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Voluntárias de Dom Bosco: Uma vida simples e comum que esconde um fogo

Irmãs falhadas? Meio freiras? Irmãs leigas? Não, são consagradas seculares salesianas. Entregam toda a sua vida a Deus através dos conselhos evangélicos, mas nada as distingue dos outros cristãos: vivem em casas normais, têm empregos normais e vivem no espírito de Dom Bosco.

Dom Bosco havia imaginado a existência de pessoas que pudessem compartilhar em plenitude o carisma salesiano, mas não conseguiu pôr em execução o ideal de uma consagração secular, que naquela época haveria sido completamente visionária. A intuição foi do padre Rinaldi, o seu terceiro sucessor. Entre os muitos encargos encontrava sempre tempo para passar as primeiras horas do dia no confessionário. As confidências de algumas raparigas impeliram-no a procurar uma forma nova de viver o carisma salesiano. Formou um pequeno grupo de oratorianas e propôs-lhes “fazer do desejo de se entregar a Deus e a Dom Bosco” uma opção de vida, continuando a levar uma vida normal, mas com a radicalidade do dom total de si. O seu modelo devia ser Maria. Os inícios foram marcados pela humildade e pela precariedade: os primeiros encontros realizaram-se quando a Itália estava ainda envolvida na Primeira Guerra Mundial e as primeiras a professar foram três. O pequeno grupo caminhou na dificuldade inicial para dar forma a um modo de viver a consagração então inconcebível.

Padre Filipe Rinaldi
As Voluntárias de Dom Bosco hoje

Atualmente as Voluntárias são cerca de 1200, espalhadas por quase todos os continentes. Algumas vivem bastante próximas entre si, ao passo que outras se encontram em situações difíceis, por exemplo encontram-se a horas de viagem da mais próxima ou vivem em países que não veem com bons olhos a presença de cristãos. Pertencem a um grupo, com uma responsável e a assistência de um sacerdote salesiano. O seu percurso no Instituto começa com um período de aspirantado e prossegue com a profissão dos votos, primeiro temporária e depois perpétua.

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Embora muitas trabalhem no campo educativo ou socio-sanitário, qualquer profissão pode ser um instrumento para testemunhar a fé através da entrega, da competência e do cuidado dos outros.

O carisma salesiano dá forma à sua pertença. O seu modo de encarnar o espírito salesiano não se exprime através de Obras, mas é como que espalhado no seu ambiente de vida. Fazem-no com a sensibilidade que a feminilidade lhes oferece: como Dom Bosco foi um pai, as Voluntárias procuram viver uma maternidade espiritual para com as pessoas que lhes são confiadas.

No mundo, mas não do mundo

O seu lugar na Família Salesiana é o das vanguardas, das extremidades. Não estão nas realidades onde as pessoas já são acompanhadas por Obras salesianas. O impulso é ir a outros lugares, onde um padre ou uma irmã dificilmente poderiam ser acolhidos no seu testemunho explícito. Esta condição de vida aproxima-as da grande maioria das pessoas e a sua força está precisamente em não se distinguirem em nada das outras pessoas. Próximas dos irmãos, acompanhando na simplicidade e na dificuldade da vida quotidiana. Atuam como o fermento na massa.

Consagradas

A consagração é o modo mais radical de afirmar que, por trás do quotidiano, há um dom total e radical de si. Não têm uma comunidade, não vivem a pobreza de uma religiosa, sustentam-se com o seu trabalho. Não vivem a obediência dos religiosos, mas estão radicadas em cada lugar onde trabalham e atuam. Através do discernimento procuram a obediência na vontade de Deus, e nas leis civis. Procuram ler os sinais dos tempos e escutar o grito da humanidade.

Com frequência surge a pergunta: porque não revelam a sua opção de vida? A força da discrição está no escondimento, na humildade e na liberdade de levar a toda a parte um testemunho. Onde não podem falar explicitamente, empenham-se para que os seus gestos falem por si, na consciência de que Deus pode servir-se de qualquer caminho e instrumento para acender uma centelha em qualquer alma.

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A minha escolha

Naturalmente não posso assinar este texto, mas posso revelar o motivo pelo qual decidi apostar a minha vida nesta vocação. Desde que conheço Dom Bosco, descobri que também eu posso dar, que Deus pode servir-se também de mim para manifestar o seu amor. Cuidando dos mais pequeninos descobri que isto me tornava feliz. Do mesmo modo Deus queria bem a eles e a mim, então desejei dar-lhes toda a minha vida. Ainda que não compreendesse como fazer, repetia a mim mesma “eu estou com Dom Bosco”. Quando descobri este caminho – e Deus encontra os modos mais originais para nos indicar o caminho, por muito escondido que seja –, senti-me em casa e pedi a Deus que me fizesse estar sempre unida a Ele: se eu não soubesse ser fiel, que o fosse Ele por mim, para que a minha vida pudesse ajudar pelo menos uma alma a aproximar-se d’Ele. Desde que sou consagrada não vivo nas nuvens, não resolvi nenhum problema e não salvei o mundo, mas sei de quem sou e cada momento da minha vida adquiriu sentido. Encontrei “Irmãs”, porventura muito diferentes de mim, mas com quem posso partilhar um caminho que me torna feliz e que espero possa difundir o amor de Deus nos lugares onde me encontro.

Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália

Publicado no Boletim Salesiano n.º 598 de maio/junho de 2023

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