Colômbia: Renascer em Cali

O Centro de Formação Dom Bosco de Cali, na Colômbia, é uma das instituições que colabora desde 2002 com o estado colombiano na reinserção social de jovens ex-combatentes dos grupos guerrilheiros.

Entre os primeiros artigos entregues aos jovens que chegam à Casa de Proteção em Cali, Colômbia, encontram-se uniformes. Estes são os uniformes que caraterizam os ofícios que aprenderão nessa comunidade, onde são acolhidos e apoiados pelos Salesianos para obter um diploma numa das especializações profissionais oferecidas. Estes jovens estão habituados aos uniformes: até há algum tempo, usavam os dos grupos armados que mantêm a Colômbia refém de uma guerra interna.

Em Cali, vestir um uniforme significa dar um passo do anonimato à identidade, da escravatura à liberdade, e não apenas simbolicamente. Os trinta jovens, acolhidos em rotatividade, fazem parte de um plano nacional de reintegração social e económica estabelecido pelo governo de Bogotá e implementado por várias agências educativas, religiosas e laicais. Os Salesianos abriram a sua casa a este serviço em 2002 e desde então, juntamente com os salesianos nas cidades de Medellín e Arménia, trouxeram cerca de 3.000 jovens de volta à vida civil. “Beneficiam da ajuda de instituições estatais, mas a educação formal e a formação para o trabalho não têm financiamento”, explica o diretor do Centro de Formação Don Bosco, Pe. Jaime Dalberto Gómez Vega. “Mas todos devem ter direitos iguais: não se pode fazer a diferença com a falta de materiais e ferramentas para a formação”, defende.

Dois terços destes jovens são homens; a taxa de sucesso é de 85%. Os outros regressam ao vórtice da violência ou a uma vida de marginalidade.

As histórias contadas por estes rapazes são uma destilação de um mal sem sentido. Os colombianos nunca tiveram longos períodos de paz social e governo estável. A desigualdade entre as classes sociais levou os movimentos revolucionários a protestar. Nasceram as FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, e outros grupos. Nesta confusão, foi fácil entrar no jogo das organizações criminosas. Uma guerrilha que dura décadas perde gradualmente os seus motivos, apoio popular e meios de subsistência. Como resultado, mudam de pele, confiam em hierarquias cada vez mais violentas, aceitam financiamento para se manterem calados sobre os negócios ilícitos dos traficantes. No início deste milénio, as FARC viram-se com uma geração de combatentes que nada sabia das causas, homens e mulheres cada vez mais jovens.

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São estes os jovens que chegam às obras salesianas em Cali, Arménia e Medellín, há vinte anos. Aí encontram aqueles que, com o método adquirido a partir da experiência pedagógica que começou em Valdocco e tem sido praticado desde 1890 também na Colômbia, conseguem fazê-los ganhar estima pelos outros e por si próprios.

Não é fácil ganhar a confiança destas raparigas e destes rapazes. Não conheceram um professor. A “escola” que frequentaram com os grupos armados é a de pura violência.

Os testemunhos destes adolescentes são uma tentação para uma certa imprensa que procura explorar situações horríveis. Os Salesianos também tentam protegê-los contra estas incursões. É melhor olhar para o futuro.

Também a nível espiritual: uma perda fundamental nos anos no mato é a própria fé religiosa, que, se ressurge, é para os fazer sentir-se culpados sem apelo. Trazer de volta a Deus rapazes e raparigas que mataram, que carregam o sentimento de culpa pela violência de que foram vítimas, que tiveram de pisar a sua consciência para não enlouquecerem, é decisivo. Perdoar, perdoar-se a si próprio. Perceber a bondade amorosa do Pai.

A vida é integralmente vivida dentro do Centro, todos os dias. Há razões de segurança por detrás desta escolha. Os seus nomes não são apagados das listas nas mãos dos líderes guerrilheiros.

Vestidos com os seus novos uniformes, ganharam segurança e sentem orgulho na sua carreira profissional. Desta vez, são uniformes de trabalho.

Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália

Fotografias Centro de Formação Dom Bosco

Publicado no Boletim Salesiano n.º 586 de Maio/Junho de 2021

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