Fabrício Souza, salesiano, atualmente em estágio na Escola Salesiana de Artes e Ofícios, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, descreve a sua experiência com as palavras de S. João Bosco: “trabalho, trabalho e trabalho” e “descansaremos no Paraíso!”
Quando cheguei a Cabo Verde, impressionou-me a paisagem, escura, desértica, lunar…, terra seca, imenso pó, calor húmido, muita pobreza… Pensei: “Meu Deus, não ficarei aqui nem uma semana, quanto mais um mês, um ano e, quem sabe, talvez dois!… Que posso eu fazer aqui?” Mas mais aflito fiquei quando me dei conta do enorme trabalho que tinha de ser feito. Por onde começar? E foi assim, nesta angústia, mas com uma fé enorme na ajuda de Deus, de Nossa Senhora e de S. João Bosco, e dos meus irmãos salesianos, que comecei esta aventura, este desafio que o Senhor colocou na minha vida. E logo de início me convenci que só com uma dedicação total, como é a dos meus irmãos salesianos que aqui vim encontrar, poderia ultrapassar as minhas dúvidas e os meus desencantos iniciais. Decidi dispor-me a dar o pouco que tenho e fazer multiplicar os meus talentos, ao invés de enterrá-los num “buraco”. Os desafios são muitos, mas a consciência deixa-me tranquilo porque, embora o que eu faço seja muito pouco, estou apenas a lançar as sementes que a seu tempo o Senhor, com certeza, fará germinar para dar abundantes frutos. A ilha de São Vicente não é muito religiosa; trabalhar aqui é trabalhar com a consciência de que muitos talvez nunca tenham tido contacto com a Palavra de Deus, mas a Palavra de Deus pode chegar até eles também através do testemunho das nossas vidas de cristãos e de consagrados empenhados. Este é, também, um desafio para mim.
No meu dia a dia, levanto-me às 6 horas. A primeira atividade é o encontro com Deus através da oração e da meditação. O dia de cada salesiano começa e termina assim: no diálogo com Deus. É Ele o Senhor da messe e eu sou um dos seus colaboradores. Logo a seguir, às 7h, é a celebração da Eucaristia; na nossa Escola de São Vicente, a comunidade salesiana celebra-a na Capela juntamente com o povo. Às 7h30 é o pequeno-almoço; deve ser tomado com alguma agilidade pois, logo às 8 horas, tenho que dar o Bom-Dia, uma ação pastoral tipicamente salesiana. Nas segundas, quartas e sextas-feiras há os Bons-Dias e as Boas-Tardes em duplicado, uma vez que na ESAO há dois turnos letivos, ou seja, há o turno da manhã para o 1.º ciclo, 7.º, 8.º, 11.º e 12.º anos, e o turno da tarde para o 2.º ciclo, 9.º e 10.º anos. A seguir aos Bons-Dias, inicio o trabalho de acompanhamento pedagógico que é realizado em conjunto com os professores. Trata-se de estar com os docentes da escola, saber o que é ensinado, identificar as dificuldades no processo de ensino-aprendizagem, fazer o levantamento dos materiais e recursos necessários para a melhoria e qualidade do ensino, etc. Para além disso, e dado que o corpo docente é do Estado, e é por ele escolhido, é indispensável o acompanhamento dos professores para tentar promover e manter a Pedagogia Salesiana, centrada no Sistema Preventivo, tendo sempre como objetivo “formar bons cristãos e honestos cidadãos”.
As aulas do turno da manhã terminam às 12h30. O almoço é às 12h45. Tal como acontece no pequeno-almoço, o almoço é uma refeição tomada com celeridade, pois às 13h20 já tenho de estar a dar a Boa-Tarde aos alunos. No turno da tarde, dou aulas de Educação Moral e Religiosa Católica aos 5.º, 6.º, 9.º e 10.º anos. Somente neste ano letivo é que esta disciplina foi incluída nos horários dos 9.º e 10.º anos. As aulas do turno da tarde terminam às 18h30.
Para além destes trabalhos, sou também o responsável pela orientação dos “Encontros com Dom Bosco”, uma atividade de caráter vocacional. Temos atualmente um jovem que está a fazer uma experiência comunitária connosco, um jovem que decidiu conhecer o carisma salesiano, a vida de um salesiano, conhecer melhor quem foi e quem é Dom Bosco para nós, salesianos.
À noite há ainda mais trabalhos a fazer: é toda a preparação para as atividades do dia seguinte. Vou descansar pelas 23 horas, não sem antes refletir sobre o dia que termina, o que poderia ter feito melhor, o que posso fazer de diferente no dia seguinte, se estou a ser o salesiano de Dom Bosco que esta comunidade precisa, se procuro testemunhar o amor de Deus aos jovens. Acabo sempre por adormecer com estes pensamentos.
Por tudo isto, só tenho a agradecer a Deus o dom da vida, da fé e da vocação; agradecer-Lhe a confiança que depositou em mim e a minha confiança n’Ele; agradecer-Lhe a força que Ele me dá, uma força imensa que me sustenta nesta missão salesiana.
Desafio-te, a ti, também, a deixares que Nosso Senhor Jesus Cristo faça em ti grandes Maravilhas.