Sonhai coisas grandes e segui o vosso sonho com alegria, entusiasmo e convicção
Meus queridos jovens,
Não vos escondo a emoção ao dirigir-vos a minha última mensagem como Reitor-Mor. Gostaria que as minhas palavras chegassem ao vosso coração para vos dizer que vos amei e amarei sempre. Estais no centro da minha vida, da minha oração e do meu trabalho. Sois a minha alegria e a fonte de inspiração e esperança para o presente e o futuro que o Senhor me reserva.
Obrigado pelo amor que sempre me demonstrastes, pelas orações que me apoiaram nos momentos difíceis do meu delicado serviço. Neste momento, vejo os vossos rostos iluminados pela alegria de viver e de crer, mas também preocupados com um futuro incerto. Participei nas esperanças e nos sofrimentos que lia nos vossos olhos. Durante os 12 anos do meu belo serviço de Sucessor de Dom Bosco, vivemos juntos momentos inesquecíveis como as Jornadas Mundiais da Juventude em Sydney, Madrid e Rio de Janeiro; as diversas Assembleias do MJS das Províncias; os Encontros e Campo-Bosco no Colle Don Bosco ou noutros lugares. Foram tempos fortes do Espírito, experiências de comunhão e de espiritualidade salesiana, momentos de partilha e fraternidade que nos fizeram crescer no amor a Jesus, à Igreja e a Dom Bosco.
Obrigado, queridos jovens, pela vossa presença reveladora do amor de Deus, pela frescura e entusiasmo que comunicastes nesses encontros, pela alegria que destes ao meu coração. Com coração de pai continuarei a amar-vos e por isso quero convidar-vos a olhar para o futuro com esperança. Deus não nos abandona e sempre nos dá grandes sinais do seu amor.
O Papa Francisco, sinal do amor de Deus à sua Igreja
É com grande alegria e admiração que assistimos hoje ao anúncio de uma nova primavera na Igreja e no mundo. Os profetas da desgraça, que decretavam o inverno da Igreja, têm de se arrepender uma vez mais. Este novo sopro de primavera, dom do Espírito Santo, tem um rosto e um coração, o Papa Francisco. O seu modo de se apresentar humilde, simples e sorridente revela a sua vida interior. É um homem intensamente unificado com um ponto focal em torno do qual se concentram gestos, atitudes e pensamentos: o Senhor Jesus, percebido sempre como Palavra de um Deus de bondade, de ternura, de misericórdia. Causa-nos grande admiração a figura deste Papa tão doce e, ao mesmo tempo, homem-rocha, ancorado solidamente num ponto de enraizamento para o qual convergem a sua força moral, a liberdade de agir e falar, juntamente com um profetismo iluminador. O ponto unificador ao redor do qual se concentra toda a sua pessoa é, ao mesmo tempo, um grande sonho e um projeto de grande fôlego.
Qual é o sonho que seduziu o Papa Francisco e que contagia e fascina tantos jovens? É uma Igreja livre da mundanidade espiritual, livre da tentação de se fechar no seu quadro institucional, livre da tendência para o aburguesamento e para o enclausuramento em si mesma, livre principalmente do clericalismo e do machismo. Uma Igreja incarnada neste mundo, resplandecente nos mais pobres e nos que sofrem. Uma casa aberta a toda a humanidade. No seu coração há o grande desejo de uma Igreja que acolha a todos, além das diversidades das culturas, das raças, das tradições, das confissões religiosas. Uma Igreja que saia à rua para evangelizar e servir, chegando às periferias geográficas, culturais e existenciais. Uma Igreja pobre, que privilegie os pobres, sendo a voz deles, para superar a indiferença egoísta daqueles que têm muito e não sabem compartilhar. Uma Igreja que dê a justa atenção e relevância às mulheres, sem as quais, ela mesma, corre o risco da esterilidade.
O Papa Francisco vive com autêntica paixão a dedicação a este sonho que traz no coração e quer que todos os crentes, mas especialmente os jovens, vivam com igual intensidade a sua ousadia missionária. Vós, jovens, sois os protagonistas irrenunciáveis e determinantes desta nova primavera. Para sair da cultura do “descartável” que vos marginaliza e paralisa deixando-vos sem futuro, deveis acender nos vossos corações o “fogo” de uma nova paixão para investir as vossas energias e a vossa mesma vida; trata-se de empenhar-se nas causas nobres, positivas e de grande valor moral, pelas quais valha a pena gastar a vida. É o que vos pede o Papa Francisco, o que vos pede Dom Bosco, o que vos peço eu próprio nesta última mensagem, como um testamento espiritual a conservar ciosamente nos vossos corações e a realizar nas vossas vidas.
A vossa juventude, dom para os outros
Ao longo destes anos, convidei-vos a encarar a vossa juventude como o dom mais precioso e a orientar a vossa vida segundo um projeto vocacional. Nos muitos rostos que encontrei, li a busca e o grande desejo de felicidade que se exprimia na alegria e na festa. A fé cristã é a resposta a esse vosso desejo porque é anúncio de felicidade radical, promessa e entrega de “vida eterna”.
Assumir a espiritualidade salesiana é penetrar no coração mesmo de Dom Bosco, onde compromisso e alegria caminham juntos, santidade e alegria formam um binómio inseparável. Desde o início do meu ministério, propus-vos um itinerário de santidade simples, alegre e serena. A espiritualidade juvenil salesiana quer levar-vos ao encontro com Jesus Cristo para estreitar com Ele uma relação de amizade e de confiança. Sempre vos indiquei a Igreja como o lugar escolhido e oferecido por Cristo para O encontrar e escutar a sua Palavra. Só a sua presença discreta estimula a vossa liberdade na educação da mente, do coração e da vontade. Basta-Lhe um pequeno sinal de confiança para vos dizer com muita ternura: «Vinde e ficai comigo, vós que tendes sede de felicidade e fome de beleza e de verdade para que a vossa vida cresça. Vinde, vós que andais cansados, desanimados e tristes. Vós, que sofreis no corpo, no espírito, no fundo do coração».
Queridos jovens, ouvi as palavras de Cristo que se derramam suavemente no vosso coração a consolar-vos. Na Eucaristia elas tornam-se sangue que vos dá vida nova, carne da vossa carne. É uma vida nova que se alimenta de oração, de comunhão e de serviço. É uma vida nova entendida e vivida como vocação, como missão, como entrega fiel e disponibilidade total para os outros. Ouvi o caloroso apelo do Papa Francisco a toda a Igreja: «Vamos para fora, vamos para fora a fim de oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!». Como resistir a este apelo? É um apelo que tem toda a intensidade e a paixão do «Da mihi animas!» de Dom Bosco. A vossa generosidade juvenil não pode senão estremecer e deixar-se sacudir por este grito, superando uma fé tímida, paralisada pelo medo e pouco inclinada a testemunhar.
Sois chamados a viver uma fé que se manifesta como profecia, como certeza de ser amado por Deus a ponto de n’Ele depositar a única segurança que possuís. Em seu nome, podeis arriscar tudo, sem vos deixar amedrontar por nada e por ninguém, sem vos deixar condicionar por outras visões do mundo, sem vos contentar com uma vida medíocre.
O convite que o Papa Francisco vos faz, queridos jovens, é ir sem medo para servir, enriquecer o mundo com o dom de Cristo e do Evangelho. A vós confia a convicção da real possibilidade de mudar o mundo, porque Jesus Ressuscitado está conosco, todos os dias, até o fim dos tempos, e renova todas as coisas: «Uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar alguma coisa melhor depois da nossa passagem pela terra» (Evangelii Gaudium, 183).
Meus queridos jovens,
Ao despedir-me de vós, confio-vos estas palavras que brotam do meu coração de pai. Sempre vos amei e continuarei a amar-vos, recordando-vos todos os dias ao Amigo, meu e vosso, que é Jesus. Por isso, acredito poder fazer minhas as palavras do nosso amado Dom Bosco: «Até o último respiro da minha vida será para vós, meus queridos jovens». Peço-vos também a dádiva da vossa oração para que eu continue a servir a Igreja e a Família Salesiana com fidelidade e amor.
Confio-os a Maria, nosso auxílio, modelo de santidade vivida com coerência e plenitude, estrela da nova evangelização. Ela vos acompanhe sempre com ternura de Mãe em todos os momentos da vossa vida. Que Ela vos ajude a dar um belo testemunho de comunhão, de serviço, de fé ardente e generosa, de justiça e de amor pelos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue a todos os jovens e nenhuma periferia fique sem a sua luz.
Sempre vosso,
P. Pascual Chávez V., SDB
Reitor-Mor
Valdocco, 31 de janeiro de 2014.