Angola: a obra salesiana no Bairro da Lixeira, em Luanda

Em Luanda, os salesianos encontram os seus “diamantes” nas extensíssimas cidades de barracas onde se misturam lixo, animais abandonados, crianças descalças e gente atarefada.

Chegámos a Luanda, capital de Angola, num dia quente e húmido. Como em todos os países em vias de desenvolvimento, os contrastes económicos e sociais são muito visíveis. Em Luanda, este fenómeno é ainda mais acentuado porque o centro da cidade apresenta-se como uma metrópole. A zona marginal do mar lembra Copacabana, no Rio de Janeiro. O skyline do centro é um suceder-se de arranha-céus cintilantes que se refletem nas águas do Oceano Atlântico. Tudo muito belo e cuidado, tudo a brilhar… mas basta afastarmo-nos um pouco do centro e os bairros, que continuam a crescer na periferia, mostram uma realidade bem diferente. Cerca de oito milhões de habitantes vivem em extensíssimas cidades de barracas onde se misturam lixo, animais vadios, crianças descalças e gente atarefada.

Num destes bairros – na zona que até à independência de Portugal era a lixeira de Luanda –, habitam mais de 250.000 pessoas em casas, barracas e construções com chapas de zinco, onde não existem esgotos.

Aqui encontramos as obras salesianas mais belas e significativas de Luanda. Os salesianos estão em Angola desde os princípios dos anos 80, quando ao apelo do Reitor-Mor – padre Egídio Viganò – responderam com generosidade ao Projeto África numerosos salesianos da América do Sul: Argentina, Brasil, mas também Paraguai e Uruguai. Agora a presença dos filhos de Dom Bosco conta com 110 salesianos, 40 dos quais no ativo do ministério pastoral e 70 em formação inicial.

Na Escola Dom Bosco do Bairro da Lixeira estudam seis mil alunos da primária ao secundário

No centro em Luanda um dos arranha-céus chama-se “Palácio dos Diamantes” porque Angola é dos maiores produtores de diamantes, além de ser juntamente com a Nigéria o maior produtor de petróleo da África. Também no Bairro da Lixeira há um belo palácio dos diamantes e é dos salesianos! Pode ver-se de todo o bairro, encontra-se na parte mais alta da encosta e tem cinco andares. É a escola que diariamente recebe seis mil alunos da primária até ao secundário, que dá acesso à universidade. Os alunos sucedem-se em três turnos, não há salas de aula para todos e por isso começa-se às 7h30 da manhã com os mais pequenos e termina-se à noite às 22h30 com os alunos do secundário. De cinco em cinco horas, milhares de rapazes e raparigas sucedem-se nos mesmos bancos da escola. Mas a escola não é a única resposta dos salesianos às muitas necessidades. Há o presídio sanitário orientado por duas irmãs brasileiras e há o infantário para os pequenos, um pátio e educadoras que os mantêm ocupados durante o horário de trabalho dos pais. Há a formação profissional para os jovens que querem aprender um ofício e estabelecer-se com uma profissão determinada. Foram recentemente criados os cursos de carpintaria, técnico do ar condicionado, hoteleiro, soldador, empregado de escritório, de informática. Há a enorme paróquia com cinco capelas situadas nas localidades mais distantes, onde as crianças da catequese são mais de cinco mil. Há por fim as estruturas da rede de solidariedade social para crianças de rua.

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Alberta e o filho Carlos

Entre as muitas histórias que viemos a conhecer, merece ser narrada a de Alberta, “Tia Berta” para todos. Esta mulher angolana, de uns 50 anos bem cumpridos, tem cinco filhos seus e adotou mais três. O marido abandonou a família há bastante tempo. Não que Berta sinta a falta dele, visto que criava mais problemas do que os seus numerosos filhos. A tia Berta é um general do exército que só com o olhar mantém em respeito esta numerosa família, a que agora se juntou também uma netinha, filha da sua filha mais velha. Contou-nos como começou a aventura com o primeiro filho adotivo, Carlos, que agora tem 18 anos e é mais alto do que a mãe. Era ele um menino de 28 dias, quando os salesianos perguntaram à tia Berta se se sentia com coragem de lhe “fazer de mãe”, porque a mãe natural tinha morrido após o parto. O pai do pequeno, pedindo desculpa, mas não se sentia capaz de cuidar desta criatura frágil e desnutrida. A tia Berta toma o embrulhinho nos braços (respirava ofegantemente e via-se que a mãe, nos poucos dias de vida, não havia tido leite bastante para lhe matar a fome) e disse consigo: “Faço a minha parte e Deus fará a Sua, vejamos o que sucede”. Sucedeu um autêntico milagre! Os primeiros dias foram difíceis e incertos. Este passarinho vive ou morre? Passa uma semana, um mês, três meses… e ainda está vivo. A tia Berta já não receia por Carlos. Viverá e crescerá, repete consigo mesma. Foi assim que nós o encontrámos. Um rapaz bom, meigo e serviçal que faz parte de uma grande família em que filhos naturais e adotivos são todos iguais.

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Giampietro Pettenon/BS Itália

Fotografias: Ester Negro

Publicado no Boletim Salesiano nº 576 de Setembro/Outubro de 2019

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