Com um pontificado marcado pela proximidade para com todos, mas, em especial, para com os mais necessitados, o Papa Francisco deixa um legado de humildade, misericórdia e diálogo.
Com palavras simples e gestos autênticos, e sempre com um sorriso cativante, Francisco recordou-nos de que a fé não é um dogma frio, mas um abraço caloroso; que a Igreja não é uma instituição rígida, mas um lar para todos.
O Papa Francisco não foi, apenas, um líder religioso, mas, sim, um verdadeiro pastor de almas. Desde o primeiro dia do seu pontificado, Francisco ensinou-nos a olhar para os mais pobres, a ouvir os que não têm voz, a abrir as portas da Igreja e, sobretudo, a abrir os nossos corações.
Na sua simplicidade escolheu caminhar entre todos os fiéis, tocar as suas feridas e mostrar, a todos, que Deus é ternura, proximidade e amor incondicional.
Defensor incansável da justiça social, Francisco levantou a sua voz contra a indiferença do mundo, chorou com os migrantes, rezou com os presos e lavou os pés dos esquecidos da sociedade. Tentando construir pontes onde havia muros, o Papa desafiou poderosos e enfrentou resistências, mas nunca recuou na sua missão.
Uma vida dedicada aos mais pobres
Jorge Mario Bergoglio, o 226.º Papa da história da Igreja, foi o primeiro Pontífice não europeu, em 1200 anos. Eleito Papa no conclave de 13 de março de 2013, o jesuíta argentino, Arcebispo de Buenos Aires, sempre foi uma figura de destaque no continente inteiro e um pastor simples e muito amado na sua diocese.
Natural do bairro das Flores, em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio nasceu a 17 de dezembro de 1936. Identificado com a educação cristã que havia recebido de seus pais, aos 17 anos, Jorge Mario Bergoglio decidiu que o sacerdócio seria o seu caminho. Após a conclusão do curso de técnico de Química, e com 21 anos, entrou no Seminário da Companhia de Jesus, onde estudou Filosofia.
Ordenado sacerdote a 13 de dezembro de 1969, o futuro Papa foi Provincial da Ordem dos Jesuítas, na Argentina, entre 1973 e 1979. Em 1992, foi designado Bispo auxiliar de Buenos Aires e, em 1998, Arcebispo Primaz da Argentina.
Jorge Mario Bergoglio iniciava, assim, um intenso trabalho, dedicado às classes populares, onde não se inibiu de denunciar as injustiças económicas e sociais.
Depois da morte de João Paulo II, no Conclave de 2005, Mario Bergoglio foi o segundo mais votado entre os cardeais, mas ainda não tinha chegado o momento de se apresentar ao mundo.
Em 2013, com a renúncia do Papa Bento XVI, a 28 de fevereiro, tiveram início os preparativos para a eleição do novo Papa e Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa.
A 13 de março de 2013, o mundo ficou a conhecer o novo pastor da Igreja, o Papa Francisco – referência a São Francisco de Assis, pela sua simplicidade e dedicação aos pobres. Recusando-se a viver no luxo do Palácio Episcopal, Francisco preferiu morar na casa Santa Marta, reafirmando o seu compromisso para com os pobres e a defesa da justiça social.
Na sua primeira viagem apostólica, Francisco visitou Lampedusa e denunciou a indiferença global em relação aos migrantes.
Um pontificado de proximidade
O Pontificado do Papa Francisco foi, sem dúvida, um dos mais transformadores da história da Igreja. Fazendo da misericórdia a sua bandeira, Francisco deu a conhecer um Deus que acolhe e que não condena; que abraça e que não exclui.
O Papa foi, também, uma voz profética num mundo marcado por desigualdades, crises e desafios globais. Chamando a atenção para temas urgentes, publicou várias Encíclicas: com a Lumen Fidei (2013) explorou a fé como luz que ilumina a vida humana, mostrando que acreditar em Deus não é um salto no escuro, mas uma experiência que dá sentido à existência; com a Laudato Si’(2015), clamou pelo cuidado da Casa Comum, lembrando que a ecologia não é uma questão secundária, mas um dever moral; com a Fratelli Tutti, convocou a humanidade para a fraternidade, rejeitando ódios e divisões; já com a Dilexit Nos (2024) refletiu sobre o amor humano e divino do coração de Jesus. As Encíclicas de Francisco são verdadeiros caminhos de esperança na história da Igreja e do mundo, que convidam toda a humanidade, não só a refletir, como, também, a agir.
O Papa Francisco foi, ainda, o Papa do encontro. Encontrou-se com os jovens nas Jornadas Mundiais da Juventude do Rio de Janeiro (2013), de Cracóvia (2016), do Panamá (2019) e de Lisboa (2023), tendo feito de cada uma um momento forte de experiência espiritual, sempre com uma mensagem de proximidade e de coragem; encontrou-se com presos a quem lavou os pés; com os doentes que abraçou sem medo; e com os pobres a quem chamou de irmãos.
Nos últimos anos do seu pontificado, face ao contexto mundial de tensões e das guerras na Síria, no Iémen, em vários países africanos e, também, na Ucrânia, Francisco lembrou à humanidade que ela se estava a autodestruir. A sua voz foi ouvida em inúmeras ocasiões, condenando a violência, pedindo o fim do armamento nuclear e apelando ao diálogo.
Em 2020, a pandemia de COVID-19 levou o Papa a rezar sozinho, durante as celebrações do Tríduo Pascal, na imensidão da Praça de São Pedro. No vazio daquela imensa praça, Francisco rezou por toda a humanidade, pedindo o fim da pandemia… e foi ouvido.
Hoje, ao olhar para o seu legado, não vemos apenas um Papa, mas, sim, um homem que encarnou o Evangelho em cada gesto, transformou corações e que desafiou consciências, fazendo-nos nos acreditar num mundo mais justo e fraterno.
O Papa Francisco e os Salesianos: uma missão de amor aos jovens
Francisco sempre demonstrou uma profunda ligação à espiritualidade e missão salesiana. Antigo aluno do Colégio salesiano Wilfrid Barón de los Santos Ángeles, da cidade argentina de Ramos Mejía, conheceu de perto a pedagogia preventiva de Dom Bosco, baseada na razão, na religião e no amor. Mais tarde, como sacerdote e Bispo, manteve uma relação de proximidade com os Salesianos, apoiando a sua missão educativa e evangelizadora, especialmente entre os mais necessitados. O seu amor pelos jovens, a sua proximidade com os mais pobres e o seu estilo pastoral simples e direto refletiram muitos dos valores que Dom Bosco sonhou para a Igreja.
Francisco foi fortalecendo, ao longo dos anos, a sua relação com os Salesianos e o seu estilo pastoral, próximo, alegre e cheio de misericórdia, foi um reflexo da espiritualidade salesiana, que continua a inspirar milhões de pessoas em todo o mundo.
De forma simples e direta, o Papa Francisco recordou que “educar é um ato de amor”, uma das máximas de Dom Bosco. Por outro lado, um dos sonhos de Francisco foi, à semelhança de Dom Bosco, criar uma Igreja onde os jovens se sentissem acolhidos, amados e protagonistas do seu futuro, exemplo disso é a sua Exortação Apostólica Christus Vivit (2019), dirigida aos jovens, que reflete muitos dos princípios salesianos.
Sopro de esperança
“A misericórdia é o verdadeiro rosto de Deus”, esta é a verdadeira mensagem que nos foi deixada pelo Papa Francisco e que ecoará para sempre nos nossos corações. Esta foi a sua bússola, a sua herança. Francisco não foi apenas um Papa, foi um irmão para os pobres, um amigo para os jovens e um pai espiritual para todos.
Hoje, choramos a sua partida, mas celebramos a sua vida. E, como ele sempre nos pediu, não deixemos que nos roubem a Esperança – ou não estivéssemos nós a viver o Jubileu da Esperança.
Descansa em paz, querido Papa Francisco.