A Província Salesiana do Médio Oriente, chamada Jesus Adolescente, foi criada canonicamente a 20 de janeiro de 1902, pelo Pe. Miguel Rua. Tinham passado apenas 10 anos da chegada dos primeiros salesianos à Terra Santa. Nas próximas páginas apresentamos uma viagem pelas obras salesianas existentes em Israel e na Palestina.
Nazaré é a cidade símbolo da vida humana que desabrocha. O pensamento de que naquele local a Virgem Maria caminhou, brincou, trabalhou, se apaixonou por José e disse sim ao casamento com ele, faz estremecer. Precisamente na parte alta da pequena cidade, visível para quem venha da planície Esdrelon, nós salesianos temos uma belíssima escola.
Os salesianos dirigem uma grande escola com cerca de 500 alunos, desde a primária ao liceu tecnológico com diversos setores profissionais. Os alunos são de nacionalidade árabe-israelita, em grande parte muçulmanos, e os restantes são cristãos. É a melhor escola de toda a Galileia. Há sempre muitos candidatos em lista de espera para entrar nela, de forma que é necessária uma seleção prévia. Quando os alunos terminam o curso na nossa escola, dão entrada nas mais prestigiadas universidades técnicas (sobretudo engenharia) de Israel e da Europa, incluindo o Politécnico de Turim.
É comovente ouvir o testemunho dos jovens, especialmente dos muçulmanos, que definem Dom Bosco como um “pai, mestre e amigo”.
Em Belém. Também nós, tal como Maria, descemos da Galileia para a Judeia e agora encontramo-nos em Belém. Em Nazaré Maria concebe o seu filho e em Belém, nove meses depois, dá-o à luz. Em Belém estamos hospedados na casa salesiana. Uma casa muito bonita e especial. Trata-se de um grande edifício todo de pedra branca construído em meados do século XIX, como orfanato, pelo padre António Belloni. Um padre diocesano originário da Ligúria, Itália, que se transferiu para Jerusalém para exercer o seu ministério pastoral no Patriarcado Latino e que, sensível aos rapazes pobres e abandonados, começou a realizar para eles as mesmas atividades que em Turim estava a iniciar também Dom Bosco.
O padre Belloni reuniu à sua volta outros sacerdotes que desejavam entregar-se totalmente aos rapazes órfãos, mas ouve falar também de Dom Bosco e daquilo que a Congregação Salesiana começa a fazer não só no Piemonte, mas também em França, Espanha e Argentina. Intuindo o alcance da obra iniciada por Dom Bosco e, com grande amor aos jovens e grande humildade, pede para ser salesiano, ele e os seus sacerdotes que ajudavam os rapazes pobres. É preciso fé, coragem e amor sincero para se desprender da própria criatura e confiá-la a outros que a possam fazer crescer. O padre Belloni escreve diretamente a Dom Bosco convidando-o a enviar os seus salesianos para a Palestina, que naquele tempo era território sob protetorado inglês. Não será Dom Bosco a atender o pedido de Belloni, mas o seu sucessor, Pe. Miguel Rua. Os salesianos chegam a Belém em 1891 e o padre Belloni pede imediatamente para ingressar na Congregação Salesiana e entrega ao serviço dos filhos de Dom Bosco o belo e grande orfanato que tinha construído em 1863, tendo anexa a igreja do Sagrado Coração.
Desde então os salesianos permaneceram sempre neste lugar tão especial e sugestivo para a cristandade inteira. Do orfanato passou-se à escola profissional, que continua a funcionar e a preparar os jovens palestinianos para o trabalho, e ao oratório salesiano como é típico de qualquer obra de Bosco.
A etimologia do nome Belém significa “casa do pão” e, por uma feliz coincidência de factos, nós salesianos temos uma padaria. Que estranho, dirá alguém. Efetivamente as coisas proporcionaram-se assim. Desde o tempo do orfanato, que acolhia até cem crianças, para poupar no custo da alimentação, funcionava na casa um pequeno forno para cozer o pão. O forno gerido por um salesiano coadjutor continua a funcionar sempre para uso interno, primeiro do orfanato e depois da comunidade salesiana e da escola.
Durante o período da segunda Intifada, no início dos anos 2000, nos períodos de maior confrontação entre palestinianos e israelitas, o recolher obrigatório imposto pelas autoridades israelitas tinha trazido a fome à população local de Belém, que não podia sair de casa para comprar alimentos.
Os salesianos têm o forno, têm sacos de farinha na dispensa, as pessoas têm fome… não se pode ficar a olhar para o lado. Começam a produzir muito mais pão do que é necessário para o consumo interno e, aproveitando dos pátios interiores e das passagens secretas entre casa e casa, o pão chega às portas das famílias mais pobres. Entretanto a farinha diminui rapidamente, mas, quando está para terminar, o clima político desanuvia e pode-se circular de novo para se abastecer de farinha… a fome foi esconjurada! Desde então o forno de Belém gerido diretamente pelos salesianos nunca mais deixou de fabricar pão para a população local. Tornou-se, para todos os efeitos, a mais famosa padaria de Belém. Porque, entretanto, chegaram de Itália mestres padeiros que ensinaram a confecionar diversos tipos de pão e, com a ajuda das Missões Salesianas, foi possível renovar os equipamentos.
Hoje o forno dos salesianos emprega cinco trabalhadores a tempo inteiro que todas as noites transformam quintais de farinha e de manhã, logo a partir das seis, abre a padaria que vende o pão até se esgotar… lá para as dez, máximo onze da manhã, em que a padaria fecha por se ter acabado o pão fresco. Nada mais nada menos que catorze variedades de pão, quem diria!
Contudo os pobres não foram esquecidos. O contacto com as famílias necessitadas, estabelecido no período da Intifada, levou a criar uma lista de pobres que todos os dias recebem o pão a um preço simbólico, alguns recebem-no diariamente grátis. E são a terça parte de todos os clientes da padaria. O que se recebe do pão vendido diariamente dá para pagar os salários dos trabalhadores, cobrir as perdas geradas pelo pão dado aos necessitados e contribuir para a economia da casa salesiana.
Jerusalém. Nesta cidade, única no mundo por tantos motivos, mas seguramente por ser a cidade santa para as três grandes religiões monoteístas: judaísmo, islão e cristianismo, nós salesianos temos um estudantado teológico internacional. É uma casa de formação para os salesianos que se preparam para o sacerdócio. Atualmente são 39 os jovens que se preparam para o ministério sacerdotal no estudantado de Ratisbonne. O nome de Ratisbonne vem do apelido francês do fundador deste belo edifício no centro de Jerusalém, que a Santa Sé entregou à nossa gestão em 2004. As aulas de Teologia e de Sagrada Escritura são frequentadas também por religiosos de outras congregações que, não dispondo de estudantado próprio, recorrem à nossa estrutura formativa no caminho de preparação para o sacerdócio.
Um pouco na periferia da cidade de Jerusalém, em território pertencente à Palestina, mas perigosamente circundada pelo muro que Israel continua a construir para delimitar as suas fronteiras, temos outra obra no vale de Cremisan. Durante muito tempo esta obra foi casa de formação dos salesianos na Terra Santa, precisamente até à transferência do teologado para Ratisbonne. A casa de Cremisan encontra-se no centro de uma vasta extensão de terreno agrícola cultivado de vinha e de olival. Aí se produz ótimo vinho branco e tinto, já distinguido com prémios a nível internacional. O azeite, esse, é de uma qualidade superior e a prensa a frio garante o sabor e a integridade do mesmo até à mesa. Portanto, Cremisan não é só sinónimo de espiritualidade e caminho de formação, mas é também uma bela empresa agrícola.
Quero terminar com as palavras de Khader, um muçulmano que trabalha na casa salesiana de Belém: «Aqui empenhamo-nos em fazer crescer uma nova geração, mais instruída, mais consciente: rapazes e raparigas capazes de caminhar de mãos dadas. Há certamente diferenças entre muçulmanos e cristãos, mas temos princípios comuns: a moralidade e a lei de Deus».
Publicado no Boletim Salesiano n.º 567 de Março/Abril de 2018
Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália, Giampietro Pettenoon/Missione Don Bosco
Fotografias: SDB Belém, SDB Ratisbonne