“Jesus Cristo Fez-Se pobre por vós”, esta frase da Carta de São Paulo aos Coríntios, serve de inspiração à mensagem do Papa Francisco para este 6º Dia Mundial dos Pobres.
As palavras com que o apóstolo Paulo se dirigiu aos cristãos de Corinto, para fundamentar o seu compromisso de solidariedade para com os irmãos necessitados, são a base para a reflexão que o Papa Francisco nos propõe neste 6º Dia Mundial dos Pobres.
Depois de o mundo se ter deparado com dois anos de pandemia, e quando parecia que começavam a surgir os primeiros sinais de recuperação económica, eis que surgiu uma nova catástrofe: a guerra da Ucrânia. Esta veio impor ao mundo um cenário diferente, já que, tal como refere o Papa Francisco na sua mensagem, uma “«superpotência» pretende impor a sua vontade contra o principio da autodeterminação dos povos”.
A insensatez da guerra gera inúmeros pobres, e os mais atingidos pela violência são, sem dúvida, os mais indefesos e frágeis. São milhares aqueles que todos os dias são obrigados a desafiar o “perigo das bombas”, para colocar a sua vida a salvo.
A carência de comida, água, cuidados médicos e, sobretudo, de “afeto familiar”, são consequências graves, que aumentam, ainda mais, um número já de si elevado de pobres.
Contexto desfavorável
É neste contexto que se celebra mais um Dia Mundial dos Pobres e, tal como nos diz São Paulo, somos convidados a “manter o olhar fixo em Jesus”, que “sendo rico se fez pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza”.
Também nós, a cada celebração da Santa Missa, recordamos este gesto e colocamos, em comum, as nossas ofertas para que a comunidade possa ajudar os mais necessitados e carenciados. Este é um gesto que os cristãos sempre cumpriram, com alegria e responsabilidade, para que, tal como afirma o Santo Padre, “a nenhum irmão e irmã nunca faltasse o necessário”.
A um outro nível, é também de total importância referir a disponibilidade de todos quantos têm, nos últimos anos, aberto as portas das suas casas para acolher milhões de refugiados. “As famílias abriram as suas casas para deixar entrar outras famílias, e as comunidades acolheram, generosamente, muitas mulheres e crianças para lhes proporcionar a devida dignidade”, sublinha Francisco na sua mensagem. Mas os povos que acolhem têm cada vez mais dificuldade em dar continuidade à ajuda, e nesse sentido, o Papa Francisco refere “este é o momento de não ceder, mas de renovar a motivação inicial. O que começamos precisa de ser levado a cabo com a mesma responsabilidade”.
A solidariedade é precisamente isso, o partilhar o pouco que temos com quantos nada têm e quanto mais crescer o sentido de comunidade e comunhão, mais se vai desenvolver a solidariedade. “Possa o património de segurança e estabilidade alcançado ser agora partilhado com quantos foram obrigados a deixar as suas casas e o seu país para se salvarem e sobreviverem. Como membros da sociedade civil, mantenhamos vivo o apelo aos valores da liberdade, responsabilidade, fraternidade e solidariedade; e, como cristãos, encontremos sempre na caridade, na fé e na esperança o fundamento do nosso ser e da nossa atividade”, conclui o Papa Francisco.
Só acolhendo é que é possível dar expressão concreta e coerente da nossa fé, o que acontece muitas vezes é que os cristãos, devido a um apego excessivo ao dinheiro, fazem um mau uso dos seus bens e do seu património, manifestando uma fé “frágil e uma esperança fraca”, sublinha Francisco. Aqui, o problema não está, como é óbvio, no dinheiro, em si, mas sim, no uso que fazemos dele.
Sabemos que o dinheiro faz parte da nossa vida, das nossas relações sociais. O que temos de refletir é sobre o valor que o mesmo tem para nós. “Nada de mais nocivo poderia acontecer a um cristão e a uma comunidade do que ser ofuscados pelo ídolo da riqueza, que acaba por acorrentar a uma visão efémera e falhada da vida”, conclui o Papa Francisco.
A verdadeira riqueza
Mas qual é a verdadeira riqueza? Aquela que nos liberta e que nos faz verdadeiramente estar próximos de Deus?
A verdadeira riqueza não consiste em acumular “tesouros na terra”, mas, sim, em dar e receber amor, que nos faz carregar os fardos uns dos outros, do modo a que ninguém seja abandonado ou excluído.
A mensagem que Jesus nos deixou mostra-nos o caminho e faz-nos descobrir uma pobreza que humilha e mata e uma outra – a d’Ele – que liberta e nos dá serenidade. “A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte, que não oferece perspetivas nem vias de saída. É a miséria que, enquanto constringe à condição de extrema indigência, afeta também a dimensão espiritual, que, apesar de muitas vezes ser transcurada, não é por isso que deixa de existir ou de contar”, sublinha Francisco. Por outro lado, a pobreza libertadora é que se nos apresenta como “uma opção responsável para alijar da estiva quanto há de supérfluo e apostar no essencial”, refere o Sumo Pontífice.
Na verdade, e como sublinha Francisco, os pobres antes de ser objeto da nossa esmola são “sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade”.
Confiante de que “a pobreza de Cristo nos torna ricos”, o Papa termina a sua mensagem para este Dia Mundial dos Pobres com a seguinte ideia: “Nunca deixemos de ser, em tudo, pobres, irmãos dos pobres, companheiros dos pobres; sejamos os mais pobres dos pobres, como Jesus, e como Ele amemos os pobres e rodeemo-nos deles”.
Celebração vivida
Para assinalar o Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco vai presidir a uma Eucaristia na Basílica de São Pedro, a partir das 10h00 (hora de Itália).