Embora o sistema das castas tenha sido oficialmente abolido na Índia, os Musahar são socialmente excluídos e os seus filhos em geral não vão à escola. Os Salesianos estão convencidos de que só a instrução pode quebrar esta infame cadeia.
Tarik, de oito anos, gosta de ir à escola, onde até já fez alguns amigos. Todavia, os seus colegas não podem ir vê-lo a sua casa.
A família Tarik pertence à casta dos Musahar, também chamados “comedores de ratos”. Vive com os pais e os irmãos numa pequena cabana sem eletricidade e sem água corrente, num aglomerado na periferia de Ithari.
«O sistema das castas na Índia é ainda muito forte. A casta de pertença condiciona a vida das pessoas. Os Musahar ocupam o degrau mais baixo da estrutura das castas. Os seus filhos em geral não vão à escola», conta o padre Melchior Tirkey, diretor da Escola Dom Bosco de Ithari, no estado de Bihar, no norte do país. E se os rapazes ou as raparigas frequentassem a escola estatal, seriam insultados e marginalizados. Isto acontece apesar de, desde 1950, nenhum indiano poder ser discriminado por causa da casta. Assim está escrito na Constituição indiana.
As crianças da casta dos Musahar frequentam a Escola Dom Bosco. «Convencer as famílias a mandar os seus filhos à escola requer um grande trabalho de persuasão», explica o salesiano. Este é o motivo pelo qual os assistentes sociais iam todos os dias ao aglomerado dos Musahar, a poucos metros de distância da estrutura escolar. Hoje os rapazes da comunidade dos Musahar frequentam a escola Dom Bosco. Um deles é Tarik. Os seus quatro irmãos mais velhos nunca frequentaram a escola. «Somos muito pobres e por isso não podemos mandar os nossos filhos à escola», conta Deepak Kumar, de 45 anos, jornaleiro. Há dias em que a família tem de ir para a cama sem comer. «Pensamos que é importante que pelo menos o nosso filho mais novo vá à escola. E esperamos que depois encontre um bom trabalho e possa ajudar toda a família. Só queremos viver como as outras pessoas: ter trabalho, casa e dinheiro».
«As crianças não podem ir à escola porque estão desprovidas de tudo. Não têm vestuário, livros, canetas», explicou a assistente social Sónia Meeza Devi, que todos os dias visita a comunidade da aldeia de Musahar em Ithari.
Devido às condições precárias em que vivem os Musahar, muitos não ultrapassam os 45-50 anos. Sofrem de malnutrição e não têm acesso a cuidados médicos. Os Musahar não têm terrenos nem outras propriedades e são muito pobres. Os homens trabalham como jornaleiros ou assalariados agrícolas. Vivem em aglomerados na periferia das aldeias, sem eletricidade, sem água e em condições desumanas. São quase todos analfabetos. Nem sequer os programas de apoio organizados pelo governo conseguiram alterar esta situação.
O único modo de interromper este círculo vicioso é a educação. Na Escola Dom Bosco as crianças recebem livros, cadernos, canetas e o almoço.
Num aglomerado de Musahar em Dhansoi, a Família de Dom Bosco trabalha em estreita colaboração com as Irmãs Missionárias do Coração Imaculado de Maria. As irmãs dão lições escolares às crianças no praça da aldeia. O objetivo é preparar os alunos para frequentar a escola regular. As crianças estudam com entusiasmo, mas, quando chega o momento de passar para as escolas estatais, muitas delas preferem ficar em casa. «O problema principal é que as famílias não têm rendimentos. Não recebem nenhum apoio financeiro», precisou Kunti Devi. Aos 50 anos, Kunti, analfabeta, resolveu reivindicar os seus direitos e da sua comunidade. Graças a si têm uma ajuda significativa dos assistentes sociais e das irmãs do Centro Dom Bosco. Isto dá-lhe coragem. Também tem participado em cursos de formação. Não aceita a discriminação diária. «Agora sei que antes de tudo sou um ser humano. Não importa como me chamam os outros».
Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália. Fotografias: Marco Keller/Don Bosco Mission
Publicado no Boletim Salesiano n.º 592 de maio/junho de 2022
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