Comentário ao Compêndio do Catecismo /54
Enzo Bianchi
«Depois, acabada a oração, tu dizes: Ámen, corroborando com o Ámen, que significa “Assim seja, que isso se faça”, tudo o que está contido na «oração que Deus nos ensinou»(S. Cirilo de Jerusalém).
(Compêndio do Catecismo nº 598)
“Em hebraico, Ámen está ligado à mesma raiz que a palavra «crer», (aman), raiz que exprime solidez, confiança, fidelidade. Assim se compreende porque é que o «Ámen» se pode dizer tanto da fidelidade de Deus para connosco como da nossa confiança n’Ele” (CIC 1062).
Por conseguinte, para compreender o significado da palavra “amém”, que tantas vezes repetimos na liturgia, devemos deter-nos primeiro na compreensão judaico-cristã da fé. Nas Sagradas Escrituras, a fé não tem um valor intelectual, mas é uma atitude vital que envolve toda a pessoa, apreendida na sua unidade; não indica tanto a crença numa verdade abstrata, mas a adesão com todo o seu ser a uma verdade pessoal, a uma pessoa: a Deus, a Jesus Cristo. Na linguagem bíblica, as duas raízes fundamentais para exprimir a fé, o acreditar, são batakh e aman: a primeira indica “confiar, fiar-se, jogar pelo seguro”, a outra “entrega, adesão”. Uma criança encostada com uma faixa ao peito da mãe tem plena confiança (cf. Is 66,12-13), nos seus braços sente-se segura (cf. Sl 131,2). A fé é isto: uma adesão inabalável ao Deus fiel (cf. Is 65, 16), uma confiança que se deposita unicamente n’Ele, permanecendo inabalável. “Assim”, de facto, “diz o Senhor Deus: ‘Se não aderires a Mim, não terás estabilidade'” (Is 7,7.9).
É animado por esta consciência que o cristão conclui também a recitação do Pai-Nosso dizendo: “Amém: sim, é assim, estou firme, eu adiro com fé ao que está expresso nesta oração”. Diz isto tanto na oração pessoal como na oração comunitária, unindo o seu coração e a sua voz aos dos seus irmãos e irmãs na fé. Esta pequena palavra, mas tão decisiva, deve ressoar com tal convicção que São Jerónimo chega a comparar o “amém” a “um estrondo de trovão vindo do céu”!
Com o “amém” afirmamos que o Pai-Nosso julga a autenticidade e a legitimidade de toda a oração pessoal e litúrgica, que a oração do Senhor é o selo de conformidade de todo o nosso diálogo com Deus: o que é conforme ao Pai pode subir até Deus, enquanto o que não é deve permanecer na terra. Além disso, com esta oração, cânone e síntese de toda a oração cristã, atestamos que “o próprio Jesus Cristo é o «Ámen» (Ap 3, 14). É o Ámen definitivo do amor do Pai para connosco: assume e leva a bom termo o nosso «Ámen» ao Pai: «É que todas as promessas de Deus encontram n’Ele um «sim»! Desse modo, por seu intermédio, nós dizemos «Ámen» a Deus, a fim de lhe darmos glória»” (2Cor 1,20)” (CIC 1065).
(Família Cristã, 1 de setembro de 2013)