A propósito do Centenário das Aparições de Fátima, o Boletim Salesiano ofereceu uma coleção de 31 aguarelas originais ao Papa Francisco. O momento aconteceu no dia 18 de outubro numa audiência com o Papa na Praça de São de Pedro, no Vaticano. Nuno Quaresma, o autor das aguarelas, conta a experiência.
“Possam os artistas irradiar a beleza da fé e proclamar a grandeza da criação de Deus e o seu amor infinito por todos”. Papa Francisco, Twitter @Pontifex_pt, 12.30h de 18 de outubro de 2017
Saí de Lisboa como quem abraça uma demanda pelo Sentido e pelo Divino.
Durante os meses de abril e maio deste ano já tinha endereçado os meus esforços e pensamentos a estas mesmas questões, entre pincéis e aguarelas, sem compreender completamente o alcance e a pertinência do trabalho e arte a que afincadamente me dedicava.
Porém, nesta partida, com sabor a aventurança, percebi que o que procurava era talvez Deus, os seus caminhos, e que este trabalho tinha sido também veículo para consumar esse percurso.
Partia para participar numa oferta ao Santo Padre, mas percebi que ia também ao seu encontro como quem almeja encontrar o amor, inspiração e compaixão do Bom Pastor na sua companhia e no seu olhar.
Este encontro era afinal uma maravilhosa singularidade e a minha intuição antecipava algo de transformador e especial.
Dia 18 ao meio dia, na Udienza Generale, após as leituras e mensagem endereçadas ao Mundo e aos milhares de pessoas acolhidas, como que num abraço, pelas colunatas de Bernini da Praça de S. Pedro, o meu olhar estava galvanizado pela alegria e pela comoção da multidão e pelo entusiasmo irradiante e contagiante do Pe. Artur e do Dr. Antunes.
A manhã findava e desvelava à hora um sol que tinha andado timidamente escondido e aguardávamos com expetativa a passagem do Papa Francisco.
Passados uns momentos estávamos de mãos dadas, a folhear e explicar algumas das 31 aguarelas pintadas para celebrar o Centenário das Aparições em Fátima.
“São dedicadas a Maria” balbuciei, sem querer açambarcar aquela atenção doce, de olhos postos em cada um dos presentes, como se naquele momento mais ninguém existisse.
São dedicadas à Mãe de Jesus, Mãe de todos, Mãe que tudo suporta, e nos ampara… Já não disse, mas pensei, enquanto olhava para a senhora ao meu lado que chorava enquanto o Papa Francisco lhe arrumava ternamente os cabelos com uma festa no rosto.
E naquele gesto via a senhora a render o choro à tranquilidade, num momento de fascinante empatia e generosidade.
E ainda consegui ver que ele ia estando assim com todos por quem passava.
Que dom este, o da presença completa que nos dá tempo para ver e sermos vistos, para amar e para sentir o toque do seu amor.
Passados alguns momentos, já estávamos a calcorrear as ruas de Roma, alinhados para o regresso.
“Já estamos a caminho do aeroporto. Tudo decorreu como esperávamos. Muita emoção. O Papa Francisco, ao ver a aguarela do sol, disse que tinha muito movimento e repetiu duas vezes que o Nuno era um artista, fixando-o”, relatava o Dr. Antunes, via blackberry para o Boletim Salesiano, enquanto seguíamos para o Aeroporto Leonardo da Vinci, em Fiumicino.
Na altura não elaborei, mas agora penso…
Que movimento esse que moveu e comoveu tantos, que não deixou ninguém indiferente.
Não será esse também o lugar da arte e do artista, o do inconformismo e luta contra a relativização e indiferença?
Na Casa Dom Bosco, olho agora para o ecrã enquanto perscruto no navegador pela conta de Twitter do Papa Francisco.
Releio as suas palavras: “Possam os artistas irradiar a beleza da fé e proclamar a grandeza da criação de Deus e o seu amor infinito por todos”… e sorrio enquanto revejo todas as imagens e obras que Lhe quero dedicar e outras tantas que serão certamente sua graça e desafio, e agradeço esse “amor infinito por todos”.
E porque um dos maiores sinais do seu amor é muitas vezes o amor dos que nos rodeiam, agradeço muito a generosidade do Pe. Artur Pereira, do Diácono Joaquim Antunes, mentor desta iniciativa, de toda a Comunidade Salesiana, à Raquel, ao Miguel e ao Rui – que me ajudam diariamente a sintetizar o caos do processo criativo em obras de maior elegância e ajuste ao serviço da comunicação social salesiana – aos jovens dos nossos pátios, aos colegas e educadores, aos meus filhos David e Martim, à minha Ana e a toda a família que são o campo fértil onde toda a boa semente germina.
Publicado no Boletim Salesiano n.º 565 de Novembro/Dezembro de 2017