Comentário ao Compêndio do Catecismo /17
Enzo Bianchi
Pode ser um pedido de perdão ou mesmo uma súplica humilde e confiante em relação a todas as nossas necessidades espirituais ou materiais. Mas a primeira realidade a desejar é a vinda do Reino.
(Compêndio do Catecismo n. 553)
A forma de oração mais conhecida nas Escrituras e pedida pelo próprio Jesus (cf. Mt 7, 7-11; 21, 11) é a oração de petição. No entanto, é também a que mais suscitou problemas à tradição cristã, que afirmou a superioridade da oração de louvor e de ação de graças. Hoje, pelo contrário, assistimos ao seu ressurgimento sob formas que não são autenticamente evangélicas, reduzindo-a a uma atitude mágica, a uma injunção dirigida a um Deus entendido como alguém sempre disponível para satisfazer as nossas necessidades.
Ora, é preciso, antes de mais, afirmar que a petição é uma dimensão constitutiva do ser humano: o homem é petição. Esta dimensão não pode deixar de se manifestar na oração: nela, de facto, todo o ser é colocado diante de Deus. Ao dirigir-se a Deus com a petição, o crente atesta que quer receber o sentido da sua vida a partir da sua relação com Ele e confessa que não dispõe da sua existência. No fundo, portanto, por detrás de cada oração de petição cristã, há uma procura radical de sentido, que o progresso tecnológico nunca poderá superar, e que atinge diretamente não só o crente, mas também o Deus “em quem vivemos, nos movemos e existimos” (Act 17,28).
Com a petição, o crente estabelece um tempo de espera entre a necessidade e a sua realização, transfigura a necessidade em desejo. A oração de petição é, de facto, a “oficina” do nosso desejo, porque nela podemos aprender a desejar, isto é, a conhecer e a disciplinar os nossos desejos, distinguindo-os das nossas necessidades e procurando sintonizá-los com o desejo de Deus. Por outras palavras, pedimos dons que preencham as nossas necessidades, e o Espírito Santo leva-nos a invocar a Presença do Doador. Sim, a oração de petição visa efetivamente a Presença de Deus, a vinda definitiva do seu Reino, mesmo antes de obter um benefício específico: ela só é praticável no âmbito de uma relação filial com Deus, vivida sob o signo da fé.
É nesta relação que se deve situar a oração cristã de petição, que não se confunde com a oração de petição comum a qualquer forma religiosa, mas encontra a sua modalidade na hierarquia das petições presentes no “Pai Nosso” e o seu critério decisivo na oração de Jesus ao Pai. A fé e a relação filial vividas por Jesus tornam-se assim exemplares para o crente: “Tudo o que podemos legitimamente esperar e pedir a Deus, encontramo-lo em Cristo. Temos de mergulhar sempre de novo no viver, no agir, no sofrer e no morrer de Jesus, para reconhecer o que Deus promete e o que cumpre” (D. Bonhoeffer).
(Família cristã, 16 de dezembro de 2012)