Comentário ao Compêndio do Catecismo /20
Enzo Bianchi
O louvor é a forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus. É completamente desinteressada: canta Deus por Ele ser quem é e glorifica-O porque Ele é.
(Compêndio do Catecismo n. 556)
O louvor adquiriu um valor de excelência em relação a outras formas de oração, um valor repetidamente formulado pela tradição cristã, que sublinha a sua pureza e gratuidade. Creio, no entanto, que a lógica da comparação não se adequa à gratuidade do louvor, que deve antes ser entendido no movimento relacional da oração.
Nas relações humanas, o louvor é uma linguagem que exprime a avaliação positiva do outro; de facto, é normalmente a linguagem dos apaixonados.
Do mesmo modo, na oração, o louvor é o amor que responde ao amor: responde-se ao amor de Deus louvando, isto é, reconhecendo o Outro na grandeza das suas obras. E o louvor tem sempre como destinatário a pessoa de Deus: o louvor é o amém, o “sim” incondicional do homem a Deus e à sua ação. Este é o louvor do próprio Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim decidiste na tua bondade” (Mateus 11,25-26). O louvor do cristão repete este movimento, através de Jesus Cristo: “Todas as promessas de Deus em Cristo são ‘sim’. Por isso, por ele, o nosso “amém” sobe a Deus para sua glória” (2 Cor 1,20).
Este aspeto do louvor como “amém” dirigido a Deus e confissão da sua presença leva-nos a compreender como o louvor é sinónimo de acreditar: o louvor exprime o aspeto celebrativo da fé. Não é por acaso que, na Bíblia, surge muitas vezes depois do discernimento da intervenção de Deus na história: assim, por exemplo, o cântico de Moisés segue-se à confissão da ação de Deus que faz sair Israel do Egipto (cf. Ex 15). Por isso, mais do que a superioridade do louvor sobre a súplica, é necessário falar do louvor como horizonte que engloba a própria súplica (não é por acaso que muitos salmos de súplica conduzem ao louvor: cf. Sl 22, 31, etc.). A súplica supõe o louvor e tende para o louvor: funda-se no louvor, na medida em que invoca Deus e reconhece que só com Ele pode contar; tende para o louvor, porque espera voltar a ver o rosto amigo do Senhor (cf. Sal 42,6.12; 43,5).
Mas se o louvor sintetiza, em forma de oração, as dimensões do amor, da fé e da esperança, é evidente como ele é a própria vida do crente, chamado a ser “louvor da glória de Deus” (Ef 1,14). Uma vez que se ama Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo, quer-se louvar de todo o coração, isto é, viver e morrer na presença de Deus. É significativo que a tradição cristã nos apresente o mártir como um exemplo de louvor vivido até ao fim, quase um “amém” personificado.
(Família cristã, 6 de janeiro de 2013)