De que forma é que Abraão é um modelo de oração?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /3

Enzo Bianchi

Abraão é um modelo de oração porque caminha na presença de Deus, O escuta e Lhe obedece. A sua oração é um combate da fé, porque ele continua a crer na fidelidade de Deus mesmo nos momentos de provação. Além disso, depois de receber na sua tenda a visita do Senhor, que lhe confia os seus desígnios, Abraão ousa interceder pelos pecadores, com audaciosa confiança.

(Compêndio do Catecismo nº 536)

As Sagradas Escrituras oferecem-nos uma pedagogia da oração, apresentando-nos algumas figuras de amigos de Deus, de crentes que lhe rezam. A primeira figura significativa é a de “Abraão, pai de todos nós” (Rm 4,16), o homem com quem começa a história da salvação.

São três as características que, segundo o Compêndio, fazem de Abraão um modelo de oração para todos os crentes. Em primeiro lugar, ele “caminha na presença de Deus, escuta-o e obedece-lhe”. É o primeiro homem que se encontra com o Deus vivo e verdadeiro, ouvindo dele uma palavra e obedecendo-lhe prontamente: “O Senhor disse a Abraão: “Sai da tua terra, da tua família e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”…

Então Abraão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado” (Gn 12,1.4), “obedeceu… e partiu sem saber para onde ia” (Heb 11,8). A partir desse momento, toda a sua vida é um caminhar com Deus (cf. Gn 17,1), expressão bíblica que indica uma relação de escuta obediente: o crente alegra-se em fazer a vontade do Deus que o ama e a quem ele ama, e nessa alegria avança sobre a terra à luz da sua Palavra.

“A fé – dirá Paulo – “vem da escuta” (Rm 10,17). E Abraão, sempre disposto a acolher a voz de Deus, “acreditou no Senhor, que lhe creditou isso como justiça” (Gn 15,6; cf. Rm 4,3; Gl 3,6). Abraão luta com todas as suas forças para “continuar a acreditar na fidelidade de Deus, mesmo nos momentos de provação”: na hora em que a descendência que Deus lhe prometeu parece tardar (cf. Gn 17, 1-22); até na hora em que Deus parece pedir-lhe o sacrifício do seu único filho, o amado Isaac (cf. Gn 22, 1-19). Mesmo então, “teve fé, firme na esperança contra toda a esperança” (Rm 4, 18). Com grande inteligência, o autor da Carta aos Hebreus comenta: “ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.” (Heb 11,19).

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Deste vínculo de confiança e de amizade com Deus, nasce para Abraão a capacidade de “interceder pelos pecadores com confiança audaz” (cf. Gn 18, 17-33). Através de uma verdadeira negociação, Abraão atreve-se a pedir a Deus, com grande ousadia, que poupe da destruição as cidades pecadoras de Sodoma e Gomorra. É uma oração insistente e obstinada que, confiando na misericórdia infinita de Deus, acaba por o fazer desistir do seu propósito.

Escuta obediente, fé firme, intercessão audaz: é este o caminho da oração que Abraão nos testemunha.

(Família cristã, 9 de setembro de 2012)

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