Cardeal D. Ángel Fernández Artime em entrevista

“Sou uma daquelas pessoas para quem as raízes são muito importantes. Nas minhas raízes carrego um amor muito grande pela minha família, pelos meus Pais que já estão no Céu, pelas minhas origens como pescador, por ter nascido e ter sido criado numa vila de pescadores, pelas idas ao mar com o meu pai, nos meses de verão, desde os treze anos…”

O Cardeal D. Ángel Fernández Artime, Reitor-Mor dos Salesianos, em entrevista a Giuseppe Rusconi do blog Rossoporpora. Publicamos excertos da entrevista também publicada pela Agência de Notícias Salesiana.

“Teria tido muito boas hipóteses de prosseguir com êxito os seus estudos em Medicina na Universidade, com uma bolsa de estudos já assegurada. Nos meses de verão – pelo menos durante algum tempo – também poderia ter continuado a ajudar o pai na pesca no golfo da Biscaia, em frente à aldeia asturiana de Luanco. Em vez disso – no final dos estudos secundários – sentiu o chamamento religioso, tornou-se salesiano… com cargos de crescente responsabilidade até que em 2014 foi escolhido como o 10.º Sucessor de Dom Bosco, um dos santos mais populares da Igreja Católica. Hoje, D. Ángel Fernández Artime é também Cardeal da Igreja Romana, criado pelo Papa Francisco a 30 de setembro. Em derrogação do motu proprio de João XXIII de 1962, ainda não foi consagrado bispo. Presume-se que o será depois de renunciar ao cargo de Reitor-Mor, a 31 de julho de 2024, para assumir o cargo que lhe foi prefigurado pelo Papa Francisco.

Conhecemos D. Ángel em dezembro de 2022, graças à oportunidade oferecida a uns trinta vaticanistas de visitar os lugares originais do carisma salesiano em Turim e arredores. Dias agradáveis no meio da primeira neve, muitas descobertas históricas e artísticas, espirituais, sociais (as obras criadas em benefício dos jovens do Piemonte e do mundo inteiro) e até gastronómicas. No penúltimo dia, a cereja no topo do bolo: o encontro importante, no tempo e no conteúdo, com o Reitor-Mor. Cerca de dez meses depois, aqui estamos nós, diante da estação Termini, na Via Marsala, 42, onde ao redor da Basílica do Sagrado Coração – também, como Santa Maria Auxiliadora em Turim-Valdocco, desejada por Dom Bosco – está um dos mais famosos lugares salesianos na cidade de Roma.

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Na saudação pronunciada por ocasião da sua primeira Missa como Cardeal, o Pe. Stefano Martoglio, seu vigário, recordou, antes de tudo, a sua família…

Sou uma daquelas pessoas para quem as raízes são muito importantes. Nas minhas raízes carrego um amor muito grande pela minha família, pelos meus Pais – que já estão no Céu: minha Mãe há só três meses – pelas minhas origens como pescador, por ter nascido e ter sido criado numa vila de pescadores, pelas idas ao mar com o meu pai, nos meses de verão, desde os treze anos… […]

Podemos falar sobre o seu brasão?

Na primeira seção há a figura, muito querida para os Salesianos, de Jesus Bom Pastor. Para nós, o Bom Pastor encarna o ADN de um salesiano. Na segunda, está o monograma MA – Maria Auxiliadora – . Como Dom Bosco, nós, Salesianos, imploramos sempre a sua proteção. Na terceira, vemos a âncora, que para mim tem um duplo significado: por um lado está no escudo salesiano a representar a esperança e a solidez que os Salesianos devemos possuir; por outro, a âncora remete às minhas raízes de… pescador, à minha Família, à minha Aldeia.

O brasão também traz um lema: Sufficit tibi gratia mea…!

Foi uma escolha totalmente pessoal, porque expressa o que sinto e como me senti durante toda a minha vida até hoje. Como salesiano, vivi o que eu nunca teria escolhido: Provincial, também na Argentina por alguns anos, depois Reitor-Mor… Agora vivo o cardinalato por obediência a uma decisão do Santo Padre. Como disse o Senhor Jesus a Paulo: É-lhe suficiente a minha graça.

E exatamente no período da Argentina, de 2009 a 2013…

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Pois é, ali conheci o Papa Francisco quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires, nos anos 2009-2013, e quando eu era Superior de uma Província na Argentina. Nunca considerarei este conhecimento prévio como uma medalha de mérito. O meu relacionamento com o então Arcebispo de Buenos Aires era como o de tantos outros, sacerdotes e religiosos, inclusive Provinciais. Contudo, para mim era sempre agradável recebê-lo todos os anos, no dia 24 de maio, quando ele vinha à Basílica de Santa Maria Auxiliadora, no bairro de Almagro: os seus Pais tinham vivido nessa zona e foi ali onde o Papa Francisco foi batizado.

Os jovens estão no centro do carisma salesiano. Depois de nove anos como Reitor-Mor, o senhor visitou quase 120 países. Existe algo comum a todos os jovens do mundo?

Sim. As culturas são diferentes, as línguas são diferentes, as condições de vida são diferentes. Se compararmos a vida de um jovem do Camboja, com a de um de Madrid e a de jovem índio da tribo shuar do Equador…, a diferença é enorme, mesmo num mundo como o nosso, que chamamos “aldeia global”. Contudo, depois de quase dez anos de encontros em muitos países, estou mais que convencido de uma coisa: todos os jovens do mundo, quando veem um adulto que se aproxima com um olhar de amizade e coração aberto, que pensa no seu bem e se coloca ao seu serviço, revelam-se muito acolhedores. Os jovens nunca fecham as portas: têm sempre um coração aberto”.

Fonte: Giuseppe Rusconi, Rossoporpora/ANS

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