Em 2020 os Salesianos comemoram 40 anos de presença na Papua Nova Guiné. Um desejo de aventura, acompanhado de um bom “presságio”, assim descreve a partida um dos três primeiros missionários, Pe. Valeriano Barbero.
Pode causar espanto que, ao contar o início da sua longa façanha missionária, o Pe. Valeriano Barbero, salesiano missionário italiano, a descreva antes de tudo como um desejo de aventura. Estava nas Filipinas, país a meio caminho entre o atraso económico e a globalização industrial, quando veio um pedido aos Salesianos da região para se abrirem à fronteira de Papua Nova Guiné.
Partindo com dois salesianos – o filipino Pe. Fernandez Rolando e o jugoslavo José Kramar –, despediu-se de Manila no dia da sua festa nacional. Era dia do Coração Imaculado de Maria, “o melhor presságio”, como ainda recorda o Pe. Barbero.
Enfiou-se nas florestas de palmeiras e águas pantanosas sem brandir o crucifixo: antes de tudo devia entrar em contato com o povo tal como era, torná-lo amigo, conhecer a sua cultura. Não se propusera batizar povoações inteiras, mas procurar os traços de Deus em cada indivíduo, descobrir o seu modo de pensar e uma possível predisposição para o Anúncio cristão.
“Não converti ninguém” – afirma fazendo o balanço dos seus anos até aqui passados em Papua Nova Guiné. Na verdade, preparou o terreno para que no momento oportuno o semeador pudesse intervir.
A realidade enfrentada não era simples: casas assentes em estacas, floresta pobre de alimentos, ausência de estruturas médico-sanitárias acessíveis… Como missionário, isto é, como autêntico anunciador do Reino de Deus, o Pe. Barbero empenhou-se em ouvir, esperar, e falar individualmente à consciência quando se lhe abria alguma oportunidade. Partilhou tudo com a população local: comeu enlatados como refeição única do dia, partilhou espaços sem energia elétrica e água potável, malária e lepra, com danos colaterais aos nervos ainda hoje presentes. Diz que são a dor dos pregos de Jesus na Cruz.
A primeira obra a que se dedicou foi um Centro de Formação Profissional, que, anos depois, se tornou a menina dos olhos do sistema formativo em todo o Arquipélago.
Na capital, Port Moresby, tornou visível a presença de Nossa Senhora com um Santuário dedicado a Maria Auxiliadora para recordar que tudo começou sob a Sua proteção.
A Visitadoria “Bem-Aventurado Filipe Rinaldi”, que inclui as presenças da Papua Nova Guiné e das Ilhas Salomão, foi reconhecida oficialmente em 2016. Com menos de 50 salesianos, vindos de 16 países, ela ocupa o espaço entre as realidades mais jovens, mas também mais prósperas, da Congregação. Hoje os Salesianos estão presentes com escolas, centros de formação profissional, paróquias, centros juvenis, oratórios e um aspirantado nas 10 obras existentes, oito na Papua Nova Guiné e duas nas Ilhas Salomão.
Retido em Itália devido à pandemia, o Pe. Barbero gravou uma mensagem para a festa dos 40 anos da chegada dos Salesianos à Papua Nova Guiné: quis lembrar a cada salesiano que “não deve sentir-se estrangeiro, mas ‘um’ com o povo”.
Publicado no Boletim Salesiano n.º 587, Julho/Agosto 2021