O que é uma bênção?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /15

Enzo Bianchi

A bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: nós bendizemos o Omnipotente que primeiramente nos abençoa e enche dos seus dons.

(Compêndio do Catecismo nº 551)

Lemos na versão alargada do Catecismo: “A bênção exprime o movimento de fundo da oração cristã: ela é o encontro de Deus com o homem; nela se encontram e unem o dom de Deus e o acolhimento do homem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode responder bendizendo Aquele que é a fonte de toda a bênção” (CIC 2626). E atenção: nunca se bendiz uma coisa, mas bendiz-se Deus por no-la ter dado. Com efeito, tudo o que Deus criou é bom em si mesmo: “Pois tudo o que Deus criou é bom… quando recebido com ação de graças” (1Tm 4,4).

Este movimento do dom de Deus e da resposta agradecida do homem está admiravelmente sintetizado nas palavras que o presbítero pronuncia durante a liturgia eucarística no momento da apresentação dos dons: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos da vossa bondade, fruto da terra e do trabalho do homem, … pelo vinho que recebemos da vossa bondade, fruto da videira e do trabalho do homem”. A bênção cristã, com raízes na berakah judaica, consiste precisamente em dar graças a Deus pelos dons da sua misericórdia; através da bênção somos elevados do dom ao Doador, captando a presença do seu amor nos inúmeros dons pontuais com que nos cumula todos os dias.

E o dom por excelência, aquele que os contém a todos, é o dom do seu Filho Jesus Cristo: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos céus em Cristo” (Ef 1,3). É significativo, neste sentido, que o evangelho segundo Lucas nos apresente Jesus como aquele que é motivo de bênçãos à sua volta, de uma ponta à outra da sua vida: quando tinha apenas oito dias de vida, o ancião Simeão “tomou-o nos braços e bendisse a Deus” (Lc 2,23); e, depois da sua ascensão, os apóstolos, aguardando a sua vinda gloriosa, “estavam sempre no templo a bendizer a Deus” (Lc 24,53).

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Em suma, toda a existência de Jesus pode ser lida como uma bênção: em todas as suas palavras e ações, em todos os seus encontros, procurou sempre e só bendizer o Pai, devolver continuamente a Deus os dons recebidos. Até àquele gesto que resume toda a sua existência, realizado na iminência da sua paixão e morte: “enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e, dando-o aos discípulos, disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”” (Mt 26,26).

(Família cristã, 2 de dezembro de 2012)

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