Comentário ao Compêndio do Catecismo /25
Enzo Bianchi
Os santos são modelos de oração e a eles pedimos para, junto da Santíssima Trindade, intercederem por nós e pelo mundo inteiro. A sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao desígnio de Deus. Na comunhão dos santos, desenvolveram-se, ao longo da história da Igreja, diversos tipos de espiritualidade, que ensinam a viver e a pôr em prática a oração.
(Compêndio do Catecismo nº 564)
Na profissão de fé que nos foi entregue pela Igreja, proclamamos: “Creio na comunhão dos santos. Sim, os mortos por Cristo, com Cristo e em Cristo estão com Ele para sempre, e como nós somos membros do corpo de Cristo e eles são membros gloriosos do corpo glorioso do Senhor, estamos em comunhão uns com os outros, igreja peregrina com igreja celeste, formando juntos o único e total corpo do Senhor.
É a consciência desta comunhão profunda que alimentou a fé e o caminho de santidade de muitos crentes, desde os primeiros séculos até aos nossos dias: homens e mulheres escondidos, capazes de viver a resistência quotidiana às idolatrias sempre novas, na submissão paciente à vontade do Senhor e no amor sábio por cada ser humano. O santo torna-se então uma presença efectiva para o cristão e para a Igreja: não estamos sós, mas “envolvidos por uma grande nuvem de testemunhas” (Heb 12,1), com elas somos filhos de Deus, com elas seremos um com o Filho.
Em Cristo, estabelece-se entre nós e os santos do Céu uma intimidade que ultrapassa a que existe nas nossas relações, mesmo as mais fraternas, aqui na terra: eles rezam por nós, intercedem, estão perto de nós como amigos sempre fiéis. A intercessão dos santos junto de Deus é eficaz porque se insere na intercessão do único intercessor, Jesus Cristo (cf. 1Tm 2,5-6). Aqueles que durante a sua vida tiveram “os mesmos sentimentos que estavam em Cristo Jesus” (Fil 2,5), quando chegam ao céu conhecem a plena comunhão com Ele, e assim a sua oração realiza-se plenamente dentro da única oração de Cristo, que depois da sua morte e ressurreição “está à direita de Deus e intercede por nós” (Rom 8,34).
Quanto aos “diferentes tipos de espiritualidade” ligados às diversas figuras de santos, para compreender corretamente esta afirmação, é necessário ler a versão mais ampla do Catecismo: “As espiritualidades cristãs participam na tradição viva da oração e são guias indispensáveis para os fiéis. Refletem, na sua rica diversidade, a pura e única luz do Espírito Santo. «O Espírito é verdadeiramente o lugar dos santos. E o santo é, para o Espírito, um lugar próprio, pois se oferece para habitar com Deus e é chamado seu templo» (São Basílio de Cesareia)” (CIC 2684). Na comunhão dos santos do céu e da terra, as múltiplas formas de oração realizam-se graças ao único Espírito, que “vem em auxílio da nossa fraqueza e intercede com gemidos inexprimíveis” (Rm 8, 26).
(Família cristã, 10 de fevereiro de 2013)