Porque é que dizemos “Pai Nosso”? Com que espírito de comunhão e missão dizemos ao rezar a Deus Pai “nosso”?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /43
Enzo Bianchi

«Nosso» exprime uma relação totalmente nova com Deus. Sempre que rezamos ao Pai, adoramo-Lo e glorificamo-Lo com o Filho e o Espírito. Em Cristo, somos o «seu» Povo e Ele é o «nosso» Deus, desde agora e para a eternidade. Dizemos, com efeito, Pai «nosso», porque a Igreja de Cristo é a comunhão duma multidão de irmãos que têm «um só coração e uma só alma» (Act 4,32).
(Compêndio do Catecismo nº 584)
Dado que rezar o Pai «nosso» é um bem comum de todos os baptizados, estes sentem o apelo urgente a participar na oração de Jesus pela unidade dos seus discípulos. Rezar o «Pai Nosso» é rezar com e por todos os homens, para que conheçam o único e verdadeiro Deus e sejam reunidos na unidade.
(Compêndio do Catecismo nº 585)

Ao dizer “Pai nosso” (Mt 6,9), Jesus ensina-nos a confessar que a paternidade de Deus, experimentada por cada um dos seus discípulos como um acontecimento pessoal, é ao mesmo tempo única e plural, porque diz respeito também a outros homens e mulheres, a todos os nossos irmãos e irmãs. Cada um chama o Pai com o timbre da sua própria voz, cada um conhece o modo único do amor do Pai; ao mesmo tempo, porém, deve reconhecer que ao seu lado estão os seus irmãos e irmãs, os outros filhos do Pai, igualmente amados e queridos por Deus, cada um na sua força e na sua fraqueza.
Deus não quer que os seus filhos, tornados tais no seu Filho Jesus Cristo e pelo poder do Espírito Santo, o invoquem uns sem os outros, e muito menos uns contra os outros. É significativo, a este respeito, que na segunda parte do Pai-Nosso, os pedidos estejam no plural, exprimindo a fraternidade, a solidariedade e a comunhão de quem invoca Deus em favor de todos os seus filhos. É por isso que rezar o “Pai Nosso” em verdade exige uma renúncia a todas as formas de individualismo e um empenho concreto em abrir caminhos de comunhão. “Rezar Pai «nosso» abre-nos às dimensões do seu amor manifestado em Cristo: orar com e por todos os homens que ainda O não conhecem, para que sejam «reunidos na unidade» (cf. Jo 11, 52)” (CIC 2793).
Uma grande mulher espiritual do século passado, a Irmã Maria di Campello, escreveu: “Para nos prepararmos para o Pai-Nosso, devemos ter uma fraternidade cósmica, em união com os nossos irmãos e irmãs de qualquer religiosidade… Em algum momento, todos sentem que existe um Pai”. Por isso, a universalidade do Pai-Nosso deve ser absolutamente sublinhada: esta oração revela o que o ser humano enquanto tal precisa, o que é verdadeiramente importante para a sua vida e, portanto, o que ele pode pedir a Deus na sua oração.
Na verdade, cada ser humano e a humanidade inteira podem exprimir-se com o Pai-Nosso: é precisamente por isso que parece escandaloso que, mesmo nos nossos dias, cristãos de diferentes confissões se recusem a rezar juntos as palavras da oração por excelência que Jesus nos deixou! Como é possível invocar Deus como “nosso” Pai, o Pai comum a todos os homens, e fazê-lo por cristãos divididos, separados, incapazes de convergir juntos na essência da sua fé em Jesus Cristo, aquele que nos narrou definitivamente o rosto do Pai?
(Família Cristã, 16 de junho de 2013)

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