Como é que Jesus nos ensina a rezar?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /10

Enzo Bianchi

Jesus ensina-nos a rezar, não só com a oração do Pai nosso, mas também com a sua própria oração. Assim, para além do conteúdo, ensina-nos as disposições requeridas para uma verdadeira oração: a pureza do coração que procura o Reino e perdoa aos inimigos; a confiança audaz e filial que se estende para além do que sentimos e compreendemos; a vigilância que protege o discípulo da tentação; a oração no Nome de Jesus, nosso Mediador junto do Pai.

(Compêndio do Catecismo nº 544)

«Estando um dia Jesus em oração em certo lugar, quando acabou disse-Lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar» (Lc 11, 1). … É contemplando e escutando o Filho que os filhos aprendem a orar ao Pai. (CIC 2601).

A partir da sua experiência de oração, Jesus ensinou os seus discípulos a rezar, e fê-lo através de uma interpretação autorizada do ensinamento sobre a oração contido nas Escrituras e na tradição que recebeu. É, pois, essencial para a oração autêntica aceitar os conselhos dados por Jesus aos seus discípulos e escutados por eles, conservados, entregues às comunidades cristãs, depois vividos pelos crentes até ao ponto de serem depositados como Escritura nos evangelhos.

Ao sintetizar as indicações de Jesus sobre a oração, o Compêndio começa por ligar a oração à pureza do coração, que permite “ver Deus” (cf. Mt 5,8): a pureza de quem reza com humildade, como o publicano no templo (cf. Lc 18,9-14), de quem se reconcilia com o irmão antes de iniciar a oração (cf. Mt 5,23-24), de quem perdoa o irmão do fundo do coração (cf. Mt 6,14-15; Mc 11,25). É esta a atitude exigida por Jesus na sua exortação a rezar ao Pai “em segredo” (Mt 6,6), sem gastar demasiadas palavras (cf. Mt 6,7); é também a condição necessária para rezar verdadeiramente juntos, sintonizando os corações (cf. Mt 18,19-20).

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A oração deve ser feita também com confiança, recordando as palavras de Jesus: “Tudo o que pedirdes com fé na oração, obtereis” (Mt 21, 22). A confiança impele a rezar com insistência, sem se cansar (cf. Lc 18,1-8); a “pedir, procurar, bater” (cf. Mt 7,7-11; Lc 11,5-13), na certeza de que “o nosso Pai sabe do que precisamos, mesmo antes de lho pedirmos” (cf. Mt 6,8). E na oração há um pedido prioritário, o do Espírito Santo, porque tudo está incluído nela. Jesus garantiu-nos que esta oração é sempre atendida pelo Pai: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem” (Lc 11,13; cf. Mt 7,11).

Finalmente, a oração nasce e persevera graças a um coração vigilante, exercitado na arte do esforço espiritual (cf. Lc 21, 34-36), como bem compreendeu Basílio de Cesareia: “O que é próprio do cristão? Vigiar todos os dias e todas as horas e estar pronto a fazer o que agrada a Deus, sabendo que, na hora em que não pensamos, o Senhor virá”.

(Família cristã, 28 de outubro de 2012)

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