Perguntais-me que é a «vida espiritual». Entramos na vida espiritual quando começamos a tomar consciência de que a realidade com Deus é para nós algo vital.
A mim urgia-me fazê-lo compreender a todos os jovens, também aos rapazes da rua dos primeiros tempos do Oratório. Quis convidá-los a olhar para si mesmos do ponto de vista transcendente. Esforcei-me em enobrecer os seus pensamentos, em consciencializá-los de que a religião deve ser antes de tudo uma amizade gozosa com Deus.
Para eles escrevi um livro de meditação e de oração – O jovem cristão – no qual procurei assinalar os passos essenciais de uma vida espiritual simples mas substanciosa, capaz de transformar as pessoas, começando pela consciência de si mesmo.
Para dar o primeiro passo do caminho espiritual é necessário, antes de tudo, que sacudas de ti a sonolência de uma fé herdada, talvez muito superficial e vaga. É necessário abrir os olhos, levantar o olhar, aprender a ver mais além das aparências, a «olhar o alto» para descobrir a profunda beleza da vida. Assim começas a sentir dentro de ti o desejo de progredir, de crescer.
Dizia aos jovens: «levantai os olhos e observai tudo quanto existe no céu e na terra». Se levantardes o olhar, contemplai a realidade que existe em vós e fora de vós, e superando a superficialidade, descobrireis que tudo vos fala de Deus e do grande amor que tem por vós. Tudo revela a vossa dignidade profunda. O universo foi criado para vós. E vós fostes feitos por Deus.
Para entrar numa relação de amizade e de intimidade com ele, não só na eternidade futura. Já aqui, agora, em cada instante do vosso dia, desde os primeiros passos da vossa existência.
Não é afinal tão fácil intuir isto se te agarrares às coisas externas, às emoções, às aparências, se não foste educado para ir mais além.
Pelo contrário, quando começares a contemplar e a meditar à luz da Palavra de Deus, pouco a pouco sais da letargia e da distracção para entrar no recolhimento.
Toma consciência do amor de Deus por ti, dos seus projectos sobre ti, que são grandiosos. Começa a dialogar com ele como respostas aos seus convites. A tua vida descobrirá horizontes novos e deixar-se à tocar e guiar pelo Espírito.
Certamente, é preciso superar uma série de preconceitos.
Sobretudo o de pensar que o compromisso espiritual torna a vida triste e aborrecida. Não é assim. Ensinei aos jovens um método de vida cristã que é ao mesmo tempo alegre e comprometido. Repeti-lhes muitas vezes: Servi a Deus e estareis sempre alegres. Servi ao Senhor com alegria (Sl. 100, 2).
Quem cuida da sua interioridade alcança grandes níveis de serenidade, de alegria e de satisfação da vida, impensáveis fora desta perspectiva.
Outro engano comum é a esperança de uma longa vida: «somos jovens, devemos divertir-nos; converter-nos-emos quando formos velhos!». A história ensina-nos que com estes raciocínios muitos se arruinaram. Experimentei quão verdade é o provérbio da escritura: «Quem de jovem toma um determinado caminho, nem de velho se afastará dele» (Prov 22,6). E quer dizer: se nós começamos uma boa vida quando somos jovens, seremos bons nos anos posteriores, crescendo em virtude e em interioridade. Ao contrário, se os vícios se apoderam de nós na juventude, dominar-nos-ão por toda a vida até à morte.
Eu estou convencido de que é fácil e agradável realizar-se plenamente e com satisfação a si próprio, ter êxito, ser amado e querido por todos. No entanto, deveis confiar-vos a alguém que vos guie. Ensinei-vos a reflectir, a tomar consciência de vós mesmos, a compreender em profundidade a vida, a escutar os anseios do coração. É preciso exercício quotidiano, fidelidade.
Sem um olhar inteligente e profundo, sem desejo e determinação, permanecereis como seres incompletos, impedidos de voar até às metas para as quais fostes feitos.
Coragem, portanto, meus queridos, entregai-vos desde cedo à virtude, asseguro-vos que tereis sempre um coração alegre e contente, e vereis quão é agradável servir o Senhor.
Para reflectires
Iniciar um caminho «espiritual» é passar de uma fé adormecida a tomar consciência de que somos filhos de Deus.
• Quais são os caminhos e as experiências que te resultam mais fáceis para realizar este passo?
• Queres iniciar esta aventura com Deus?
• O teu coração deseja-a verdadeiramente?