Comentário ao Compêndio do Catecismo /27
Enzo Bianchi
Em toda a parte se pode rezar, mas a escolha de um lugar apropriado não é indiferente para a oração. A igreja é o lugar próprio da oração litúrgica e da adoração eucarística. Também outros lugares ajudam a rezar, como um «recanto de oração» em casa; um mosteiro; um santuário.
(Compêndio do Catecismo nº 566)
O crente vive a sua fé na comunidade, exprime-a na liturgia, na oração de toda a Igreja, juntamente com os outros irmãos e irmãs, fazendo da oração comum a melhor escola da oração pessoal. Ele não tem de enveredar por um novo caminho, mas recebe da Igreja o cânone da oração: os Salmos, a leitura da Escritura, a intercessão, o “Pai Nosso” e o ponto culminante da própria oração, ou seja, a Eucaristia. A liturgia é, portanto, o “lugar”, o ambiente vital onde se pode crescer na fé e na comunhão com o Senhor.
Mas a oração comum não basta: é necessária a interiorização, a gratuidade de quem dá Deus pessoalmente, quando os outros não estão fisicamente ao seu lado. É por isso que Jesus disse: “Quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e reza a teu Pai, que está em segredo; e teu Pai, que vê em segredo, recompensar-te-á” (Mt 6,6). Este convite não é apenas um antídoto contra a hipocrisia daqueles que rezam para serem vistos pelos outros (cf. Mt 6,5), mas indica um caminho de diálogo amoroso e íntimo com Deus, “face a face” com o Invisível, que conhece, olha e fala a cada um de forma única e irrepetível. Sim, a oração pessoal é uma ocasião para nos dirigirmos a Deus com liberdade, para acolhermos a sua Presença, para nos apercebermos que Ele está à porta e bate (cf. Ap 3,20), que Ele nos visita com solicitude. Quem se alimenta apenas da oração comunitária corre o risco de fazer dela apenas uma experiência de pertença ao grupo, ou até uma espécie de exibição diante dos outros…
Hoje é precisamente a oração pessoal que é mais negligenciada, mas esta situação corre o risco de, a longo prazo, esvaziar até a verdade da própria oração litúrgica. Se na pastoral muitos esforços são dedicados à iniciação litúrgica, infelizmente não são acompanhados por uma adequada transmissão da oração pessoal, que deveria ser ensinada desde a infância. De facto, quem não recebe desde cedo a iniciação à oração pessoal – o “lugar” quotidiano da comunhão com Deus, da recordação incessante da sua Presença – dificilmente poderá alimentar-se, na vida futura, de modo a aumentar a sua fé no Deus vivo.
As palavras do pensador judeu Martin Buber soam, por isso, como um aviso ainda atual: “Se acreditar em Deus significa ser capaz de falar dele na terceira pessoa, eu não acredito em Deus. Se acreditar nele significa ser capaz de falar com ele, então eu acredito em Deus”. Os cristãos de hoje sabem falar de Deus; mas será que também sabem, como nas gerações passadas, falar com Deus?
(Família Cristã, 24 de fevereiro de 2013)