Um sonhador
Os corredores eram longos e escuros.
As camaratas tinham camas alinhadas a perder de vista.
O pátio era revestido de um piso pouco recomendável.
As salas de aula, de pé alto, eram fustigadas, no inverno, pelo vento frio do rio Douro.
O refeitório, com “baixela” de alumínio, era um lugar estridente.
Estamos nos anos 60 do século passado.
Por esse tempo chegou um padre novo. Era o catequista como então se designava.
Vinha cheio de pressa e acelerado, em velocidade de cruzeiro: galgava degraus de madeira empenada, desaparecia apressado no fundo do corredor, corria nos pátios como os aviões no céu e no olhar tinha um fulgor onde se lia a urgência do tempo e o espantoso desejo de reação em curto prazo.
A magia dos sonhadores transforma espaços Pinardis em lugares de cor e som. O conjunto, “Ritmo 70”, apareceu como a luz na aurora e todos se espantavam com os instrumentos que o compunham porque aquilo era uma coisa nunca vista: as melhores guitarras elétricas, a melhor bateria, o melhor saxofone, o mais moderno órgão eletrónico e as mais sofisticadas colunas importadas da América!
E como uma casa com música é como um corpo com alma, num ápice, o colégio perdeu a sua orfandade e reganhou cidadania e direito de ser.
E, na ação transformadora, algo iluminador começou a dar consistência a toda a pastoral: os retiros/acampamentos realizados na melancolia e serenidade das margens do rio Sousa. De facto, esses encontros não serviam para distrair ou ornamentar, mas para iniciar os jovens na contemplação do invisível.
E muitos deles, no murmúrio dos cânticos inovadores, compostos pelo padre da música, encontraram comunidades de vida onde instalaram para sempre o coração.
Era assim o Pe. Jerónimo da Rocha Monteiro: inovador, inspirador, carismático, destemido, mariano e evangelizador.
Cumpriu-se o tempo. E o tempo chegou à sua plenitude.