Comentário ao Compêndio do Catecismo /1
Enzo Bianchi
A oração consiste em elevar a alma a Deus ou em pedir a Deus bens conformes à sua vontade. Ela é sempre um dom de Deus que vem ao encontro do homem. A oração cristã é relação pessoal e viva dos filhos de Deus com o Pai infinitamente bom, com o seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo que habita no coração daqueles.
(Compêndio do Catecismo nº 534)
Ao abordar o tema da oração cristã, o Compêndio do Catecismo começa com uma célebre definição de João Damasceno, retomada no Ocidente por Tomás de Aquino e depois aprendida e apreciada por gerações de crentes: “A oração consiste em elevar a alma a Deus ou em pedir a Deus bens conformes à sua vontade.”
A oração é, sem dúvida, a procura de Deus pelo homem, é o movimento para Deus do nosso coração que permanece inquieto até repousar nele, como gostava de dizer Agostinho. Mas atenção: Deus não pode ser alcançado pelo homem apenas com as suas forças e, portanto, a oração não é um empreendimento voluntarista, praticado com técnicas mais ou menos refinadas. É por isso que o Compêndio afirma imediatamente que a oração “é sempre um dom de Deus que vem ao encontro do homem”. Sim, a oração é, antes de mais, uma resposta à iniciativa de Deus, é a escuta do homem para chegar ao acolhimento de uma Presença, a Presença de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Nesta perspetiva, a oração é uma “relação pessoal e viva”. Melhor ainda, na linguagem bíblica utilizada pela versão alargada do Catecismo da Igreja Católica, é uma relação de aliança: “A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; jorra do Espírito Santo e de nós, toda orientada para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem.” (CIC 2564). A partir da escuta, da descoberta de que Deus sempre nos precede e deseja entrar em aliança com cada um de nós, na oração abrimo-nos ao diálogo, à comunhão com o Senhor. Neste sentido, “a vida de oração consiste em estar habitualmente na Presença do Deus três vezes Santo e em comunhão com Ele” (CIC 2565).
É esta a experiência da oração, que escapa a toda a definição e a toda a fórmula pré-estabelecida: exercitamo-nos dia após dia para acolher o dom de Deus, a sua Presença mais íntima de nós do que nós próprios podemos ser, na qual “vivemos, nos movemos e existimos” (Act 17,28). É neste caminho que nos é dado conhecer, pela graça, que “Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele” (Gregório de Nazianzo); e experimentar que a verdade da nossa oração se manifesta numa vida conformada ao amor de Cristo (cf. CIC 2565).
(Família Cristã, 26 de agosto de 2012)