Há 25 anos surgiu nos Salesianos de Lisboa uma escola de música diferente, onde todos têm lugar e direito de aprender a tocar, a cantar ou dançar independentemente das suas capacidades.
S. João Bosco dizia sobre os seus oratórios que uma casa sem música era como um corpo sem alma. Há 25 anos surgiu nos Salesianos de Lisboa uma escola de música diferente, onde todos têm lugar e direito de aprender a tocar, a cantar ou dançar independentemente das suas capacidades. Pelo Musicentro passaram cerca de 12.500 alunos. Muitos deles são profissionais em áreas artísticas, atores, músicos.
Seiscentos e cinquenta alunos, dos zero, na Classe dos Bebés, aos 70 anos, frequentam o Musicentro dos Salesianos de Lisboa, escola que em 2019 completa 25 anos.“Um projeto que oferece sem preconceitos experiências musicais diversificadas num clima de abertura e enriquecimento”, explica José Morais, Diretor Pedagógico dos Salesianos de Lisboa e um dos professores que fundou a escola. “É uma escola diferente, que eu gostaria de ter frequentado enquanto estudante”, afirma o atual Diretor do Musicentro de Lisboa, Luís Peleira, que em 1994, com 21 anos, foi convidado por José Morais para dar início ao projeto.
A oferta formativa é abrangente: iniciação, formação geral, composição, história da música, classes de instrumento, classes de conjunto, técnicas de estúdio, produção musical e teatro musical. Este ano estreou a classe de Órgão de Tubos e o Ateliê de Escrita de Canções lecionado por Luísa Sobral, compositora e antiga aluna do Musicentro, tal como o irmão Salvador Sobral, vencedores do Festival da Eurovisão em 2017.
Ao longo de 25 anos, 12.500 alunos aprenderam música no Musicentro e aprenderam a dedicar-se com paixão, trabalho, rigor e disciplina. Orlando Camacho, administrador do Colégio Salesianos de Lisboa, salesiano que impulsionou a criação em 1994 e o investimento no Musicentro, acredita que a escola “tem marcado o percurso de vida de um número muito elevado de melómanos praticantes”. “Quem só conhece o Musicentro dos dias de hoje dificilmente imagina, no espaço do antigo refeitório, quatro salas com paredes de madeira, mas foi assim o início”, recorda Luís. “Rapidamente ultrapassámos as quatrocentas inscrições, já tínhamos enchido os horários até às 20h e preenchido os sábados. As ‘salas’ não comportavam mais horários e a lista de espera dos novos alunos superava os cem candidatos”, confirma Orlando Camacho.
Cristina Rogeiro, 19 anos, é aluna desde os 6 anos de idade, começou no piano clássico, frequentou técnica vocal, combos e teatro musical. “O Musicentro ensina-nos, em primeiro lugar, a ouvir, a conhecer música e a respeitá-la, que considero o mais importante antes de nos porem partituras à frente. Não me lembro de mim no colégio antes de ter entrado na música”. “Ensinou-a, fê-la descobrir coisas ignoradas, ou só pressentidas, abriu-lhe horizontes, educou-lhe o ouvido e o ser, tornou-a mais completa, mais aberta para todas as músicas de qualidade, mais exigente e mais tolerante”, confirma o pai. Nuno Rogeiro acredita que “em qualquer país do mundo desenvolvido” o Musicentro seria “uma referência internacional”. “Ali formam-se talentos, mas também generosidade e ajuda. Os mais rápidos auxiliam os mais lentos, os mais acordados ajudam os mais sonolentos, as qualidades reveladas encorajam as qualidades por revelar”, conclui.
“O Musicentro é educação pela arte. Abre horizontes e ajuda a descobrir dons e capacidades muitas vezes presentes de forma inconsciente ou incipiente. Abre horizontes também na qualidade espiritual”, defende o Diretor dos Salesianos de Lisboa, Pe. João Chaves.
São muitos os músicos portugueses ligados ao Musicentro, professores e alunos. Ângelo Freire é compositor e guitarrista, acompanha algumas das maiores fadistas portuguesas da atualidade, Ana Moura, Carminho e Mariza. O guitarrista de 30 anos afirma a importância do Musicentro no seu crescimento enquanto músico e ser humano. “Os professores são mestres para a vida. Tive a sorte de poder crescer com eles e alargar as minhas ambições sempre com os pés bem assentes na terra”.
Todas as semanas, 450 horas de aula, 15 salas de aula e 2 auditórios de que dispõe o Musicentro, 42 professores e centenas de alunos, oitenta audições por ano. Guilherme Marinho, antigo aluno e atual professor do Musicentro, guitarrista da cantora Áurea e do projeto Comédia à la Carte, lembra “as muitas horas de aulas, de ensaios”, “de audições”, “de despender o tempo necessário” até conseguir o “som certo e o mínimo de erro” e aguardar, ansioso, o “mundo lá fora”.
No Musicentro, as várias apresentações ao vivo, no ambiente da escola e no exterior, em iniciativas salesianas e em espetáculos autónomos, ajudam a formar os alunos. Nos últimos cinco anos, desde que foi criada, a Classe de Teatro Musical do Musicentro tem criado espetáculos de grande dimensão, quer pelo número de pessoas envolvidas quer pelos espaços onde foram apresentados. Ana Morais é a professora responsável. “É preciso lembrar que nos anos 90, em Lisboa, pouco acontecia nesta área e ainda menos no trabalho com jovens. Foi portanto um espaço de descoberta para muitos deles”. São já sete os musicais que o Musicentro apresentou: Outra Cidade, Grande Avenida, Protagonistas de um Sonho, A Bela e o Monstro, A Pequena Sereia, Uma História Interrompida e D. Bosco – o Musical. Cada espetáculo envolve em média cerca de 200 alunos em palco, entre alunos de Dança, Teatro Musical, Banda e Coro. Auditório Paulo VI, Aula Magna, Teatro São Luiz, Meo Arena, Teatro Tivoli, Arena de Évora, Teatro Armando Cortez são alguns dos palcos onde já atuaram.
Ter assistido ao início da formação de vários músicos e artistas com carreiras na área em Portugal, é motivo de orgulho para os professores e para a instituição. “A maioria dos antigos alunos levou muito de nós e deixou cá muito de si”, recorda o administrador. Para o Diretor do Musicentro o momento em que reconheceu nesses alunos “um talento especial” é uma “memória mágica”. “Foi e é sempre mágico, um privilégio”. “Tenho a certeza que a determinação e a capacidade de reinvenção que ajudou a percorrer o caminho até hoje, a contínua aposta na formação dos alunos, irá continuar a ajudar a formar grandes músicos mas também excelentes pessoas”, conclui Luís Peleira.
Mas o Musicentro não é uma escola só para músicos, nem para os mais dotados, é para todos. Para o Diretor Pedagógico dos Salesianos de Lisboa é importante que “todas as pessoas tenham acesso ao estudo e compreensão da linguagem dos sons”. “Qualquer menino único e irrepetível, encontra no Musicentro um espacinho capaz de o aconchegar nos dias sombrios, ou um palco onde provar a si próprio e aos outros que pode e sabe cantar. Ou ouvir. Ou tocar. Ou dançar. Ou simplesmente estar”.
Fotografias: João Ramalho e Musicentro, Fotografia de entrada: D. Bosco – O Musical apresentado, em Fátima durante a Peregrinação das Escolas Salesianas para assinalar o Bicentenário do nascimento de S. João Bosco (1815-2015)
Publicado no Boletim Salesiano n.º 572 de Janeiro/Fevereiro de 2019