Comentário ao Compêndio do Catecismo /39
Enzo Bianchi
O Pai Nosso é a «síntese de todo o Evangelho» (Tertuliano), «a oração perfeitíssima» (S. Tomás de Aquino). Situado no centro do Discurso da Montanha (Mt 5-7), retoma, sob a forma de oração, o conteúdo essencial do Evangelho.
(Compêndio do Catecismo nº 579)
O Pai Nosso é a «Oração dominical», ou seja «a oração do Senhor», porque nos foi ensinado pelo próprio Senhor Jesus.
(Compêndio do Catecismo nº 580)
O Pai-Nosso está no centro do Sermão da Montanha (cf. Mt 5-7), o primeiro grande discurso de Jesus no Evangelho segundo Mateus, aberto pelas bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12). Imediatamente depois de ter alertado os discípulos para dois riscos ligados à oração – rezar para ser visto, à maneira dos hipócritas, e desperdiçar palavras (cf. Mt 6,5-8) -, Jesus apresenta-lhes aquela que é a sua oração por excelência, ou seja, a “oração dominical”, a oração do Senhor.
Esta oração é verdadeiramente “a síntese de todo o Evangelho”, segundo a feliz definição de Tertuliano. Nela, de facto, está toda a expressão da vida espiritual de Jesus; está o traço da sua oração testemunhada nos Evangelhos; está a sua fé vivida numa relação muito especial com o Pai; está a sua expetativa do Reino; está a sua vida quotidiana marcada pela simplicidade e pela partilha; está o seu anúncio do perdão dos pecados; está o seu conhecimento de Deus e do mundo, a sua participação na vida fraterna, a sua experiência de luta contra o mal…
Lemos na versão maior do Catecismo: “Todas as Escrituras (a Lei, os Profetas e os Salmos) se cumprem em Cristo (cf. Lc 24,44). O Evangelho é esta “Boa Nova”… Ora, a oração do Pai-Nosso está no centro deste anúncio. E é neste contexto que se elucida cada uma das petições da oração legada pelo Senhor” (CIC 2763).
Afirmar o cumprimento das Escrituras em Cristo e no seu Evangelho é de importância capital para a vida cristã. Com efeito, significa reconhecer que, com toda a sua existência, Jesus fez de Deus, de uma vez por todas, uma boa notícia, porque foi, em primeira pessoa, uma exegese viva de Deus (cf. Jo 1,18: exeghésato) através das suas ações e palavras. O que Jesus disse e fez foi a derradeira narração do rosto de Deus. O que Jesus não narrou sobre Deus, não nos é lícito projetá-lo no próprio Deus, embora seja sempre forte a tentação de preencher os silêncios de Jesus com as nossas palavras…
Sim, a imagem de Deus foi-nos dada pelo próprio Deus, e essa imagem é o homem Jesus Cristo, “imagem do Deus invisível” (Col 1,15), a boa nova definitiva para todos os homens. Jesus Cristo é o Evangelho e o Evangelho é Jesus Cristo: o Pai Nosso ensina-nos esta verdade através de uma síntese extremamente eficaz.
(Família cristã, 19 de maio de 2013)