Salesianos no Egito: «Padre, tenho fome. Tenho tanta fome»

A obra salesiana em Alexandria no Egito foi fundada em 1896 pelo Pe. Miguel Rua. Hoje os Salesianos têm duas escolas técnicas, uma em Alexandria, outra no Cairo, e um Centro Salesiano nos arredores da capital.

O Instituto Dom Bosco de Alexandria no Egito é frequentado por cerca de 900 alunos e alunas, da creche até aos cursos profissionais de mecânica e de electricidade. Elemento peculiar desta obra é ser frequentada quase só por muçulmanos, os cristãos matriculados são cerca de 25. Os pátios, quando de tarde são deixados livres pelos estudantes, não ficam silenciosos nem vazios porque se enchem de vida e alegria com os rapazes do Oratório diário que se juntam para um jogo de futebol.

No Cairo, os Salesianos têm uma grande escola técnica, o Instituto Salesiano, frequentada por quase 800 alunos provenientes de todo o país. Quando de tarde terminam as aulas e à sexta-feira e ao domingo em que não há aulas, os mesmos ambientes são utilizados pelos rapazes do bairro que frequentam o Oratório. O Oratório de tarde é aberto só a crianças e jovens cristãos, um espaço exclusivo para eles, em que podem crescer juntos na vida social e na fé cristã, num país em que são minoria, muitas vezes marginalizada.

A terceira obra existente no Egito, num bairro periférico do Cairo, situa-se em Zeitun. Os Salesianos estão ali há pouco mais de 30 anos com um Oratório e um Centro Juvenil a que se junta também a Paróquia. Para lá chegar atravessamos um labirinto de ruas esburacadas. Pó e areia por toda a parte. Tudo é cinzento: as casas, as ruas, os automóveis. A missão que os Salesianos assumiram neste bairro é delicada. Orientaram o seu ministério pastoral para os refugiados sudaneses e para crianças da rua. Na igreja paroquial, construída pelos franceses na primeira metade do século passado e agora restaurada por voluntários, os batismos são numerosos, a catequese é seguida por todos os jovens e a Eucaristia dominical não dura menos de duas horas, entre cânticos e danças acompanhadas pelos tradicionais tambores.

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Há depois os garotos da rua, egípcios. Por enquanto, são acolhidos ainda poucos, o espaço é mesmo reduzido, mas os que são acompanhados no bairro pela equipa educativa são cerca de 70. O pátio do Oratório é pequeno e rodeado de prédios cinzentos. Por isso, os rapazes podem ir por turnos para o oratório: das três às cinco vão para lá os pequenos até ao quinto ano, das cinco às sete os das classes médias e das sete em diante os mais velhos.

Aos refugiados sudaneses o governo egípcio não garante praticamente nada. Quem pode, sujeita-se a fazer os trabalhos mais humildes, sem qualquer tutela laboral, ao serviço das famílias egípcias ou dos comerciantes da zona. Devido à extrema pobreza em que vivem estas famílias, o primeiro turno de oratório, o dos pequenos, termina com a oração e um lanche.

O padre Dany Kerio, diretor da casa, recorda uma situação que o impressionou muito, como homem e como salesiano. Um dia, pouco depois da abertura do Oratório, uma menina aproxima-se timidamente dele e pergunta quando será a oração. O padre Dany responde-lhe que a oração é como de costume às 17 horas. Passado algum tempo, a menina volta junto dele e pergunta-lhe quanto falta para a oração na igreja. O padre repete que a oração será às 17, mas convida a menina a ir à igreja antes, se deseja dirigir uma oração a Jesus. Então a menina, baixando os olhos, revela-lhe o motivo da sua insistência: “Padre, tenho fome. Tenho tanta fome”.

“Tive fome e destes-me de comer… todas as vezes que o fizestes a um destes irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes”.

Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália/Missioni Don Bosco
Publicado no Boletim Salesiano n.º 570 de Setembro/Outubro de 2018

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