“Quem está a imaginar a tua vida para ti?”
Michael Warren
Há um filme chamado Inception… começamos mal porque supostamente era para falar sobre Séries. Mas, como estava a dizer, há um filme chamado Inception em que o protagonista planta a origem de uma ideia na mente de outra pessoa. Claro que se trata de ficção, mas regressemos ao sítio de onde não partimos.
Primeiro: um livro, um jogo, um filme, uma app, uma série, a menos que seja apenas feito de água e sal e então será apenas uma bolacha, têm sempre um objetivo, uma tese de fundo, em geral pouco explícita.
Segundo: quando estás a ler um livro que não seja de estudo ou trabalho, quando estás a jogar ou a ver televisão estás numa postura mais ou menos igual àquela em que te punham os teus pais, quando eras pequenino e não querias comer. Explico: conta-se uma historinha, vai um avião a seguir ao outro e pronto, acabou a história e já nem sabes se comeste sopa ou um boião de fruta.
Terceiro e último, porque vai dar outro episódio: não sei se és bom a prender pelo beicinho… e até para a semana. Isto é, as pessoas gostaram de ti, ficaram com vontade de te conhecer melhor e isso ainda se acentuou mais porque tiveste que ir embora.
E pronto, está tudo dito. Mas como sei que queres a papinha toda feita, como quando eras bebé, aqui vão mais umas linhas. As séries, supostamente, são só para distrair mas todas elas veiculam alguma tese, umas positivas outras nem tanto. A tese não vem formulada como tal, fizeram uma inception da mesma numa história e contra uma história é difícil esgrimir argumentos. Pela cadência e maneira como estão trabalhadas, acabamos por criar uma relação afetiva com a série e os seus personagens, sobretudo com os protagonistas e que, de há um tempo para cá, nem sempre têm primado por ser as melhores pessoas do mundo. E olha que houve alguns deles que estiveram em minha casa quase todas as semanas durante 5 ou 6 anos. Um importante campo de batalha da nossa cultura está na imaginação mais do que nas ideias, e nesta área do nosso “imaginário social” podemos ser menos livres do que pensávamos.
Em resumo: se não tiveres um pouco de sentido crítico e te distanciares para analisar aquilo que andas a ver distraidamente, é natural que, daqui a algum tempo, encontres em ti um floresta de orientações de vida que tu não semeaste.
Proposta: no teu grupo de jovens escolhe uma série que a maioria de vocês costuma ver, assistam todos juntos a um episódio, tentem descortinar a tese de fundo e os valores e anti-valores que são propostos. Depois soma tudo e vê se encaixa com o objetivo do grupo. Por fim respondam à seguinte pergunta: quem está a imaginar a tua vida para ti?