Porque é eficaz a nossa oração?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /11

Enzo Bianchi

A nossa oração é eficaz porque está unida à de Jesus mediante a fé. N’Ele, a oração cristã torna-se comunhão de amor com o Pai. Podemos, neste caso, apresentar os nossos pedidos a Deus e ser atendidos: «Pedi e recebereis, assim a vossa alegria será completa» (Jo 16,24).

(Compêndio do Catecismo nº 545)

A oração é uma descentralização do nosso eu para deixar que o eu de Cristo desenvolva a sua vida em nós: trata-se de acolher o Filho na sua presença de Senhor e aceitar que Ele venha com o Pai para habitar em nós (cf. Jo 14,23), através do Espírito Santo. E acolher o Filho não significa apenas habitar “em Cristo”, mas tornar-se a sua morada, isto é, experimentar a vida de Cristo em nós, a ponto de confessar: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É uma experiência capital para o crente, é o critério para discernir a qualidade da fé cristã, como nos recorda a pergunta com que Paulo convida os cristãos da jovem comunidade de Corinto a pôr-se à prova: “Não reconheceis que Jesus Cristo habita em vós?” (2 Cor 13,5). Graças a esta mútua habitação, podemos fazer nossa a oração de Cristo: esta é a oração cristã, na qual o Espírito nos conforma cada vez mais ao Filho na sua constante orientação para o Pai.

Rezar é também pedir a Deus aquilo de que temos necessidade, mas pedir em nome de Jesus, confiando na sua promessa: “Tudo o que pedirdes em meu nome, eu farei” (Jo 14,13). Isto significa, sem dúvida, unir a nossa oração à de Jesus, que “à direita de Deus intercede por nós” (Rm 8,34); mas, sobretudo, sintonizar a nossa oração com a sua, isto é, ter em nós os mesmos sentimentos que havia n’Ele (cf. Fil 2,5). O objetivo da oração é, de facto, levar-nos a fazer a vontade de Deus, e não que Deus faça a nossa: não são as nossas orações que transformam o plano de amor de Deus por nós, mas são os dons que Deus concede na oração que nos transformam e nos colocam em comunhão de amor com Ele!

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É por isso que, se rezarmos em Nome de Jesus, já somos ouvidos (cf. Jo 16,23-24), tendo colocado como primado de todas as coisas o desejo de que a vontade de Deus se cumpra em nós e em todas as criaturas: este primado foi a sede de Jesus ao longo de toda a sua vida, foi o seu alimento quotidiano (cf. Jo 4,34)… É preciso acreditar nesta realização, porque tudo se torna possível para quem tem fé (cf. Mc 9,23; 11,24). Por isso, a oração é sempre “oratio fidei” (Tg 5, 15), ou seja, não só uma oração que deve ser feita com fé, mas que provém da fé: a oração é a eloquência da fé.

E se é verdade que a nossa fé (e, portanto, a nossa oração) é sempre frágil, basta colocá-la na fé de Jesus Cristo, Ele que é “a fé perfeita”, segundo a bela definição de Inácio de Antioquia: e Ele levá-la-á a bom termo, dando-nos a força para “fazer muito mais do que podemos pedir ou pensar” (Ef 3, 20).

(Família cristã, 4 de novembro de 2012)

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