Estamos em pleno Ano Jubilar da Misericórdia. Até aqui, nenhuma novidade! Tem sido divulgado e preenchido com inúmeras propostas desde o dia em que o Papa Francisco o anunciou.
Um tempo oportuno para contemplar a misericórdia, para nos deixarmos fascinar por ela, para a experimentarmos na nossa vida em primeira pessoa. Para nós cristãos, falar de misericórdia é fazer referência de imediato ao ser e à ação de Deus que é amor misericordioso, fonte de toda a misericórdia.
Ordinariamente o campo semântico da misericórdia refere-se ao âmbito das relações interpessoais. A misericórdia não é uma ideia ou um objeto, não se adquire no supermercado nem se encontra em formato digital. A misericórdia é uma das características que define as relações entre duas ou mais pessoas, que implica um conjunto de atitudes e atos que caraterizam “misericordiosamente” essa relação, como por exemplo, a proximidade de alguém em momentos de sofrimento, a ajuda prestada em situações de dificuldade, a intervenção positivamente perante uma desgraça ou precariedade. E é quando estas manifestações atingem o coração, os sentimentos, a vida na sua experiência mais profunda, que a misericórdia se pode tornar mais significativa. É por isso que a misericórdia não se identifica com solidariedade, mas vai mais além em conteúdo porque é feita com o coração, de coração a coração, de entrega vital. Misericórdia implica o “meter-se” na vida de alguém ou deixar que alguém “se meta” na nossa.
Seria um engano, todavia, pensar que a misericórdia se reduz à prática das obras de misericórdia como uma questão de boa vontade nossa ou puro altruísmo. A misericórdia começa no nosso coração quando este faz experiência da misericórdia que Deus usou previamente connosco. Só quem faz vitalmente esta experiência da misericórdia de Deus para consigo, tem a capacidade de usar de misericórdia para com os outros. À luz da Sagrada Escritura, somos convidados a usar de misericórdia porque em primeiro lugar ela foi usada para connosco. Quando isto não sucede podemos correr o risco de estar a cair num simples voluntarismo ou numa obrigação moral.
Aceitar o desafio de viver a misericórdia significa, antes de mais, deixar-se conquistar pela misericórdia de Deus, fazer a experiência do Seu amor profundo vivido por cada um de nós, principalmente quando nos afastámos d’Ele. Só depois disto, as nossas ações serão verdadeiramente misericordiosas, só então o nosso coração conseguirá olhar misericordiosamente os outros como Deus os olha. Não tenhas medo! Mergulha no amor de Deus e atreve-te a viver a misericórdia!