Juventude é sempre vida, é cheia de graça e, por isso, é fecunda. Mas quem é, ou, quem faz a Juventude?
Na tentativa de (me) responder fiz grupos: crianças, jovens, adultos e avós. É uma divisão pouco justa porque, de facto, não se ajusta. Não se pode dividir a juventude, porque é eterna enquanto dura e gosta de durar.
Vejo, num palco, os grupos alinhados em fila. Destaco o da juventude. Aponto-lhe o foco. Olho cada jovem que nele se movimenta, todos sob a mesma luz. Rostos de todos os feitios, sonhos de todos os tamanhos, angústias escondidas, outras transformadas, espaços vazios, outros cheios, a transbordar! Uns vão apressados, se preciso voltam atrás, e de novo retomam o passo! E o espírito que os inunda? Criativo, alegre, inesgotável, e uma esperança que não se esvai! Outros, grandes pensadores, ligaram o achómetro e estão por ali, sentados a achar coisas e a discuti-las no Whatsapp. Querem mudar o mundo, que acusam de atrasado. Não os conseguiu acompanhar, o mundo. Despercebidos, ocupam os lugares de trás, dois ou três mais calados. Pouco falam e, se o fazem, atrapalham-se. Almas escondidas atrás de rostos tímidos que querem ser descobertas. Os estudiosos ao canto, discretos, interessados, namoram os livros, e gostam genuinamente de ali estar. Perto, há quem procure o silêncio. Buscam a verdade, o bem, a consciência, pensam no sentido da vida e tentam entrar no sentido que ela tem. Há uma mística que os inunda. Fitam o céu, entregues ao infinito, tentando perceber de que é feito o Homem, e que sede é esta de amor, que nos move. No fim, resta-lhes a confortável certeza daquilo que não podem mudar.
Quem faz a juventude? Nós todos.
Dos quatro grandes grupos, somos o que mais erra, talvez. Mas conhecemos bem a graça de recomeçar! Queremos mais! Até aquele que, curvado o dia inteiro, dá ao polegar no ecrã azul do Facebook, à procura, também ele, de qualquer coisa…Anda, vai lá e mostra-lhe que pode não ser ali. Experimentamos as relações, umas desconcertadas, temos pressa. Às vezes, enganamo-nos. Construímos fotografias do nosso futuro que temos medo de rasgar…É difícil desconstruí-las e parar para olhar o mundo e o que ele pede; é preciso esquecer essa promessa de sucesso de um futuro que nos aprisiona sobre nós próprios. Mas vejo tantos com coragem de se entregar! Sim, também conhecemos o empenho, o compromisso. E estudamos! Num país onde nem tudo está bem, vejo jovens interessados, prontos a participar nele. E é verdade que ainda há muitos erros e espaços vazios que nos ocupam de nada… mas que bom que é! Que bom que é haver tanto espaço vazio que Deus ainda vem encher e onde Deus ainda pode criar.
Beatriz Ferreira, 20 anos. Antiga aluna salesiana, frequenta o 2º ano de medicina na Nova Medical School, onde é membro do núcleo católico. É catequista na Paróquia Nossa Sra. da Fé (Monte Abrão), pertence a uma CVX e ao coro do CUPAV e da Paróquia de S. Francisco Xavier. Realiza anualmente Campo de Trabalho com os Salesianos de Lisboa.