Salesianos de Manique

Salesianos de Manique: Uma Escola “global”, para um mundo melhor

Foi no dealbar da década de 60 do século passado que Herbert McLuhan [1911-1980], filósofo canadiano e professor da Escola de Comunicações da Universidade de Toronto, utilizou pela primeira vez o conceito de aldeia global.

Aquele autor acreditava que, num futuro próximo, o avanço nas tecnologias de informação e comunicação encurtaria as distâncias no mundo, aproximando povos e nações, e que, devido à diminuição das distâncias e barreiras geográficas, o planeta viria a reduzir-se a uma organização semelhante a uma aldeia, onde tudo e todos estariam interconectados.

Era cedo demais, no entanto: faltavam ainda quase trinta anos para a World Wide Web ser inventada e, à data, o conceito não mereceu especial atenção.

Quando, no já longínquo ano de 1978, o mundo acolheu a notícia da eleição de Karol Wojtyla, Arcebispo de Cracóvia, fê-lo com especial surpresa: afinal, era o primeiro Papa eslavo da história e o primeiro não italiano depois de quase meio milénio.

Um longo pontificado que ficaria na história por muitas e variadas razões, mas particularmente pelo seu incessante peregrinar pelo mundo, numa atividade pastoral intensíssima repartida por visitas e viagens: no total foram 104 internacionais e 146 na Itália, com 129 países visitados nos cinco continentes – e nem o avançar da idade nem o agravar dos problemas de saúde o detiveram até ao fim.

Caberia assim a João Paulo II, ao eliminar fronteira após fronteira, inaugurar o conceito de globalização que McLuhan havia preconizado décadas antes. E quando em 1988 uma criança lhe perguntou, em Roma, “Porque viajas tanto?”, a resposta do Santo Padre não se fez esperar: “Porque o mundo não está todo aqui!”.

Começou por ser a “Quinta do Francês”, em janeiro de 1952 doada por Dona Maria Carolina de Sousa Lara, à Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, por intermédio de Padre Bartolomeu Valentini [1912-2012].

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Seminário Maior até 1980, o “Instituto Missionário Salesiano de Manique” daria depois lugar à “Escola Salesiana de Manique”, que em outubro desse ano acolhia os seus primeiros alunos: 12 meninas e 49 rapazes, um número que hoje ultrapassa os mil e setecentos, oriundos de 17 diferentes nacionalidades.

Apesar de a grande maioria ser portuguesa, rondam já a centena, no entanto, os que provêm dos quatro cantos do mundo: de países próximos como Espanha, Itália, Luxemburgo; de países mais distantes, como o Reino Unido, a Bielorrússia, a Síria, a Ucrânia; de países tão longínquos quanto a África do Sul, os Estados Unidos da América, a China, o Chile, os Emirados Árabes Unidos; de países lusófonos também: Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe…

Zion

Zion Neri Zenon tem 16 anos: apesar do seu nome ser de origem israelita, é brasileira a sua nacionalidade. Chegou a Portugal em 2016, e entrou em Manique no 5.º ano. É dele o testemunho que se segue: “Sinto que esta escola, mesmo sendo muito grande, me acolheu mais quando eu cheguei; acho que as pessoas já estão acostumadas a conviver com os brasileiros, já têm uma intimidade, não têm um preconceito, é como se fôssemos família mesmo”.

Ivandro

Opinião idêntica a do seu colega Ivandro Fernandes, 17 anos, nacionalidade guineense, em Portugal desde o final de 2019. Antes de ingressar em Manique, esteve noutra escola: “E senti muitas diferenças, por acaso. Aqui eu sinto que as pessoas estão mais perto dos alunos, e ajudam muito mais pessoalmente, e a escola também, o equipamento da escola, os alunos também. Os professores são muito acolhedores e os funcionários também.”

A globalização, afinal, a chegar também ao ensino, com uma nova e exigente tarefa pela frente: a de educar os jovens no e para o convívio com a diferença, nessa linguagem universal que é a do coração. Aceitação recíproca, pertença efetiva: uma Escola de todos, para todos, com todos – a melhor definição, aliás, de casa salesiana.

Fotografia: João Sêco e Miguel Nunes

Publicado no Boletim Salesiano n.º 604 de julho/agosto de 2024

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