Porque é que podemos “ousar aproximar-nos do Pai com plena confiança”?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /41
Enzo Bianchi

Porque Jesus, nosso Redentor, nos apresenta diante do Rosto do Pai, e o seu Espírito faz de nós filhos. Podemos assim rezar o Pai Nosso com uma confiança simples e filial, com uma alegre segurança e uma audácia humilde, com a certeza de ser amados e atendidos.
(Compêndio do Catecismo nº 582)

“O vosso Pai sabe de que coisas tendes necessidade, mesmo antes de lhas pedirdes. Por isso, rezai assim…” (Mt 6,8-9). As palavras com que Jesus introduz o Pai-Nosso exprimem o sentimento de profunda confiança que deve animar o crente no ato de invocar Deus através da oração.
O próprio Jesus sempre se alimentou desta confiança e ensinou-a aos seus discípulos precisamente porque Ele mesmo a tinha experimentado, como o respirar quotidiano da sua própria relação com o Pai. Aquele respirar era para Jesus a presença do Espírito Santo, não por acaso a melhor parte entre as várias coisas boas (cf. Lc 11, 13; Mt 7, 11) que Ele nos exortava a pedir a Deus. E este Espírito é também o último dom que o Senhor ressuscitado nos deixou, antes de voltar para o Pai (cf. Jo 20, 22), é a força de Deus colocada nos nossos corações para nos ensinar a viver como Jesus. Por isso, uma das monições com que é introduzido o Pai-Nosso na liturgia eucarística diz: “O Senhor deu-nos o seu Espírito. Com a confiança e a liberdade de filhos, dizemos juntos…”.
Na tradição cristã, esta confiança plena assume um nome preciso, recordado também pela versão mais ampla do Catecismo: “Este poder do Espírito que nos introduz na oração do Senhor é expresso, nas liturgias do Oriente e do Ocidente, pela bela expressão tipicamente cristã: «parrêsía», simplicidade sem desvio, confiança filial, segurança alegre, ousadia humilde, certeza de ser amado” (CIC 2778).
São numerosas as passagens do Novo Testamento em que os apóstolos exortam os cristãos à parresía: “Em Cristo Jesus, nosso Senhor, temos a liberdade de aceder a Deus com plena confiança, pela fé nele” (Ef 3,11-12); “Esta é a confiança que temos em Deus: tudo o que lhe pedimos segundo a sua vontade, ele ouve-nos. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, sabemos que já recebemos dele tudo o que pedimos” (1Jo 5,14-15; cf. 3,21-22). São textos que não precisam de ser comentados, mas, precisamente, pedem-nos que pratiquemos a confiança no dia a dia…
É significativo que o Papa Francisco insista precisamente sobre esta confiança intensa, com palavras corajosas que lhe vêm da experiência de toda uma vida de oração: “Jesus – para o dizer de forma um pouco forte – desafia-nos à oração e diz: “Tudo o que pedirdes em meu nome, eu farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14, 13)… Temos a coragem de ir ter com Jesus e pedir-lhe assim: “Tu disseste isto, fá-lo”? … Todos temos de ser corajosos na oração, desafiando Jesus” (homilia, 3 de maio de 2013).
(Família cristã, 2 de junho de 2013)

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