Mestre José Bergant, sdb: “Um Educador Exemplar”

António Guilhermino Pires, antigo aluno salesiano, recorda José Bergant, Salesiano de Dom Bosco, formado em artes gráficas, Mestre de Tipografia durante largos anos nas Oficinas de S. José de Lisboa e em Izeda.

Como demos conhecimento no Boletim Salesiano n.º 567 de março/abril de 2018, faleceu no dia 9 de fevereiro no Hospital de Jesenice, aos 95 anos de idade, o salesiano esloveno José Bergant. O Sr. Bergant pertenceu à Província Portuguesa durante cerca de 30 anos. Veio por motivo das vicissitudes vividas no seu país durante a Segunda Guerra Mundial. Formado em artes gráficas, foi Mestre de Tipografia durante largos anos nas Oficinas de S. José de Lisboa e em Izeda. Após o regresso ao seu país, manteve o contacto com os salesianos de Portugal, que visitou pela última vez por ocasião dos Jogos Internacionais Salesianos, aqui realizados.

Publicamos o «testemunho de um seu aluno como representante de numerosos antigos alunos portugueses que gostariam de dizer muitas coisas bonitas para sempre guardadas no coração com um sentimento de profunda gratidão».

«Bergant foi um Mestre formador profissional competente, no campo das artes gráficas, sobretudo no âmbito da tipocomposição, da criatividade e da estética gráfica – um Educador exemplar em transmitir os valores autênticos da vida, um conselheiro de espiritualidade salesiana e convicto guardião do carisma da Congregação qualis esse debet.

Quando li as pequenas biografias dos primeiros salesianos caodjutores mais conhecidos, que se tornaram profissionais insuperáveis e bons mestres gráficos, já desde o tempo de Dom Bosco, na Tipografia do Oratório de Turim, logo me surgiu a ideia de comparar com eles esta figura de asceta sorridente: o Sr. Bergant. Esloveno, vindo da Itália, sereno, recolhido, magro, paradoxalmente dinâmico, mais exigente consigo mesmo do que com os outros. Corava com o esforço que fazia para dominar a exuberância do seu temperamento (como S. Francisco de Sales), respondendo com sorriso bem humorado mesmo perante as falhas, por fraqueza e contradições juvenis, embora não sendo fácil para ele a língua portuguesa.

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Surpreendentemente depressa conseguiu dominá-la na perfeição. 
Estando ainda há pouco tempo em Lisboa, onde faltava a bibiliografia técnica, iniciou a distribuição de apontamentos teóricos aos alunos e deles consegue publicar um primeiro livro em português sobre generalidades de “Tecnologia da Composição Tipográfica” pelas Edições Salesianas; depois, pouco a pouco, alguns opúsculos destinados a cada curso (cinco ao todo, todos esgotados), merecendo especial referência o da “Estética Gráfica” que estimulava a desenvolver a criatividade e atraía mais os aprendizes do quarto e do quinto anos.

Durante mais de duas décadas, foram muitos os jovens portugueses que por cinco anos aprendiam a profissão do Sr. Bergant e saíam das escolas salesianas (sobretudo Lisboa e Izeda) habilitados, com formação profissional a um nível de conhecimentos que ainda hoje não tem comparação à altura, não obstante a evolução e as novas tecnologias da comunicação gráfica. Alguns, que pouco a pouco iam terminando os seus cursos, logo encontravam emprego nas melhores empresas, devido à reputação de que gozava a preparação dada pelo Mestre J. Bergant. E muitos deles depressa passavam a ocupar e desempenhar tarefas e cargos superiores, como dirigentes. Outros criaram mesmo as suas próprias empresas. Foram alguns desses que há poucos anos o convidaram e lhe prestaram calorosa homenagem de gratidão.

Só para dar dois exemplos de sucesso dos seus antigos alunos, um destes, dos anos ’50 do século passado, sendo arquiteto, apaixonou-se pelas belas artes, goza de grande prestígio e não esconde o mérito do seu mestre Bergant que sempre o incentivou; outro, aluno dos últimos anos da sua estadia entre nós, em Izeda, no Norte, tornou-se um dos mais prestigiados empresários de arte gráfica e a sua empresa “M2” é uma das mais aprecidadas a nível nacional e internacional. Ambos me confidenciaram pessoalmente a sua mágoa pelo falecimento do Mestre Bergant, afirmando que nunca o esquecerão.

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Como eu, que tento interpretar, juntamente com eles e tantos outros a quem chegou a infausta notícia, um grande desgosto e a vontade de, juntos, dar graças ao Senhor e a Dom Bosco pelo dom deste Salesiano às nossas escolas profissionais.

Queria-se-lhe bem naturalmente, como homem bom e paciente, mesmo que tivesse de mandar repetir até que se conseguisse chegar à versão perfeita dos exercícios práticos. Em todo o tempo que tive a dita de estar a seu lado na qualidade de seu ajudante, sempre me edificou não tanto com as palavras, mas sobretudo com o exemplo de bondade e de piedade vivida. Um verdadeiro espírito consagrado à maneira de Dom Bosco.

De temperamento forte, vontade firme, decisões convictas a par de uma humildade desconcertante, simplicidade e disponibilidade surpreendente para ajudar e socorrer os mais necessitados. Era assim o senhor Bergant em Lisboa, quando o conheci, em fins dos anos 40 até 1958 do século passado. Depois as relações tornaram-se pouco frequentes, mas sempre cordiais e algumas vezes por escrito.

Em meu nome e em nome dos antigos alunos portugueses do Senhor Jože Bergant, reitero profunda admiração que é devoção para com um apóstolo educador Salesiano que, certamente do Céu, continua a interceder por todos aqueles que eram e continuarão a ser seus verdadeiros discípulos amigos. Que a sua intercessão juntamente com as nossas orações obtenham para a Congregação e para a Igreja outras vocações generosas como foi a sua», António Guilhermino Pires. 

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