O fervor de uma vivência empreendedora e ativa

Os santos sempre consideraram que a obediência e a humildade são as virtudes que principalmente nos assemelham a nosso Senhor e Mestre.

Também eu sou do mesmo parecer. O orgulho e a soberba, ao contrário, estão entre as paixões mais arraigadas em nós. Delas se geram muitos males, sobretudo a presunção, as discórdias, os enganos e o obscurecimento da razão.

No Jovem cristão, livro de espiritualidade para os rapazes do Oratório, escrevi que a obediência é a primeira virtude de um jovem. Apresentava o exemplo de Jesus, o qual, ainda que omnipotente, para nos ensinar a obedecer submeteu-se em tudo a sua Mãe e a José, exercitando o humilde ofício de artesão; e para obedecer depois a seu Pai celeste, morreu cheio de sofrimentos na cruz.

Tenho que dar graças a minha mãe, que me educou para uma obediência amorosa e generosa, sustentada sempre com motivações de razão e de fé.

Sobre as bases da humildade e obediência, que me tornaram dócil à vontade de Deus e dúctil no momento de escolher, pude construir todas as virtudes que caracterizaram a minha personalidade. Num sonho que tive aos nove anos, fui convidado a preparar-me para a missão da salvação e formação dos jovens percorrendo, eu próprio este caminho.

«Com a obediência e a aquisição da ciência», tinha-me dito o personagem do sonho, poderia realizar a minha vocação, sob a orientação de Maria, mestra de vida cristã e modelo de toda a vocação. Dela recebi o convite para seguir um programa bem definido: «torna-te humilde, forte e robusto».

Com o passar dos anos comprovei a fecundidade deste convite.

Quisera que todos compreendessem que a superação de si, o olhar atento do coração e o esforço ascético exigente, do qual falei antes, são o pressuposto necessário para um modelo de vida empreendedor, dinâmico e temerário. Nada teria podido realizar de tudo quanto fiz sem estas bases. E muito menos teria estado na situação de modelar uma personalidade forte, equilibrada, afetuosa, capaz de fé e de animosa esperança.

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O mesmo caminho propus aos jovens. O bom cristão e o honesto cidadão que quis cultivar neles, estão caracterizados pela fidelidade, coerência e atividade ordenada, e animados por uma vitalidade interior e uma limpeza e uma alegria entusiasmantes.

Nunca gostei das pessoas com má cara, os resmungões, os pedantes e cobardes.

Eu sonho com mulheres e homens fervorosos e entusiastas, positivos e construtivos, competentes e inovadores. O Oratório por mim realizado era um vulcão de novidade e de atividade, um laboratório de criatividade e de expressão, um ambiente de alegria e otimismo, um ginásio para a formação de personalidade vivas e significativas. Queria que nele se criasse o microclima ideal para fazer crescer uma geração fresca, animada e forte, aberta à colaboração e ao acolhimento oportuno e generoso perante as urgências e as novidades da história.

Sonhei um mundo no qual o fermento cristão seja portador de inquietações ativas de transformação. Acreditei na utopia de uma sociedade animada por homens novos, porque estão vivos no espírito.

A isto tende o exigente itinerário interior que delineei. Por isso convidei sempre os jovens a olhar para o alto, a ver mais além, a esperar e trabalhar com valente ousadia.
Deste ponto de vista alertei-os contra a mediocridade e contra o pecado: caruncho que destrói o fervor, situação interior mortificante e debilitante, diminuição do espírito, avolumar da mente e do coração, corrente e prisão da alma.

Quem não acolhe a amplitude deste meu modelo de homem e de cristão, não pode compreender e aceitar a minha insistência sobre as virtudes passivas: obediência, humildade, mortificação dos sentidos…

Sobretudo não entende o motivo da importância que atribuí à virtude da castidade. Gostava de a chamar «bela virtude», a «rainha das virtudes», porque queria que se enaltecesse o seu aspeto radiante. Nunca a apresentei simplesmente como continência ou como controlo e orientação da sensualidade. Vivi-a e propu-la como liberdade e luminosidade de uma vida completamente orientada para Deus, animada por um amor oblativo e estimulante. Como síntese e resumo das demais virtudes. Procurei ilustrar os seus efeitos transformadores sobre a alma dos adolescentes descrevendo o fascínio de jovens personalidade prestigiadas e limpas.

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Não é fácil captar esta mensagem, mas não cessarei de a propor aos jovens. Domingos Sávio sintetizava tal modelo de vida, dizendo a um companheiro: «Aqui nós fazemos consistir a santidade em estar muito alegres. Nós preocupamo-nos somente por evitar o pecado, porque é um grande inimigo que nos rouba a graça de Deus e a paz do coração. Esforçamo-nos por cumprir exatamente os nossos deveres e em cultivar a oração com fidelidade. Começa a partir de hoje a escrever para te recordares: “Servite Domino in laetitia”, Servi o Senhor com alegria».

Para refletires

  • Porquê Dom Bosco sustenta que a obediência, a humildade, o domínio de si e o olhar o coração (virtudes passivas) são capazes de gerar uma vida entregue, ativa e alegre?
  • Que ideais, e que modelo de humanidade, estão por detrás da insistência de Dom Bosco sobre a virtude da castidade?
  • Estás disposto a lutar contra a mediocridade e o pecado?

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