D. Vitaliy Krivitsky é natural de Odessa, na Ucrânia. Salesiano, ocupou diversos cargos nas presenças salesianas de Odessa, Korostyshiv e Peremyshlany. Em 2017 foi nomeado pelo Papa Francisco Bispo da Diocese de Kiev-Zhytomyr. A Agência de Notícias Salesiana publica o seu testemunho sobre a guerra.
O salesiano D. Vitaliy Krivitsky, Bispo da Diocese de Kiev-Zhytomyr, é um prelado jovem. Tem 49 anos e, quando foi nomeado para conduzir a diocese em 2017, tinha apenas 44. Muito provavelmente jamais pensou que, entre os seus deveres de pastor, haveria de acompanhar um rebanho devastado e assustado por uma guerra, ou coordenar a gestão de auxílios recebidos, responsáveis pela sobrevivência de milhares de pessoas.
O bombardeamento da noite de 24 de fevereiro surpreendeu a ele e a todos. “Foi um choque – diz –. Estamos no meio de uma guerra, numa das provas mais difíceis para o amor cristão: a de conseguir amar os inimigos”.
“Durante as conversas com os fiéis ou com os meus sacerdotes comentamos quantas vezes, no passado, ao ler as passagens do Evangelho em que Jesus diz que é preciso amar também aos inimigos; e pensamos: ‘Claro, é isso, Jesus está certo!’. No entanto, tudo parece simples até ao momento em que é necessário pô-lo em prática”, acrescenta o prelado, durante uma entrevista concedida ao sacerdote salesiano Roman Sikon e a Michal Krol, da Organização Não-Governamental “Salesian Missions”, durante um intervalo entre as visitas de encorajamento e de ajuda aos fiéis da sua Diocese. “A guerra é uma das provas mais difíceis para o amor cristão, a de amar os nossos inimigos”.
A experiência destes mais de dois meses de combates levou-o a dar um testemunho sobre a guerra: testemunho que, de outra forma, não pareceria verdadeiro. “Sem minimizar o que ocorre em Mariupol, Chernihiv, Kharkiv…, as pessoas que vivem nas áreas mais seguras estão a viver uma experiência mais intensa de guerra. Sentem o ódio de que a Ucrânia está a ser alvo com esta agressão, e muitos sentem ódio pelo que veem acontecer ao seu país. É medo puro, é a morte que caminha pelas ruas das nossas cidades. Já nas áreas mais diretamente expostas aos confrontos, há pessoas que não perderam o otimismo, que também conseguem brincar nestes tempos difíceis e que sentem a proteção de Deus quando precisam passar entre as balas”.
Por isso, o salesiano não deixa de confortar os seus religiosos, os sacerdotes e todos os voluntários que estão envolvidos no apoio humanitário aos necessitados – que, neste momento, na Ucrânia, são muitos. “Obrigado pelo que faz” é a expressão que acompanha os abraços de conforto de D. Vitaliy Krivitsky.
Ao atravessar os corredores das igrejas, frequentemente transformados em armazéns, observa os recursos disponíveis, o trabalho feito e o trabalho que ainda há para fazer. Conhecendo as necessidades da sua Diocese, organiza com os salesianos uma ajuda adequada: por exemplo, pediu pão, que foi enviado por um camião vindo da Polónia com outros alimentos, lençóis, e colchões…
Ele mesmo participa, por videoconferência, nas sessões da equipa de coordenação salesiana para a gestão da ajuda à população ucraniana. “Muitas coisas mudam de um dia para outro – continua – . Tínhamos alguns bens para enviar a Chernihiv, onde a população corre o risco de ficar sem comida, mas agora só é possível chegar à cidade pelo rio. Agora precisamos providenciar alguns barcos”.
No domingo de Páscoa, a Rádio Renascença publicou uma entrevista do enviado à Ucrânia José Pedro Frazão a D. Krivitsky. Questionado sobre quando poderá a Ucrânia viver a alegria da Páscoa, o Bispo respondeu “Em breve, Deus sabe, provavelmente haverá um dia em que nos poderemos alegrar ainda mais, porque vencemos. Nós não apenas derrotaremos o inimigo, mas também venceremos o ódio em nós mesmos. Venceremos algumas trevas que vieram agora, durante a guerra. Derrotaremos a morte para viver”.
Não só no papel de irmão unido pelo carisma salesiano mas também como guia da Diocese de Kiev-Zhytomyr, D. Krivitsky expressa a sua gratidão pelo trabalho da Família Salesiana em favor da população ucraniana. “Obrigado pelas doações enviadas, pelo auxílio durante a fuga dos refugiados e por qualquer outra ação, porque estamos dependentes da vossa ajuda” – acrescenta o Prelado ao concluir a reunião online com a coordenação salesiana, pouco antes de saudar todos e dar a sua bênção.