Quais são as dificuldades da oração?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /34
Enzo Bianchi

A distracção é a dificuldade habitual da nossa oração. Ela afasta da atenção a Deus e pode também revelar aquilo a que estamos apegados. O nosso coração deve então regressar humildemente ao Senhor. A oração é muitas vezes insidiada pela aridez, cuja superação, na fé, permite aderir ao Senhor, mesmo sem uma consolação sensível. A acédia é uma forma de preguiça espiritual devida ao relaxamento da vigilância e à negligência na guarda do coração.
(Compêndio do Catecismo nº 574)

Ter distracções faz parte da psique humana e é preciso muito exercício para aprender a concentrar-se, unindo a mente, o coração e o corpo. É normal que as distracções surjam mesmo durante a oração: as preocupações, os ecos da vida quotidiana, bem como as muitas presenças que habitam no nosso íntimo, emergem e manifestam-se com força assim que entramos na solidão e no silêncio necessários à oração.
Ao rezar, é inevitável encontrar distrações, mas elas não podem ser uma desculpa para não rezar: as distrações não diminuem a eficácia da oração, porque ela continua a ser um ato de amor feito com gratuidade. É certo que é preciso lutar contra elas, mas sem fazer delas uma obsessão: é preciso saber integrá-las na oração, “lançá-las em Deus” (cf. 1Pd 5,7), ou seja, transformá-las em oportunidades de oração. Trata-se, muitas vezes, de transformar as distrações em ocasiões de oração: isto faz-nos perder em unidade, mas traz-nos benefícios em riqueza.
Quanto à dificuldade a que habitualmente chamamos “aridez do coração”, também ela não deve surpreender: toda a gente conhece períodos em que, por razões diversas, já não se consegue rezar e se fica desanimado ao ponto de considerar a oração impossível. Ora, a oração não está isolada da vida concreta, mas permanece sempre a eloquência de uma relação entre dois seres: Deus e aquele que reza. Por isso, conhece tempestades e tormentas: na vida de oração, nada se ganha definitivamente e nada se perde para sempre. É preciso muita paciência consigo mesmo e muita disciplina para não ceder aos ídolos fáceis: recorrer a Deus só quando se tem necessidade, dialogar com Ele só quando se está angustiado, ter Deus presente só quando se vive uma situação poética ou estética particularmente inspirada…
O cristão não pode ser “o homem de um momento, sem raiz em si mesmo” (Mt 13,21); deve escapar ao mito da “experiência”, totalmente efémera, e tender a enraizar-se numa história com o Senhor, capaz de perdurar no tempo. Mais cedo ou mais tarde, acontece a cada um de nós aperceber-se, na oração, de uma contradição entre a própria vontade e a de Deus: são os momentos em que Deus parece distante e já não conseguimos ver claramente o seu rosto amoroso. A oração torna-se uma prova, e quanto mais se reza, mais se desencadeiam os “inimigos”, as forças hostis a Deus que habitam nas profundezas do coração ainda não evangelizado. Nestas circunstâncias, é preciso resistir à tentação de abandonar a oração, de vaguear por aqui e por ali nas garras da preguiça; em vez disso, é preciso continuar a perseverar, a oferecer a presença do corpo ocioso e rebelde ao esforço da oração. O importante – ensinou-nos Jesus – é não nos cansarmos de rezar (cf. Lc 18, 1).
(Família cristã, 14 de abril de 2013)

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