O meu filho Zé Maria recebeu um calendário com citações de Saint-Exupéry. Para outubro (mês em que escrevo) sugere-nos que «As sementes são invisíveis. Elas dormem no segredo da terra até que uma delas cisme em acordar».
Saberemos ser pacientes e esperar? Ou o medo de que não aconteça, a facilitação do processo e o aligeirar dos obstáculos sobrepõem-se à convicção e à espera(nça) ativa? A paciência é uma virtude que anda afastada do mundo, particularmente do da educação, e que temos de recuperar. Não admira que os jovens com quem convivemos diariamente tenham a paciência muito afastada das suas vidas. É o testemunho que a nossa geração lhes vai dando e impondo.
Numa lógica de vida hiper-rápida, transmitimos a ideia de que o stress, a loucura de arranjar soluções imediatas e facilitadoras do processo a um ritmo avassalador é o melhor caminho. Geralmente, o tempo encarrega-se de nos provar que não é. Queremos ver resultados com uma velocidade assustadora. Na educação os resultados demoram, não são imediatos. Aquilo em que investimos neste momento só terá resultados daqui a um, dois, dez, vinte anos. Que bom se assim for.
No mundo e na educação, estaremos a reagir de uma forma consciente aos desafios ou atropelamo-nos em encenar respostas? Estamos a perceber as implicações, as consequências diárias das opções que vamos tomando a uma velocidade estonteante? Dominar requer tempo, vida, relação, mas não há tempo para dúvidas, para interiorizar, para acreditar que as coisas podem ir acontecendo acima de tudo pelo testemunho, pela vivência, pela confiança. Num tempo que aparentemente exige respostas rápidas e cheias de suposta inovação, será que já percebemos por inteiro o que se passa? Será que nesta necessidade avassaladora de encontrar respostas não estaremos a destruir mais depressa do que a construir?
Será que uma postura paciente e de dúvida não poderá ser caminhar à frente? Também esta aparente lentidão pode ser sonho e visão e, por isso, razão de esperança. O mundo vai-se encarregando de nos explicar que coisas aparentemente inevitáveis e amadurecidas poderiam ter sido pacientemente adiadas ou evitadas.
Vamos assistindo ao crescimento de uma geração relativamente à qual nos é tentador retirar todos os obstáculos do caminho, aligeirando processos. A paciência e a esperança, no seu compromisso, implicam a aprendizagem de alguma dose de sofrimento.
Todos nos lembramos de que «naquele momento, sempre em sonho, comecei a chorar, e supliquei àquela personagem que falasse de modo que eu compreendesse, dado que eu não sabia o significado daquilo. Então ela colocou a mão na minha cabeça, dizendo-me: A seu tempo, tudo compreenderás». Como quem diz: aceita o desafio, entra no processo, vive-o e as coisas acontecerão.
A paciência ensina-se, testemunha-se e aprende-se. A paciência é a chave da vocação. Cultiva-se! Quantas vezes acabamos o dia, desolados com o rumo das coisas e, no dia seguinte, estamos prontos para começar de novo? Dom Bosco teve-a na infinidade de desafios que encontrou na vida. São Paulo bem nos dizia que o amor é paciente (1Cor 13:4).
Ilustração: Bernardo Viana
“Avançamos no Sonho” Publicado no Boletim Salesiano n.º 606 de novembro/dezembro de 2024
Torne-se assinante do Boletim Salesiano. Preencha o formulário neste site e receba gratuitamente o Boletim Salesiano em sua casa.
Faça o seu donativo. Siga as instruções disponíveis aqui.