O que é a meditação?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /30
Enzo Bianchi

A meditação é uma reflexão orante, que parte sobretudo da Palavra de Deus na Bíblia. Mobiliza a inteligência, a imaginação, a emoção, o desejo, para aprofundar a nossa fé, suscitar a conversão do nosso coração e fortalecer a nossa vontade de seguir a Cristo. É uma etapa preliminar em direcção à união de amor com o Senhor.
(Compêndio do Catecismo n. 570)

O carácter próprio da meditação cristã foi apreendido pela tradição em relação à Bíblia, à Sagrada Escritura: Deus, de facto, revela-se falando, e a sua revelação definitiva é o Verbo feito carne, Jesus Cristo (cf. Jo 1, 14).
A meditação bíblica tem como objetivo o conhecimento da vontade de Deus, para a poder praticar, para a viver. O latim meditari remete para a ideia de exercício, de repetição que leva à memorização, à assimilação de uma Palavra que não deve ser simplesmente compreendida a nível intelectual, mas vivida, encarnada. Não é por acaso que a terminologia bíblica fala de comer a Palavra, de mastigar e ruminar as Escrituras (cf. Ez 2,9-3,3; Ap 10,8-10). “Para os antigos, meditar é ler um texto e aprendê-lo de cor com todo o ser: com o corpo porque é a boca que o pronuncia, com a memória que o fixa, com a inteligência que compreende o seu sentido, com a vontade que o quer pôr em prática” (Jean Leclercq).
A meditação parte da leitura, mas evolui para a oração e a contemplação. Compreendemos porque é que o nosso discurso nos leva inevitavelmente a referir a lectio divina, ou seja, a prática da leitura-escuta da Escritura que faz emergir dela a palavra de Deus, levando o crente a aplicar-se ao texto e o texto a si próprio, num diálogo que resulta numa consequente conduta de vida. Este processo foi elaborado como um caminho em quatro etapas, definidas respetivamente como leitura, meditação, oração, contemplação.
A meditação é a operação espiritual – movida, isto é, pelo Espírito Santo – que, a partir da escuta da Palavra, leva à resposta de oração e de vida ao Deus que exprime a sua vontade através da palavra escriturística. A meditação cristã é, portanto, sempre a busca de uma interiorização da Palavra de Deus. Se é verdade que a Escritura é um sacramento desta Palavra, também é verdade que ela chega ao homem através dos caminhos da existência, dos encontros humanos e dos acontecimentos da vida. Mas também aí o crente será chamado a ler e a escutar, depois a aprofundar, a interpretar no pensamento, a meditar, isto é, a dar sentido aos acontecimentos e aos encontros, para depois discernir a presença da Palavra de Deus no mundo e na história, e depois viver de acordo com ela.
É evidente, pelo que foi dito, que a meditação cristã não consiste numa técnica rígida ou pré-definida, nem está centrada no sujeito que a pratica: ela procura sempre abrir-nos à alteridade de Deus, logo ao amor e à comunhão que Ele nos inspira, guiando-nos a ter em nós o mesmo sentimento e a mesma vontade que havia em Cristo Jesus (cf. Fil 2,5).
(Família cristã, 17 de março de 2013)

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