Celeste Lago é antiga aluna salesiana e professora numa escola das Filhas de Maria Auxiliadora de Cascais. Catequista desde os 14 anos, acredita que a pastoral deve investir mais na formação e no testemunho da fé em Jesus Cristo.
O Lema que o Reitor-Mor escolheu para 2020 é o mesmo que orientou a vida de Dom Bosco: formar “Bons cristãos e honestos cidadãos”. A Escola, na transmissão dos valores de cidadania, tem direito de transmitir valores confessionais?
Claro que sim. Cabe aos principais educadores, os pais, optar pela educação que pretendem para os seus filhos. Para mim, enquanto católica, faz todo o sentido. Pena que, na nossa sociedade, não esteja contemplada a livre escolha, uma vez que os pais, na maioria das situações, se veem obrigados a pagar por essa opção. Os valores cristãos, mesmo para os que se dizem não crentes, fazem todo o sentido – o amor, a construção da paz, a compaixão e a misericórdia, a atenção aos que mais precisam, … – são essenciais e urgentes na nossa sociedade.
É católica assumida. Tal postura advém da educação que recebeu em casa ou na escola dos Salesianos de Manique, que frequentou?
É um misto. Desde pequena, em casa que rezávamos em família e sempre fomos à catequese e à missa. A família foi o lugar privilegiado para o primeiro e mais importante anúncio de educação da fé, bem como o acompanhamento ao longo do meu crescimento. A escola foi muito relevante na vivência e aprofundamento dos mesmos valores que se “respiravam” em casa, bem como poder ir crescendo na fé também neste ambiente educativo e, ao mesmo tempo, familiar. Das melhores lembranças que tenho dos Salesianos de Manique era precisamente o ambiente familiar que se vivia no quotidiano. Sempre fui muito feliz em Manique e vivia a escola como uma segunda casa.
Gostava de conhecer o ambiente onde cresceu.
Sou uma privilegiada. Os meus pais são um casal exemplar em vários aspetos. As suas convicções fortes, os seus valores cristãos, mas ao mesmo tempo a sua simplicidade e humildade, foram, são e serão sempre um exemplo para mim. A família sempre esteve muito envolvida na vida da Igreja e, por consequência, eu também. Fui crescendo neste ambiente de iniciativas várias de angariação de fundos para a construção da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora de Bicesse e também de crescimento na fé. Fiz parte do coro que a minha mãe formou por sugestão do saudoso padre Homero Fernandes. Comecei a dar catequese aos 14 anos, participava nos encontros do Movimento Juvenil Salesiano, na Eucaristia dominical que começou por ser num pequeno tanque de rega remodelado, depois passou para o salão da cave e, finalmente, para a atual igreja de Bicesse. Quando andava no 6.º ano, fazia parte dos Amigos de Domingos Sávio em Manique. Não tendo havido continuado no ano seguinte, uns “miúdos”, isto é, eu e os meus colegas, levámos os ADS para Bicesse e éramos animadores de outros adolescentes da mesma idade, mas fazíamos tudo segundo as regras. Para além da catequese que já existia, foi o início do centro juvenil de Bicesse.
Até que idade estudou nos Salesianos de Manique?
Terminei o 9.º ano em Manique, ainda não havia secundário. Depois fui estudar para S. João do Estoril e mais tarde fiz o curso de Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Quando acabei o curso e comecei a trabalhar, tive a felicidade de conhecer o meu marido. Casámo-nos e temos um filho que diariamente nos enche de muito orgulho.
Há uma curiosidade na sua vida de casal em relação aos irmãos. Quer contar?
Sim. Quando conheci, na altura, o meu “futuro” marido António, não sabia nada acerca da sua família e ele também não conhecia nada da minha. Só passado algum tempo é que percebemos que os nossos irmãos mais velhos são religiosos. E, mais curioso, o meu irmão é padre salesiano e a sua irmã é Filha de Maria Auxiliadora. Estava destinado a ficarmos juntos. Em toda a minha vida tive sinais claros de orientação divina e que tudo se foi sucedendo e proporcionando com a mão de Deus.
Formou-se em design de comunicação. Ao tempo o meio estudantil era bastante hostil à Igreja e à fé?
Não sei se hostil será a palavra mais adequada. Formei-me em design gráfico e no ambiente das Belas Artes não se falava de religião. Da parte da maioria dos colegas, até se olhavam as opções de cada um de uma forma serena. Mas também senti alguma hostilidade.
Colabora na sua paróquia.
Sim. Dou catequese, este ano ao 6.º volume, faço parte do coro dominical e colaboro no centro juvenil. Dou catequese desde os catorze anos. Também já orientei grupos de catequese de adultos de preparação para a celebração de sacramentos.
É professora de Educação Visual no Externato Nossa senhora do Rosário, nas Salesianas de Cascais. Os jovens são recetivos à mensagem evangélica?
Os jovens têm sede de sentir e de Jesus Cristo. Tenho lidado com vários jovens ao longo dos anos que, mesmo não tendo uma educação católica em família, querem perceber, querem sentir a mensagem evangélica. No entanto, e falo por mim, acho que nos falta alguma coragem mais ao estilo de Dom Bosco e Madre Mazzarello, enfrentando os desafios atuais de outra forma, para conseguirmos chegar melhor aos jovens. Mas também acredito que algo de muito especial fica nos corações daqueles que saem da nossa escola no 9.º ano.
Há na Igreja uma crise de vocações. Estaria disposta a apoiar o seu filho a seguir a vocação religiosa?
Claro que sim. Para além de apoiar, seria uma bênção se o meu filho optasse por uma vocação religiosa.
Uma curiosidade: trabalhou no Boletim Salesiano? Em que área?
Já foi há uns anitos. A convite do padre João de Brito, na altura responsável pelo Boletim Salesiano, reformulei o design da revista. Depois trabalhei como designer responsável pela revista durante alguns anos.
Como especialista, e como leitora, que apreciação faz do atual BS?
Quando, por razões profissionais, tive que abandonar o Boletim Salesiano, já pensava falar com o padre João de Brito para remodelar a estrutura da revista. E acho que atualmente o Boletim Salesiano está muito interessante e atual. É visualmente atrativo, de fácil leitura e bem estruturado. A equipa responsável está de parabéns.
Para concluir: se tivesse de dar uma pista ao Reitor-Mor, sobre como realizar o Lema deste ano, que lhe diria? Atendendo ao desafio lançado este ano pelo Reitor-Mor – “bons cristãos e honestos cidadãos” – a tarefa é exigente e nem sempre estamos focados no que realmente importa. Considero que devemos desafiar-nos a deixar os jovens ser os protagonistas da ação pastoral. Talvez a pista seja ter a coragem de ir ao encontro, à procura e sair da nossa zona de conforto, apostando ainda mais na formação de animadores e catequistas bem como da família, a fim de que os mesmos possam testemunhar a fé em Jesus Cristo através do carisma salesiano, fazendo com que os mais novos sintam que estamos para eles e que os amamos.
Celeste Lago
Idade: 43 anos
Família: casada, um filho
Antiga Aluna: Salesianos de Manique 1986-1991
Formação: Licenciada em Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes de Lisboa; Professora de Educação Visual do 3.º ciclo
Para ver a entrevista no canal do Youtube dos Salesianos.
Para ler no Boletim Salesiano n.º 579 de Março/Abril de 2020.