A ligação entre o Papa Francisco e os Salesianos é inegável e transcende gerações. Enraizada em valores partilhados, esta ligação é visível na dedicação à educação, à evangelização e ao serviço aos jovens, em especial aos mais necessitados.
Desde os seus anos de formação, até ao seu Pontificado, grande parte da história do Papa Francisco reflete a influência do carisma salesiano.
O pai do futuro Papa Francisco, nasceu Piemonte, a terra natal de Dom Bosco. Mario Giuseppe frequentou a Basílica de Maria Auxiliadora, construída por Dom Bosco, numa grande proximidade com os Salesianos. E, quando imigrou para a Argentina, em 1929, levou consigo uma carta de recomendação dirigida aos Salesianos de Buenos Aires.
Ao chegar à Argentina, hospedou-se com os Salesianos da Igreja “Mater Misericordiae”. Foi também aí que Mario Giuseppe Francesco Bergoglio conheceu Regina Maria Sivori, com quem se casou, a 12 de dezembro de 1935, na Basílica salesiana de Maria Auxiliadora-São Carlos. Tiveram cinco filhos, sendo Jorge Mario o mais velho.
Esta família, unida por Maria Auxiliadora e Dom Bosco, viu o seu filho, Jorge Mario Bergoglio, ser batizado por um padre salesiano, o Pe. Pozzoli, no dia 25 de dezembro de 1936, no batistério da Basílica de Maria Auxiliadora-São Carlos, em Almagro. Atualmente, pode ser vista, nesse local, uma placa que indica que foi ali que teve início a caminhada, dentro da Igreja, do homem que entraria para a história como o 266ª Papa.
Anos mais tarde, o Pe. Pozzoli, que já havia apresentado os seus pais, cuidou para que Jorge Mario e Óscar Adrián, o seu segundo irmão, frequentassem, como internos, a escola salesiana de Ramos Mejía, próxima de Buenos Aires. Jorge Mario Bergoglio frequentou o sexto ano do ensino fundamental (Classe 6B) e, a sua presença naquela casa salesiana, ainda que só por um ano, foi crucial. Sob a influência do trabalho dos Salesianos de Dom Bosco, surgiu a sua vocação para o sacerdócio. Conforme relatado pelo próprio Papa Francisco: “Senti a vocação pela primeira vez em Ramos Mejía, no meu sexto ano escolar, e tratei disso com o famoso ‘caçador’ de vocações, Pe. Martínez, sdb”. Por outro lado, e tal como referiu o Papa Francisco, numa carta enviada em 1990, ao, então, Reitor-Mor dos Salesianos, desta “cultura católica”, que se formou nele durante o tempo em que frequentou o colégio salesiano, destaca-se um aspeto que, mais tarde se viria a tornar evidente durante o seu Pontificado: “a importância do sentir”. “Eles educaram ali o meu sentimento. Os Salesianos têm uma aptidão especial para isto. Não me refiro ao ‘sentimentalismo’, mas ao ‘sentimento’ como valor do coração.”, referiu o Santo Padre.

Vocação sacerdotal: uma escolha com sentido
Após um longo período de formação dentro da Companhia de Jesus – marcado pela turbulência social na Argentina e pelas grandes reformas do Concílio Vaticano II -, Jorge Mario Bergoglio foi ordenado sacerdote, a 13 de dezembro de 1969, na capela do Colégio Máximo.
Em 1976, quando desempenhava as funções de Superior Provincial dos Jesuítas, na Argentina (1973-1979), o Pe. Bergoglio deparou-se com o declínio das vocações, para coadjutores jesuítas. Depois de conhecer Artémides Zatti, coadjutor salesiano, pediu a sua intercessão para solucionar aquele problema. O primeiro jovem coadjutor entrou em julho de 1977, seguido por outras novas vocações. Numa carta que escreveu, em 1986, o Pe. Bergoglio afirmou: “desde que começamos as súplicas ao Sr. Zatti, 18 jovens coadjutores entraram e perseveraram”.
São Artémides Zatti foi canonizado pelo Papa Francisco, em 2022.
Próximo de Dom Bosco
Ao longo de todo o seu Pontificado, o Papa Francisco expressou, em diversas ocasiões, a sua admiração por Dom Bosco, bem como a sua proximidade com os Salesianos: recordemos a visita, em 2015, à Basílica de Maria Auxiliadora em Turim; ou a nomeação para Cardeal, em 2023, do então Reitor-Mor dos Salesianos, Pe. Ángel Fernández Artime – que participará, nos próximos dias, no Conclave que elegerá o novo Papa.

Mais recentemente, e durante o Capítulo Geral 29, que elegeu o Pe. Fabio Attard como novo Reitor-Mor dos Salesianos, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem aos capitulares, agradecendo pelo bem que fazem em todo o mundo: “Queridos irmãos, agradeço-vos pelo bem que fazeis em todo o mundo e encorajo-vos a continuar com perseverança. Abençoo de coração a vós e aos vossos trabalhos capitulares, bem como aos irmãos espalhados pelos cinco continentes, e peço, por favor, que rezeis por mim. Maria Auxiliadora vos acompanhe sempre”.
De forma simples e direta, o Papa Francisco recordou que “educar é um ato de amor”, uma das máximas de Dom Bosco. Por outro lado, um dos sonhos de Francisco foi, à semelhança de Dom Bosco, criar uma Igreja onde os jovens se sentissem acolhidos, amados e protagonistas do seu futuro, exemplo disso é a sua Exortação Apostólica Christus Vivit (2019), dirigida aos jovens, que reflete muitos dos princípios salesianos.
A ligação entre o Papa Francisco e os Salesianos é mais do que uma recordação do passado; é um testemunho vivo de uma missão partilhada.
Fonte: ANS e David Franco Córdova, especialista em História Salesiana no Peru
Fotos: ANS e @Servizio Fotografico – L’Osservatore Romano