Quando é que damos graças a Deus?

Comentário ao Compêndio do Catecismo /17

Enzo Bianchi

A Igreja dá graças a Deus incessantemente, sobretudo ao celebrar a Eucaristia, na qual Cristo a faz participar na sua ação de graças ao Pai. Todos os acontecimentos se convertem para o cristão em motivo de ação de graças. ( 2637-2638; 2648 )

(Compêndio do Catecismo n. 555)

No episódio evangélico dos dez leprosos curados por Jesus, só a um deles é dirigida a palavra do Senhor: “A tua fé te salvou” (Lc 17,19); aquele que, depois de se ter visto curado, volta para agradecer a Jesus. Só quem dá graças experimenta a salvação, isto é, a ação de Deus na sua vida. E como a fé é uma relação pessoal com Deus, a dimensão da ação de graças não diz respeito apenas à forma exterior de certas orações, mas deve permear toda a pessoa. É o que Paulo pede: “Sede eucarísticos!” (Col 3,15). A fé cristã é constitutivamente eucarística, e toda a vida do crente deve ser vivida “em ação de graças” (1Tm 4,4).

A ação de graças brota do acontecimento central da fé cristã: o dom do Filho Jesus Cristo que o Pai, no seu imenso amor, concedeu à humanidade (cf. Jo 3,16). É o dom salvífico que suscita no homem a ação de graças e faz da Eucaristia a ação eclesial por excelência. “É verdadeiramente bom e justo, nosso dever e fonte de salvação, dar-vos graças sempre e em toda a parte, Pai Santo, Deus omnipotente e eterno, por Jesus Cristo nosso Senhor”: estas palavras que abrem os Prefácios do Missal Romano indicam bem o movimento perene da ação de graças cristã.

E como a Eucaristia, e nela a oração eucarística, é o modelo da oração cristã, o cristão é chamado a fazer de toda a sua existência uma ocasião de ação de graças. À gratuidade da ação de Deus para com o homem responde o reconhecimento do dom e a gratidão do homem: o cristão é aquele que “dá graças continuamente por tudo a Deus Pai, em nome do Senhor Jesus Cristo” (cf. Ef 5, 20). Assim, o culto cristão consiste essencialmente numa vida capaz de responder com gratidão ao dom preveniente de Deus: o cristão responde a este dom fazendo da sua vida uma ação de graças, uma Eucaristia viva. Na verdade, a oração de ação de graças não é apenas uma resposta pontual aos acontecimentos em que se percebe a presença de Deus, mas é a atitude radical de quem abre o tecido quotidiano da existência à ação de Deus nele.

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A Igreja, na sua sabedoria, condensou tudo isto na oração entregue ao cristão como primeiro ato do dia: “Eu Te adoro, meu Deus, e vos amo de todo o meu coração. Dou-vos graças por me terdes criado, feito cristão e conservado nesta noite”. Sim, cada dia, até ao dia da nossa morte, é para nós um dom do amor de Deus, que precede, acompanha e segue a nossa vida.

(Família cristã, 30 de dezembro de 2012)

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