Comentário ao Compêndio do Catecismo /12
Enzo Bianchi
A oração de Maria caracteriza-se pela fé e pela oferta generosa de todo o seu ser a Deus. A Mãe de Jesus é a Nova Eva, a «Mãe dos viventes»: ela pede a Jesus, seu Filho, pelas necessidades de todos os homens.
(Compêndio do Catecismo nº 546)
Para além da intercessão de Maria em Caná da Galileia, o Evangelho apresenta-nos o Magnificat (Lc 1,46-55), cântico da Mãe de Deus e da Igreja, jubilosa acção de graças que se eleva do coração dos pobres porque a sua esperança foi realizada pelo cumprimento das promessas divinas.
(Compêndio do Catecismo n. 547)
“Aquela que o Omnipotente tornou “cheia de graça” (Lc 1,28), responde com a oferta de todo o seu ser: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). “Fiat”, é a oração cristã: ser inteiramente para Ele, porque Ele é inteiramente para nós” (CIC 2617).
Lucas, que gosta de apresentar Maria como uma mulher de escuta e meditação (cf. Lc 2,19.51), esboça nela a figura do crente que chega a discernir a sua chamada à luz da Palavra de Deus contida nas Escrituras e do Espírito Santo. Como mulher de fé, de escuta e de obediência, Maria submete-se plenamente à Palavra e ao Espírito. Não é por acaso que Isabel, no momento da visitação, exclama: “Bem-aventurada aquela que acreditou que as palavras do Senhor se cumpriam” (Lc 1,45). A grandeza de Maria reside na sua fé, e ela é louvada por ter acreditado no cumprimento da promessa de Deus, que abre horizontes muito mais amplos do que aqueles que a criatura humana, entregue à sua própria sorte, poderia alcançar.
E é precisamente porque reconhece o que Deus fez nela, que Maria desfia o seu cântico de ação de graças, o Magnificat, autêntico mosaico de passagens bíblicas: a Palavra de Deus enviada a Maria volta a Deus, sob a forma de bênção e de ação de graças, depois de ter dado fruto (cf. Is 55, 10-11). Maria insere a sua história pessoal na história da salvação conduzida por Deus com o seu povo e, com o Magnificat, traça um arco que, chegando a Abraão, o pai dos crentes, unifica toda a história da salvação, da promessa ao cumprimento. Uma realização que certamente encontra um momento particularmente significativo no nascimento do Messias Jesus, o Filho de Deus, mas que significa também o renascimento da promessa: porque a história da salvação guiada por Deus deve chegar a abraçar “todas as gerações” (Lc 1,48) e a sua misericórdia deve estender-se “de geração em geração” (Lc 1,50). Maria canta um acontecimento de salvação realizado nela, mas que através dela quer chegar a toda a humanidade, mostrando um alcance universal. Afinal, ou a salvação é universal ou não é!
Ao reconhecer e confessar a ação de Deus nela, Maria mostra que a tarefa dos crentes, da Igreja, é dar louvor ao Senhor que faz maravilhas na história. Maria aparece assim como “modelo e imagem da Igreja” (cf. Lumen Gentium 63.68): igreja que exerce o seu ministério profético principalmente através do discernimento e da celebração da intervenção de Deus na história em favor de toda a humanidade.
(Família Cristã, 11 de novembro de 2012)