Para caminhar na vida espiritual é necessário ter um guia. Estou convencido disso. Mesmo quando se tem a sorte de crescer num contexto educativo ideal, se se quiser passar a um nível espiritual superior, é necessária uma relação interpessoal especial.
Fiz experiência disso em minha vida: sem a direção espiritual certamente não teria realizado nada de bom. Comprovei-o com os melhores jovens que o Senhor me concedeu encontrar.
A primeira vez que falei com Domingos Sávio, por exemplo, vi naquele rapaz um espírito todo ele do Senhor e fiquei assombrado ao ver o trabalho realizado pela graça divina em tão tenra idade. Teve uns pais maravilhosos, ótimos educadores. Tinha crescido num ambiente são. Manifestava, além disso, uma maturidade de juízo e reflexão superior à sua idade.
Aderiu com entusiasmo e disponibilidade à comunidade do Oratório. Assim, os estímulos positivos do ambiente encontraram nele, um terreno fértil.
A escuta e a meditação da Palavra de Deus tinham afinado a sua interioridade. Até ao dia em que umas palavras ouvidas numa pregação tocaram o profundo do seu coração e provocaram um incêndio do amor de Deus.
Contudo, apesar desta iluminação interior, estou certo de que não teria ido muito longe sem um guia espiritual.
Domingos foi ajudado pela direção espiritual a conseguir um equilíbrio entre interioridade e vida ativa, entre oração e serviço, entre o amor de Deus e dos irmãos, entre a contemplação e a ação apostólica. E chegou a ser um modelo estimulante para muitos jovens, uma referência importante para a espiritualidade dos jovens apóstolos e animadores.
Talvez me possais dizer que não é fácil encontrar um diretor espiritual capacitado. É verdade. Mas eu creio que não são as qualidades do guia as primeiras para garantir os resultados. É a nossa atitude interior de humildade, de confiança, de docilidade e obediência quem permite ao Espírito Santo trabalhar com eficácia. Aliadas ao desejo e firme vontade de caminhar espiritualmente.
Assim sucedeu com Domingos Savio, que se confiou inteiramente a mim, a partir do nosso primeiro encontro. Assim sucedeu com Fancisco Besucco, um simples pastor das montanhas de Cúneo, que, chegado à comunidade do Oratório me veio dizer: “Como eu quero colocar minha alma em suas mãos, desejo abrir-me, manifestar-lhe toda a minha consciência, para que me conheça melhor e possa assim, com segurança, dar-me os conselhos que podem ajudar-me a salvar a minha alma”.
Este abrir-se confiado e obediente, este manifestar-se humilde e sincero é, segundo os grandes mestres de espiritualidade, pressuposto indispensável para o progresso na perfeição.
Além disso, quando tais atitudes existem, o Espírito Santo, que é o verdadeiro artífice do nosso caminho interior, serve-se também de pessoas simples e modestas para nos oferecer a direção correta.
Eu mesmo fiz a experiência. Durante o tempo que estive nas escolas públicas de Chieri, fui certamente ajudado pelo confessor a evitar certas experiências de mortificação e a crescer espiritualmente. Mas, o maior estímulo recebi-o de um companheiro mais novo que eu, Luís Comollo. O seu estilo de vida, a sua convivência, a sua maneira de pensar, foram para mim mais eficazes que qualquer pregação. Dele aprendi a viver como cristão. Graças às suas sugestões venci todas as dúvidas vocacionais.
No meu posterior trabalho como educador servi-me frequentemente da colaboração dos jovens para a atenção e o acompanhamento pessoal de alguns companheiros mais dissipados. Escolhia rapazes simples, animados pelo desejo do compromisso cristão, abertos a todos, generosos, atentos para evitar os perigos e a mediocridade. Foram guias espirituais válidos, conseguindo resultados que para mim seriam impossíveis.
Para refletires
Dom Bosco afirma que é indispensável encontrar um guia para crescer na vida interior. Que pensas disso? Porque é que serão necessárias atitudes de humildade, confiança, docilidade, transparência, juntamente com o desejo e a vontade decidida de progredir espiritualmente?
Tens um guia espiritual? Procura-lo?
Pedes ao Senhor que te ajude a encontrar “um mestre de vida”?
