Jornadas Salesianas de Comunicação: Educar para o uso da IA de forma crítica e ética

Cerca de 50 educadores e comunicadores salesianos participaram nas Jornadas Salesianas de Comunicação, que decorreram na última sexta-feira, dia 7 de junho, nos Salesianos de Manique. Com o tema “Inteligência Artificial: a nova fronteira da comunicação em ambiente escolar”, um grupo de oradores, que incluiu jornalistas, comunicadores e docentes, apresentou algumas noções sobre esta nova tecnologia, oportunidades, desafios e aplicações.

Durante a manhã os oradores Pe. Javier Valiente, salesiano espanhol, delegado da Comunicação dos Salesianos de Espanha; Octávio Carmo, vaticanista e jornalista da Agência Ecclesia; Joana Beleza, subdiretora de Áudio e Multimédia do Grupo Impresa; Bruna FerreiraStoryteller e Content Manager da Quidgest; e Rodrigo Castro, fundador e CEO da Educa-te, apresentaram visões sobre o impacto a Inteligência Artificial está a ter na comunicação e na educação, e em todas as áreas da atividade humana, cultura, economia, política.

Na sessão da manhã, o sacerdote salesiano Javier Valiente, que participou remotamente no encontro, apresentou uma visão salesiana para abordar algumas das questões levantadas pela Inteligência Artificial. Mais do que “uma moda”, a IA traz consigo uma “profunda mudança”, como antes trouxeram as redes sociais, a internet, antes delas, e os computadores, antes ainda, referiu.

Entre o “entusiasmo e a desorientação”, as “visões apocalípticas e acríticas”, “perigos e potencialidades”, a IA “estará cada vez mais presente”, defendeu Javier Valiente. Por isso, o tema também está na agenda da Igreja, da Congregação Salesiana e das instituições ligadas à educação.

O responsável da comunicação dos Salesianos de Espanha recordou algumas passagens de mensagens recentes do Papa Francisco, nomeadamente a mensagem para o Dia Mundial da Paz e para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Com uma visão geralmente positiva, o Pontífice aponta também aos riscos. Para o sacerdote é necessário refletir sobre o seu impacto na educação, mas “é necessário que educadores e comunicadores conheçam estas ferramentas” e envolver-se nesta mudança. “Há uma responsabilidade educativa que a IA impõe aos educadores e comunicadores que é como preparar os jovens para perceber como usar corretamente e eticamente esta tecnologia”, defendeu.

“É necessária mediação, seja do legislador, do professor ou do jornalista”

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No mesmo sentido foram as opiniões dos dois oradores que se seguiram, Octávio Carmo, jornalista da Agência Ecclesia, e Joana Beleza, jornalista, subdiretora de Áudio e Multimédia do Grupo Impresa

Desenvolver um sentido crítico é o mais importante na opinião de Octávio Carmo, para quem são óbvias as vantagens que a IA trará para a maior parte das atividades humanas, a democratização do conhecimento, os ganhos de eficiência, a poupança de recursos, a facilidade de acesso e de difusão de informação.

A necessidade de mediação com alguns públicos foi apontada por vários intervenientes como uma preocupação. Entre a proibição e a mediação, a opção mais correta é a mediação, seja do legislador, do professor ou do jornalista. Se por um lado a tecnologia torna mais fácil aceder aos dados, a verificação humana e a mediação continuam a ser necessárias, porque “é fácil chegar aos dados, não tão fácil chegar ao conhecimento”, afirmou Octávio Carmo.

Para o jornalista acreditado na Santa Sé há três principais desafios éticos que a IA coloca ao jornalismo: a dependência das plataformas, que nos torna “reféns da lógica do algoritmo”, a violação dos direitos de autor e as “alucinações”, ou erros factuais dos sistemas. A forma como o jornalismo vai garantir a veracidade da informação que difunde, ajudar a interpretar, verificar e relacionar factos, será a base de confiança que vai estabelecer com o público e a sua sobrevivência também.

Educar para o uso da IA de forma crítica e ética

Joana Beleza, subdiretora de Áudio e Multimédia do Grupo Impresa, defendeu que ignorar esta nova tecnologia fará criar, como em outras épocas, um fosso entre os mundos e, por isso, defendeu a realização de encontros e formações como esta. “É importante que jornadas como esta aconteçam”, afirmou a jornalista. A autora da newsletter semanal do Expresso “Conversas ao Ouvido”, – uma conversa desenvolvida entre a jornalista e a Woolf, um modelo alimentado pela OpenAI, – acredita na integração da IA nas nossas vidas.

Na avaliação que faz das ferramentas atuais de IA, a jornalista acredita que haverá muita evolução, nomeadamente na obrigatoriedade de publicar se houve recurso a IA para o desenvolvimento de um trabalho, uma imagem, etc. “Vão evoluir, sim, mas vamos ter uma imposição de transparência por regulamentação”, defendeu.

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Joana Beleza defende a entrada da tecnologia na sala de aula, mas “mais do que pedir tarefas que a IA pode fazer”, os professores devem ajudar o aluno a testar e questionar a IA. Na relação dos pais com os filhos e dos educadores com os alunos, defende que temos de ser o tutor, o mediador, para os filhos, para os alunos. “Educar para o uso da IA, educar para o uso de forma crítica e ética”, afirmou. Por outro lado, para os professores, e para as escolas, há uma obrigação de acompanhar esta evolução, procurar formação, conhecer mais, aprender.

 “10 mandamentos para escrever com ChatGPT”

Bruna Ferreira, Storyteller e Content Manager da Quidgest, empresa portuguesa de desenvolvimento de software, abordou o uso do Chat GPT, modelo de linguagem baseado em deep learning criado pela empresa OpenAI. A criadora de conteúdo apresentou algumas regras para tirar o melhor partido da ferramenta de Inteligência Artificial. Em “10 mandamentos para escrever com ChatGPT”, a oradora desenvolveu algumas regras práticas para gerar textos claros, precisos, relevantes, com informação verdadeira e verificada.

“A proibição é uma desresponsabilização”

Para Rodrigo Castro, engenheiro e criador da plataforma gratuita Educa-te, e dos projetos Flipped, de educação digital, e Professores do Futuro, para formação digital de professores, e Rodger, o futuro da Educação é com a IA. Num tempo em que a Educação tem muitos recursos disponíveis, o medo de uma nova tecnologia “deve fazer mover, não paralisar”, defendeu. Planeamento de aulas, planeamento de avaliação, correção de provas, gestão administrativa e colaboração entre professores são tarefas que a IA pode fazer. “O professor pode recorrer às ferramentas e avaliar, criticar, ponderar e adaptar a solução apresentada pela IA”. O uso da IA é para o engenheiro inevitável e a proibição é uma desresponsabilização. “Difícil e necessário é encontrar sistemas de controlo para proteger dos perigos”, esclareceu Rodrigo Castro.

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