Comentário ao Compêndio do Catecismo /40
Enzo Bianchi
O Pai Nosso é a oração da Igreja por excelência e é «entregue» no Baptismo para manifestar o novo nascimento para a vida divina dos filhos de Deus. A Eucaristia mostra-lhe o sentido pleno, visto que as suas petições, fundadas no mistério da salvação já realizada, e que serão plenamente atendidas na vinda do Senhor. O Pai Nosso é também parte integrante da liturgia das Horas.
(Compêndio do Catecismo nº 581)
Desde o início, as primeiras comunidades cristãs rezavam o Pai-nosso “três vezes por dia” (Didaché). A partir deste uso antiquíssimo, em todas as tradições litúrgicas do Oriente e do Ocidente, o Pai-Nosso tem um papel preponderante nos diversos ofícios que compõem a Liturgia das Horas.
Como sinal da sua absoluta centralidade e excelência na oração da Igreja, o Pai-Nosso caracteriza também a vida sacramental dos crentes. Antes de mais, esta oração é entregue ao cristão na liturgia do batismo, imediatamente antes da bênção final. Com efeito, com o batismo, o cristão recebe aquele Espírito que o habilita a invocar Deus como Pai (cf. Rm 8, 15; Gl 4, 6) e a dirigir-se a Ele com plena confiança filial (cf. Mt 7, 11; Lc 11, 13).
No que diz respeito à liturgia eucarística, o Pai-Nosso é recitado entre a anáfora (ou oração eucarística) e a comunhão, como uma oração que retoma todas as preces expressas e, ao mesmo tempo, invoca o pão do Reino, do qual a comunhão eucarística é a profecia e as primícias. O Catecismo insiste particularmente no carácter escatológico com que o Pai-Nosso é recitado na liturgia eucarística: “Na Eucaristia, a oração do Senhor manifesta também o carácter escatológico das suas petições. É a oração própria dos «últimos tempos», dos tempos da salvação que começaram com a efusão do Espírito Santo e terminarão com o regresso do Senhor. A Eucaristia e o Pai-nosso tendem para a vinda do Senhor, «até que Ele venha!» (1 Cor 11,26)” (CIC 2771-2772).
Por isso, na Eucaristia, rezamos o Pai-Nosso “na expetativa de que se cumpra a bem-aventurada esperança (cf. Tito 2, 13) e venha o nosso Salvador Jesus Cristo”. “Marana tha: vem, Senhor Jesus!” (1Cor 16,22; Ap 22,20) é a invocação que testemunha esta expetativa do cristão e da Igreja, a esposa que invoca o Esposo (cf. Ap 21,9). É a expetativa do dia em que terá lugar o banquete celeste, onde todos os homens se sentarão à mesa do Reino (cf. Mt 8,11; Lc 13,29) e o próprio Senhor virá servi-los (cf. Lc 12,37), para dar início a um banquete sem fim
Os primeiros cristãos – atesta de novo a Didaché – terminavam a celebração da Eucaristia rezando: “Venha a graça e passe este mundo… Marana tha. Amém!” Será que ainda hoje somos capazes de fazer nossa esta invocação?
(Família cristã, 26 de maio de 2013)