Quais as fontes da oração cristã?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /22

Enzo Bianchi

São: a Palavra de Deus, que nos dá a «sublime ciência de Cristo» (Filp 3,8); a Liturgia da Igreja que anuncia, actualiza e comunica o mistério da salvação; as virtudes teologais; as situações quotidianas, porque nelas podemos encontrar Deus.
(Compêndio do Catecismo n. 558)

“O Espírito Santo é “a água viva” que, no coração orante, “jorra para a vida eterna” (Jo 4,14). É Ele que nos ensina a tirá-la da mesma fonte: Cristo. Na vida cristã, há fontes onde Cristo nos espera para beber do Espírito Santo” (CIC 2652). A este parágrafo introdutório segue-se a exposição do Catecismo sobre as fontes da oração cristã.
Antes de mais, as duas fundamentais: a Palavra de Deus e a liturgia da Igreja. Para a fé judaico-cristã, a relação entre a Escritura, que contém a Palavra de Deus (cf. Dei Verbum 24), e a liturgia é, para manter a metáfora utilizada, “fonte”. A Palavra de Deus tende, por si mesma, para a ação litúrgica e a liturgia que procede da Palavra é o ato em que se revela a presença de Deus, é o lugar em que o Senhor se manifesta ao seu povo e faz aliança com ele; “a Palavra de Deus torna-se celebração e a celebração não é outra coisa senão a Palavra de Deus vivificada da melhor maneira” (A. M. Triacca).
O ambiente litúrgico é, portanto, o lugar privilegiado para a escuta da Palavra, porque nele a Palavra não só é ouvida e interpretada, mas também celebrada pela assembleia. A liturgia é uma convocação à atitude de escuta que, no contexto da assembleia, dá vida a um diálogo, porque nela se encontram a Palavra de Deus e a resposta da assembleia: ao Deus que fala, a Igreja responde com a oração e o gesto sacramental. A Palavra proclamada é acolhida no coração do homem como Palavra eficaz que realiza aquilo para que Deus a enviou (cf. Is 55,10-11); mas do coração deve voltar à boca do crente (cf. Rm 10,8-10) que, confessando a fé e empenhando-se na obediência, confirma a aliança com Deus, em vista de uma prática concreta da sua vontade na história. Tudo isto acontece na força do Espírito Santo: assim como o Espírito faz brotar da Escritura a autêntica Palavra de Deus, assim também o Espírito faz brotar da Igreja a autêntica resposta a Deus, isto é, uma oração gerada e inspirada pela própria Palavra.
Conscientes desta fonte primária da sua oração, os cristãos são chamados a rezar todos os dias, em cada “hoje” (cf. Sl 95,7) da sua vida quotidiana. E podem fazê-lo abraçando e exercitando as virtudes teologais, cujo vértice é a caridade (cf. 1 Cor 13, 13): “a oração, formada pela vida litúrgica, vai haurir tudo no amor com que fomos amados em Cristo e que nos dá a graça de Lhe corresponder, amando como Ele amou. O amor é a fonte da oração; quem bebe dessa fonte atinge os cumes da oração” (CIC 2658).
(Família cristã, 20 de janeiro de 2013)

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