particular.
Por ocasião de uma viagem ao sul da Índia, em visita à missão salesiana e à cidade de Salem, confrontei-me com uma experiência bastante comum na vida de quem como eu acompanha as missões: o encontro com os rapazes e as raparigas da escola, um momento de agradecimento aos benfeitores, profundamente sentido no coração de cada jovem. À primeira vista, nada de diferente em relação às outras missões, mas, à medida que me encontro com os rapazes, dou-me conta de que na realidade há algo de diferente: a tipologia de crianças e de jovens acolhidos. Chegam a Salem enviados pela polícia e pelo tribunal, na maior parte são histórias de jovens abandonados ou vendidos pelas próprias famílias. Famílias demasiado numerosas que para sobreviver são forçadas a realizar este ato “contra natura”.
Arul, um miúdo de oito anos, muito pequeno, abraça-me com força e num tímido inglês diz-me: thank you. Comovo-me. Já refeito da emoção, peço a história daquele menino. Dizem-me que Arul foi encontrado por alguns colaboradores leigos, parado num cruzamento de estradas, com uma caixa de madeira nas mãos com fósforos dentro. Chamam-lhe o “pequeno fosforeiro”. Um dia, os seus pais dizem-lhe que têm de o deixar com “parentes” por algum tempo, porque têm de fazer uma viagem. Na realidade, vendem-no a um bando de criminosos que utiliza os pequenos para pedir esmola nas ruas da cidade. Arul agora está em segurança, os salesianos são a sua família e os outros pequenos querem-lhe bem, no seu coração há só um sentimento: a gratidão, e o sorriso por detrás daquele thank you revela-o com simplicidade. Pensei logo que os destinatários da nossa missão nos permitem crescer e amadurecer, não somos nós que os ajudamos, mas são eles que nos ajudam a ser um pouco menos egoístas. Nunca como naquela ocasião fiz minha a frase de António César Fernández, um salesiano Santo, missionário, trucidado no Burkina Faso em 2019: “São os jovens do mundo que me ensinaram a ser salesiano”.
Projetos e sonhos
A vida não me pertence, está nas mãos de Deus e, no que diz respeito aos projetos, habitualmente ocupa-se deles a Auxiliadora. O desejo que trago no coração é só de fazer a sua vontade através da mediação e da inteligência criativa dos Superiores. Espero poder continuar a levar por diante muitos projetos missionários no mundo, projetos que possam dar aos jovens uma “oportunidade”. Muitas vezes me aconteceu encontrar rapazes nos mais variados lugares do globo que me agradeceram pela oportunidade que os salesianos lhes deram. Como filho de Dom Bosco, acredito sinceramente que todo o homem tem direito a uma possibilidade de resgate, humano, social e espiritual. Todo o homem tem direito a uma “nova oportunidade”.
Uma tarde, no Sri Lanka, visitámos o orfanato de Uswetakeiyawa, onde 41 meninos órfãos dos três aos 12 anos são acolhidos pelos salesianos. A obra salesiana chama-se “Don Bosco Sevana” e mais do que um instituto é uma verdadeira e própria família, onde dois salesianos vivem 365 dias por ano com estes pequenos, vítimas de abusos e de violências. Fiquei muito impressionado com o clima de família que se respira nesta casa de Dom Bosco. Falando com o responsável da obra, padre Anthony Pinto, compreendi logo que estão em graves dificuldades económicas. Por isso decidi iniciar uma colaboração concreta e, através da rede Opera Don Bosco, enviaremos um apoio anual de 10.000 euros e um contributo posterior para preparar o campo de basquetebol.
Quando o padre Pinto anunciou aos pequenos as minhas intenções, houve grande emoção, e a alegria de cada um deles tornou-se logo reconhecimento, estavam muito contentes e abraçavam-se uns aos outros. Algumas lágrimas sulcaram o seu rosto. Para as nossas fundações é um pequeno gesto, mas para aqueles pequenos é uma esperança de futuro. A obra “Don Bosco Sevana” merece certamente e continuaremos a ajudar salesianos e meninos, para que possam olhar para o futuro com o mesmo entusiasmo dos rapazes que vivem nas nossas latitudes. Quando visito uma obra salesiana de acolhimento, observo sempre três lugares: o refeitório, os chuveiros e as camaratas. Faço-o porque quero que sejam lugares acolhedores, limpos, e ambientes onde os rapazes são acolhidos com dignidade. Ao passar nos dormitórios, a minha curiosidade fixa-se num patinho amarelo, apoiado num travesseiro. O padre Pinto diz que naquela cama dorme um pequeno de oito anos que nunca conheceu mãe nem pai e à noite, para adormecer, aperta com força o patinho e diz-lhe: “quero-te bem”. Projeta no patinho o desejo de afeto. Vejo-me obrigado por um “petiz” a fazer um profundo exame de consciência. De mim para comigo, pensava: na minha vida tive tantas vezes a sorte de ser fortemente abraçado e de me sentir amado, há tantas pessoas que me querem bem. Tantas vezes “fui patinho” e nunca me dei conta disso como hoje. Com dificuldade contive as lágrimas, é um murro forte no estômago, mas é também a mensagem mais bela: precisamente como o abraço das pessoas queridas que trazemos no coração.
Fotografias: Boletim Salesiano Itáilia/Fondazione Opera Don Bosco Nel Mondo
Publicado no Boletim Salesiano n.º 583 de Novembro/Dezembro de 2020